quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A RELIGIÃO EM CRATEÚS!


Pelas raízes do latim, Religião significa “religar”. Religião é, portanto, o mergulho que o ser humano realiza no amoroso lago da transcendência, rumo ao Infinito. Nesse sentido, todos os humanos nadam ou estão aptos a nadar nas águas cristalinas da religião.

Em Crateús, embora existam poucos registros, a tradição oral assegura que os primeiros seres a realizarem essa experiência de ‘religação’ foram os índios: os Poti-Jaras, depois Poti-Guaras, que usavam a terra como o palco em que dançavam em honra do seu ser supremo, o Deus Tupã. Dos Potiguaras foi extraído o nome “Poti”, que significa ‘rio pequeno’, afluente de um grande rio.

Porém, aqui chegou o homem branco e intentou um processo de dizimação da história, das raízes e da cultura indígenas. (O tio Zezé registrou, em seu livro História da Paróquia de Crateús, um depoimento de Heleno Sabóia Barros, cidadão do Monte Nebo, que narra como foram traiçoeiramente eliminados os nativos daquela região. Uma pequena gruta – apelidada de “gruta dos caboclos” ou “a furna dos índios” - juntamente com algumas ossadas, é o único monumento-relíquia à cultura indígena).

Uma baiana chamada Luíza, com esperteza de coelho e passos firme como a rocha, se apoderou deste território e erigiu uma capela em louvor ao baiano Senhor do Bonfim, cuja imagem aqui chegou sobre os ombros de escravos.

Por muito tempo, esta freguesia esteve eclesiasticamente sob jurisdição maranhense. Só vinte e dois anos antes de ser elevada à categoria de cidade é que a nossa Paróquia vinculou-se hierarquicamente à Igreja do Ceará.

Porém, não só em torno da Cruz – símbolo do catolicismo – se reuniram os seres para dar vazão à religiosidade. A partir da quarta década do século passado, através de outras Instituições, começaram a ganhar corpo as mais diversas facetas de manifestação religiosa. As Igrejas Evangélicas se proliferaram. Hoje, há dezenas espalhadas pelos mais variados bairros da urbe.

Em alguns casos, esse conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões, sob cada rótulo esotérico específico, recebeu o petardo da hostilidade ou teve que enfrentar as barrancas da adversidade, como foi o caso da Maçonaria, por exemplo. Embora não seja uma religião, a Maçonaria é religiosa, pois prega a prevalência do espírito sobre a matéria e reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual dá o nome de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.

Conta o Egbert Torres Martins, empresário do ramo de combustíveis e um dos maçons mais antigos da nossa cidade, que na década de 1950, quando foi fundada a primeira Loja Maçônica de Crateús, houve um princípio de movimento hostil. O então vigário paroquial, o saudoso Padre Bonfim, zeloso guardador da ortodoxia católica, peregrinou pelos bairros da cidade insuflando os fiéis a apedrejarem o prédio do templo maçônico – que funcionaria na Rua Coronel Jiló. Sucede que os maçons se articularam junto às autoridades estaduais e o Secretário de Segurança Pública fez chegar às mãos do Monsenhor José Maria Moreira do Bonfim um documento em que o responsabilizava por qualquer dano ou ato atentatório à integridade dos membros da Maçonaria. E o diligente pastor viu-se obrigado a realizar um novo périplo pelas casas dos fiéis desfazendo a orientação anterior...

O certo é que, por ocasião dos atuais festejos, a cidade acariciada pelo rio Poti celebra o ecumenismo. Católicos, protestantes, crentes, ateus, testemunhas de Jeová, admiradores de Kardec, freqüentadores dos terrenos de umbanda, militantes dos diversos grêmios de crença e apreciadores das causas do espírito de todos os matizes cultivam uma respeitosa relação.

O principal, o que importa, o maior dos mandamentos, como bem ensinou o Jovem de Nazaré, é o amor. E isso nos faz lembrar o famoso diálogo entre o frei brasileiro Leonardo Boff e o iluminado líder tibetano Dalai Lama: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. (...) É aquela que te faz melhor, mais compassivo, mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável.. Mais ético… A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião…”


Que este centenário faça de cada crateuense um dedicado militante da verdadeira religião, aquela que nos religa ao Infinito e nos torna mais próximos da finitude humana, ou seja, nos torna melhores!


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)


*****************************************************************

Caro Junior Bonfim,

Sobre a "estoria" da fundação da loja maçônica.

Em 1970, quando fui admitido na confraria, eu entrevistei dois personagens que viveram este momento:

Edmar Lopes Martins,um dos fundadores da Loja e meu cunhado, e José Maria Moreira do Bomfim, Pe. Bomfim e meu tio.

