sábado, 1 de outubro de 2011

SEREIA DE OURO





Ontem à noite, atendendo convite do Ministro Valmir Campelo, estivemos na solenidade de outorga da Sereia de Ouro 2011. A comenda é o mais cobiçado laurel cearense, o Prêmio Nobel das terras Alencarinas.

Vários crateuenses prestigiaram a festa, que contou com a presença de expressivos nomes do mundo das artes, das lides jurídicas, do universo da mídia, da seara política e da messe empresarial.

O ministro Valmir Campelo sensibilizou a todos ao proferir um discurso emocionado e emocionante, em que lembrou suas raízes e os valores recebidos da instituição familiar, que foram essenciais à sua exitosa trajetória pública.

Veja a matéria de hoje do Jornal Diário do Nordeste:


Personalidades que se destacam pela ética, exemplo de cidadania e trabalho social foram laureadas, ontem, pelo Troféu Sereia de Ouro que está em sua quadragésima primeira edição. A Comenda, instituída pelo Sistema Verdes Mares, reconhece, a cada ano, a trajetória de quatro personalidades cearenses que contribuíram para o desenvolvimento do Estado, demonstrando talento e operosidade.

Em 2011, foram condecorados o ministro do Tribunal de Contas da União, Valmir Campelo Bezerra, o empresário Everardo Ferreira Telles, o jornalista Fernando César de Moreira Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano Façanha Farias. Pela terceira vez realizada no Theatro José de Alencar, a solenidade teve a participação do senador Fernando Collor de Mello que fez a entrega do primeiro Troféu da noite ao membro do TCU, Valmir Campelo. Em seguida, o governador do Ceará, Cid Ferreira Gomes, repassou a Comenda às mãos do empresário Everardo Telles.

Já o jornalista Fernando César Mesquita foi laureado pelo presidente do Senado, José Sarney. Por último, o destaque no mundo das artes, Luiz Hermano Façanha, acolheu a honraria entregue pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Asfor Rocha. Muito emocionado, o ministro Valmir Campelo enunciou, em nome de todos os homenageados, que "a celebração se destaca no rol das ocasiões especiais".

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OS DISCURSOS

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HONRARIA E RESPONSABILIDADE

Minhas senhoras,
Meus senhores

É com muita alegria que o Sistema Verdes Mares reúne hoje a sociedade cearense para celebrar a quadragésima primeira edição da solenidade de entrega do Troféu Sereia de Ouro. Instituído pelo chanceler Edson Queiroz, o Troféu homenageia quatro personalidades que se destacam pelo trabalho produtivo, pelo êxito profissional, pela ética e pelo exemplo de cidadania. Neste ano, foram distinguidos com a comenda o ministro Valmir Campelo, o empresário Everardo Telles, o jornalista Fernando César Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano. A Sereia de Ouro é um Troféu respeitado e ambicionado. A relação dos sereiados sugere um caleidoscópio da história do Ceará, revelando imagens de homens e mulheres que se distinguiram em variadas atividades, demonstrando talento, operosidade, amor pela causa pública, responsabilidade social e sensibilidade artística. Pela qualidade de seus respectivos trabalhos, os sereiados merecem permanecer na memória da sociedade cearense como seus heróis e beneméritos.

Valmir Campelo Bezerra é ministro do Tribunal de Contas da União, tendo sido o primeiro cearense a exercer a Presidência dessa Corte Superior. Como magistrado, destaca-se pela serenidade nos julgamentos e pela defesa intransigente dos bens e recursos do patrimônio da União Federal. Participou, como deputado, da Assembleia Nacional Constituinte e também cumpriu o mandato de senador representando Brasília. Antes, exerceu vários cargos nos quais o brilho do desempenho o credenciou para funções mais elevadas na administração pública, tendo sido merecedor de condecorações e honrarias.

