domingo, 11 de setembro de 2011

CRÍTICA DE ARIANO SUASSUNA ( SECRETÁRIO DE CULTURA ) SOBRE O FORRÓ ATUAL

"'Tem rapariga aí? Se tem, levante ...a mão!'. A maioria, as moças,
levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase
todas muito jovens (pelo menos um terço de adolescentes), o vocalista
da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas
(dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são 'gaia',
'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena
aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas
se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos
70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades
em deixar a cidade.

Para uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas
bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque
este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a
dizer alguns títulos, vamos lá: 'Calcinha no chão' (Caviar com
Rapadura), 'Zé Priquito' (Duquinha), 'Fiel à putaria' (Felipão Forró
Moral), 'Chefe do puteiro' (Aviões do forró), 'Mulher roleira' (Saia
Rodada), 'Mulher roleira a resposta' (Forró Real), 'Chico Rola' (Bonde do
Forró), 'Banho de língua' (Solteirões do Forró), 'Vou dá-lhe de cano de
ferro' (Forró Chacal), 'Dinheiro na mão, calcinha no chão' (Saia Rodada),
'Sou viciado em putaria' (Ferro na Boneca), 'Abre as pernas e dê uma
sentadinha' (Gaviões do forró), 'Tapa na cara, puxão no cabelo' (Swing do
forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta 'desculhambação' não é exatamente as
bandas, ou os empresários que as financiam, já que na grande parte
delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que
investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o
turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia,
quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas,
em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo
folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As
estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das
bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam
muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista
ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos
alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o
regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e
relevou o primitivismo estilístico. Pior, o glamour, a facilidade
estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos
políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia,
que, por sua vez, dominava o governo.

Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em
popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos
do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno
lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma
banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade,
com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas)
pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de
ordem. Quando canta uma canção (canção??!!!) que tem como tema uma
transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É
vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está
muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por
tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns
poucos anos."

Ariano Suassuna

Observação:



O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa

aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda

Calipso, que ele achava (e deve continuar achando, claro) de mau

gosto. Daí mostraram a ele algumas letras das bandas de

'forró', e Ariano exclamou: 'Eita que é pior do que eu pensava'.

Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou. Realmente, alguma

coisa está muito errada com esse nosso país, quando se levanta a mão

pra se vangloriar que é rapariga, cachaceiro, que gosta de puteiro, ou

quando uma mulher canta 'sou sua cachorrinha', aonde vamos parar? Como

podemos querer pessoas sérias, competentes e de bom gosto? E não

pensem que uma coisa não tem a ver com a outra não, pq tem e muito! E

como as mulheres querem respeito como havia antigamente? Se hoje elas

pedem 'ferro', 'quero logo 3', 'lapada na rachada'? Os homens vão e

atendem.

Vamos passar essa mensagem adiante, as pessoas não podem continuar

gritando e vibrando por serem putas e raparigueiros não. Reflitam bem

sobre isso, eu sei que gosto é gosto... Mas, pensem direitinho se

querem continuar gostando desse tipo de 'forró' ou qualquer

outro tipo de ruído, ou se querem ser alguém de respeito na vida!





--
(enviado por José Cavalcante ARNAUD)

3 comentários:

lb disse...

Caro Arnaud.

O Mundo está de cabeça pra baixo.

O Dr. Luiz Chaves e Mello, em seu livro "O TELVIDEO" escrito a mais de 60 anos, fez previsão de toda esta anarquia reinante em nosso querido nordeste.

Fazer o que? ..."chupa que é de uva"

Jocelino Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jocelino Neto disse...

Permitam-me um apontamento.

Este texto tem sido atribuído a Ariano Suassuna, entretanto é de autoria do jornalista José Teles sendo publicado originalmente (segundo o próprio) na coluna Toques Digitais do Jornal do Commercio online, em 7 de maio de 2008.

Existem outros textos no qual o crítico musical aborda o tema - como ele intitula - "fuleiragem music". Seguem alguns:

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/
2011/04/08/mudernos-tinhoroes-e-a-fuleiragem-music/

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/
2011/05/08/pequena-historia-da-fuleiragem-music/

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/
2011/06/04/368/

http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/
2011/06/05/ate-tu-arcoverde/

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