Os fundadores da Loja Maçonica Deus e Crateus nº 20, sofreram sim, por parte do Vigário, Pe. Bomfim (pupilo de Dom Jose Tupinambá da Frota) forte campanha reacionária a instalação da Loja Maçonica mas, tudo do púlpito da Matriz do Senhor do BOM FIM.

Nem O Sr. Edmar Lopes Martins e nem o Pe. Bomfim, narraram esta intenção de apedrejamento do prédio aonde a Loja funcionou cerca de 10 anos. Tal comportamento não era próprio do Pe. Bomfim e nem do pacato povo Cristão de Crateus.

Enfim, caro JB, fui secretario da amada Deus e Crateus nº20, por mais de 12 anos, e procurei no acervo da Loja, li Atas, deste a fundação e outras datas pertinentes, e não encontrei nenhum registro sobre o assunto e nem tão pouco sobre a intervenção da Secretaria de Segurança Publica do Ceará.

Tudo fora intriga das oposições, que perdurou até os últimos dias da sua gloriosa VIDA.

obs: a Educação de Crateus deve-se a quatro entidades: Luiz Bezerra, José Maria Moreira do Bomfim, Luiz de Araujo Melo e Maria Delite Menezes Teixeira.

O resto, é o resto.

(Luiz Bonfim)

2 comentários:

lb disse...

Caro Junior Bonfim.
Sobre a "estoria" da fundação da loja maçonica.

Em 1970, quando fui admitido na confraria, eu entrevistei dois personagens que viveram este momento:

Edmar Lopes Martins,um dos fundadores da Loja e meu cunhado, e José Maria Moreira do Bomfim, Pe. Bomfim e meu tio.

Os fundadores da Loja Maçonica Deus e Crateus nº 20, sofreram sim, por parte do Vigário, Pe. Bomfim (pupilo de Dom Jose Tupinambá da Frota) forte campanha reacionária a instalação da Loja Maçonica mas, tudo do púlpito da Matriz do Senhor do BOM FIM.

Nem O Sr. Edmar Lopes Martins e nem o Pe. Bomfim, narraram esta intenção de apedrejamento do prédio aonde a Loja funcionou cerca de 10 anos. Tal comportamento não era próprio do Pe. Bomfim e nem do pacato povo Cristão de Crateus.
Enfim, caro JB, fui secretario da amada Deus e Crateus nº20, por mais de 12 anos, e procurei no acervo da Loja, li Atas, deste a fundação e outras datas pertinentes, e não encontrei nenhum registro sobre o assunto e nem tão pouco sobre a intervenção da Secretaria de Segurança Publica do Ceará.

Tudo fora intriga das oposições, que perdurou até os últimos dias da sua gloriosa VIDA.
obs: a Educação de Crateus deve-se a quatro entidades: Luiz Bezerra, José Maria Moreira do Bomfim, Luiz de Araujo Melo e Maria Delite Menezes Teixeira.
O resto, é o resto.

Anônimo disse...

Caro Luiz Bonfim, Salve!
Sobre a história da maçonaria em Crateús, pouco ou nada sei, lembro-me de meu pai fazer referência a forte oposição "do padre" em face ao caráter dogmático do Catolicismo. No arco do tempo constitui fato tão longínquo que para ingressar na Ordem recorreu a Loja de Camocim, corria então o ano de 1948. Também quanto ao maçom mais antigo da Crateús: Egbert Torres Martins, (suponho), era também o mais brilhante jogador de basquete, titular absoluto do incipiente esporte praticado a época, junto à quadra do Tiro de Guerra 251.
Isto posto, segue-se que o motivo principal de meu comentário se cinge a sua colocação : “obs: a Educação de Crateus deve-se a quatro entidades: Luiz Bezerra, José Maria Moreira do Bomfim, Luiz de Araujo Melo e Maria Delite Menezes Teixeira. O resto, é o resto. (Luiz Bonfim)”
Sem dúvida, o pai do Thales, nosso Prego Dourado através de seu Educandário, foi emérito educador e merecedor de todas as honras, os demais, ignoro, mas citados por você certamente merecerem o mesmo crédito, contudo, finalizar com “O resto, é o resto” (Sic), é no mínimo não haver convivido ou desconhecimento da história cultural de Crateús nas décadas de 40 e 50, visto a impropriedade e injustiça na lacuna do nome de FRANCISCA ROSA.
Não tome por bom minha afirmação, vá às fontes deste rico período, argua a Norberto Ferreira Filho, a José Lins de Albuquerque, aos descendentes de João Melo, de Morais Rolim, constate e se permita a um bon fim em breve e profícuo verniz sobre o passado que se faz presente em ilustres crateuenses, todos seus afilhados e ex-alunos do Instituto Santa Inês.
Cordialmente,
Murilo