Everardo Ferreira Telles comanda o Grupo Ypióca há três décadas e meia tendo multiplicado os negócios da família, da qual ele representa a quarta geração empresarial. Enquanto são poucas as empresas nacionais centenárias, o Grupo Ypióca pode ter o orgulho de relatar para o Brasil uma trajetória ininterrupta de 165 anos. Tal feito só foi possível pela dedicação de Everardo, que modernizou a empresa, preparando-a para a competição de mercado, de modo que exporta seus produtos para mais de 40 países nos cinco continentes.

Fernando César de Moreira Mesquita é um jornalista vocacionado, que deixou Fortaleza em busca de horizontes profissionais que se abriram em Brasília. Foi e venceu. Além de trabalhar em veículos de imprensa de expressão nacional, ocupou relevantes cargos públicos, como governador do Território Federal de Fernando de Noronha, secretário do Meio Ambiente e Turismo do Estado do Maranhão, secretário executivo do Conselho das Zonas de Processamento de Exportação. É responsável pela comunicação social do Senado e presidente da Casa do Ceará em Brasília.

Luiz Hermano Façanha é um filho de Cascavel que adora viajar em busca de elementos para compor e desenvolver suas criações como artista plástico. Participou de duas Bienais Internacionais de São Paulo e expôs no Museu de Arte de São Paulo - Masp, tendo realizado inúmeras exposições individuais e coletivas. Suas obras, divididas entre esculturas, gravuras e relevos, podem ser apreciadas em museus e coleções particulares de prestígio. Em 2008, foi lançado um livro sobre sua obra, o que consagra seu nome com a desejada projeção nacional do fechado circuito da arte contemporânea.

Parabéns Sereiados.

Agradecemos a presença das autoridades e dos amigos que participam desta solenidade.

Obrigada.

Dona Yolanda Queiroz
Presidente do Grupo Edson Queiroz


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TRIBUTO À COMPETÊNCIA



A outorga do prestigioso "Troféu Sereia de Ouro" e a designação para agradecer a expressiva homenagem, em meu nome e em nome do grupo de agraciados, representam dupla honraria.

Sejam, portanto, as minhas palavras iniciais de sincero agradecimento ao Sistema Verdes Mares, nas pessoas de dona Yolanda Queiroz e o chanceler Airton Queiroz, bem assim à comissão julgadora incumbida da dignificante escolha, nesta quadragésima primeira edição do valioso prêmio.

Agradecimento que, naturalmente, é extensivo a todos os servidores desse exitoso Sistema, nas figuras dos renomados jornalistas Edilmar Norões, Pádua Lopes e Wilson Ibiapina.

Não poderia faltar aqui também um gesto de reconhecimento e gratidão a todas as personalidades que anteriormente tiveram o privilégio de receber idêntica homenagem.

Certamente, os agraciados de outrora viveram momentos festivos e felizes como os que estamos vivendo nesta noite, de doce encanto e de júbilo incontido, quando os corações se adornam de contagiante euforia, a transmitir para as palavras indisfarçável emoção.

Na vida, algumas ocasiões há que jamais perdem a singularidade. A celebração de hoje se destaca nesse rol de situações especiais.

Presentes neste ato solene, e detentores do mesmo significativo preito, o empresário Everardo Telles, o jornalista Fernando César Mesquita e o artista plástico Luiz Hermano.

A companhia de figuras tão eminentes e respeitadas nesta elevada comemoração demonstra o alto significado da comenda, instituída em 1971 por Edson Queiroz, com o objetivo de homenagear personalidades cearenses que se destacaram nos respectivos setores de atuação e deram sua contribuição ao desenvolvimento do Estado do Ceará.

Ser contemplado com o "Troféu Sereia de Ouro" suscita em mim, e evidentemente nos demais condecorados, sentimentos sinceros e profundos. Primeiramente, de gratidão pela significativa homenagem. Depois, de orgulho e honra, por recebermos condecoração criada pelo empresário Edson Queiroz, cuja obra grandiosa vem tendo continuidade graças à destacada liderança e competência de dona Yolanda Queiroz, atributos esses colocados diariamente a serviço de um conglomerado empresarial que se tornou orgulho para o Estado do Ceará e para o Brasil.

Aliás, não foi sem razão que, em 2008, tivemos um acontecimento marcante para o País e, em particular, para a mulher brasileira, quando a dona Yolanda, na qualidade de presidente do Grupo Edson Queiroz, recebeu da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos o prêmio personalidade do ano.

Foi a primeira mulher brasileira a merecer a elevada honraria, desde a instituição do preito 39 anos antes, enquanto o Grupo Edson Queiroz passou a ser o primeiro da Região Nordeste do Brasil reconhecido por aquela organização binacional como instrumento para o desenvolvimento dos negócios entre os dois países.

Trata-se, sem dúvida, de justa distinção para a mulher e empresária de inegável destaque como executiva à frente de um respeitável e bem-sucedido grupo de negócios, privilégio que naturalmente se estendeu à memória do seu saudoso esposo Edson Queiroz.

Cada um de nós, os agraciados, nos sentimos altamente distinguidos, e este momento ficará na nossa memória como um dos maiores acontecimentos de nossas vidas.

É que o "Troféu Sereia de Ouro", pleno de significado, nos é conferido por organização empresarial das mais respeitáveis e respeitadas do País, responsável em grande parte pelo progresso do Ceará e do Brasil, gerando significativas riquezas e expressivo número de empregos, sob o comando seguro e competente de dona Yolanda, com a administração capaz e cuidadosa de seu filho, o chanceler Airton Queiroz, e ainda com o valioso apoio de suas filhas Renata, Lenise e Paula.

Graciliano Ramos ensinou que a palavra não foi feita para brilhar, como ouro falso, mas para dizer. Então, aqui estou para dizer. Dizer pouco, mas dizer o que acho deva ser dito, numa ocasião tão especial como esta.

Em 2011, estão sendo laureados com o "Troféu Sereia de Ouro" um empresário, Everardo Telles, um jornalista, Fernando César Mesquita, um artista plástico, Luiz Hermano, e um magistrado, Valmir Campelo. E dado o caráter solene deste evento, eu não poderia deixar de tecer algumas considerações a respeito dos homenageados.

Sobre Everardo Telles, não é difícil falar. Afinal, trata-se de executivo dos mais conceituados do País, estando há quase 40 anos à frente do Grupo Ypióca, a mais antiga empresa familiar brasileira, fundada em 1846, com a vinda de Dario Telles de Menezes para o Brasil, há pouco menos de 170 anos.

A Ypióca, que é pioneira na produção industrial de aguardente de cana - a nossa consagrada cachaça -, é líder na produção da bebida no território nacional, com cerca de 30 produtos em linha, conseguindo ainda exportar para mais de 40 países, com um sucesso absoluto de venda.

Portanto, a premiação de Everardo é o merecido reconhecimento por todo esse bom êxito como administrador e empreendedor, o que se deu à custa de muita disciplina, paixão e respeito pela consagrada empresa, como ele mesmo costuma contar, com indisfarçável sentimento de dignidade pessoal.

E o que dizer de Fernando César Mesquita? Renomado jornalista, conseguiu com inteira justiça o respeito e a admiração de todos que conhecem a sua magnifica trajetória, culminando agora por ser galardoado com o "Troféu Sereia de Ouro", com todo merecimento.

Ao longo de sua extraordinária carreira, plantou um consistente alicerce de realizações que avultam o invejável currículo de homem público, honrado, competente e dedicado, que todos aprenderam a reverenciar, atuando sempre com inestimável esmero e correção nos diversos e importantes cargos e funções que exerceu.

Foi assim, entre outros, como porta-voz do governo do presidente José Sarney, como primeiro governador civil do extinto Território de Fernando de Noronha, primeiro presidente do Ibama, de cujo projeto de criação foi autor, secretário de Meio Ambiente e Turismo do Estado do Maranhão, secretário de Comunicação Social do Senado Federal, onde implantou a TV Senado, e, por último, como presidente da Casa do Ceará.

Sem dúvida, trata-se de excepcional figura, que soube construir uma sólida e frutífera estrada, com singular talento e admirável sensibilidade.

É um homem cujo trabalho tem como resultado uma reconhecida folha de relevantes serviços prestados ao País, repleta de virtudes e de força moral, moldada com a sensatez e a sabedoria de quem conseguiu como ninguém construir vínculos firmes e perenes, próprios da alma nordestina.

E quanto a Luiz Hermano, é muito fácil justificar a sua escolha como sereiado, visto que o nome fala por si mesmo, reconhecido por todos como um dos mais importantes artistas brasileiros da atualidade, consagrado pela crítica por sua dedicação às fascinações da arte, como escultor, gravador, desenhista e pintor.

Tal qual um missionário, está voltado integralmente ao sacerdócio da criação, credenciado por uma história de valor e louvado pelo fulgor da criatividade.

Suas obras de arte são mistérios de imagens e formas que nos propiciam a descoberta de uma linguagem livre e dinâmica.

Obras de arte que testemunham as emoções, as razões, as crises e as construções, que marcaram épocas pelas quais passou a humanidade.

Trazem formas repletas de personagens, de cenários, de vivências, para dizerem o que vai no coração e na mente do artista.

Repercutem uma das funções básicas da arte, que é nos fazer discernir pensamentos e percepções que por outros meios não seria possível, nos levando a praticar o saudável e edificante exercício do olhar, de forma que, depois disso, jamais voltemos a ver o mundo como antes.

Quanto a mim, tenho dificuldade em comentar sobre as razões que me proporcionaram tamanha honraria. Mas imagino que o objetivo da escolha seja, na verdade, exaltar a atuação de tantos cearenses que, ao longo da vida, quer no exercício de mandatos eletivos, quer no desempenho da magistratura, se dedicaram a defender o interesse público, adotando em suas práticas cotidianas o conceito de bem comum e do benefício geral, que é imprescindível existir em qualquer sociedade.

Desse modo, divido com todos eles este relevante Troféu, mas sem disfarçar o meu contentamento em figurar como o segundo ministro do TCU a integrar tão prestigiosa galeria, ao lado de tantos expoentes da nossa sociedade, como o também ministro da Corte de Contas, Ubiratan Aguiar, que, no ano de 2008, experimentou a mesma emoção que ora me domina.

Reparto ainda a imponente láurea com minha esposa Marizalva, que por 43 anos vem sendo o esteio e a viga-mestra de minha trajetória, mostrando força em meus tropeços e se orgulhando por meus triunfos, como o que hoje está sendo celebrado.

Quero também que tomem parte na extraordinária insígnia com que fui distinguido os meus filhos Carlos Frederico, Ricardo Sérgio e Luiz Henrique, ao lado das respectivas esposas, minhas queridas noras Roberta, Renata e Fernanda, que nos permitiram, com a graça de Deus, poder desfrutar a alegria contagiante e a beleza ímpar das netas Bruna e Isabela, e dos netos Tiago e Lucas.

Partilho igualmente esta magnifica conquista com meus pais, cuja memória ora reverencio, lembrando das lições e dos exemplos que nos transmitiram.

Seus ensinamentos são notados facilmente na modelar formação dos 11 filhos, 38 netos, 35 bisnetos e seis tataranetos. Em ambos buscamos sempre nossas referências, nossas raízes, enfim, a direção para nossa jornada.

Seus justos conselhos e suas fundadas advertências constituíram o pilar do meu proceder ao longo da vida, não só na condição de cidadão comum, como também na qualidade de homem público, permitindo-me levar a bom termo os mandatos de deputado federal constituinte e senador da República, depois de administrar três cidades satélites do Distrito Federal.

E foi também seguindo os seus inabaláveis princípios éticos e morais e os seus firmes postulados de probidade e retidão que pude merecer o reconhecimento e a confiança do Congresso Nacional para exercer o honroso cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, para orgulho de toda minha família.

Orgulho que se acentuou ao me tornar, em 2003, o primeiro cearense a galgar a dignificante posição de presidente daquela Casa, após assumir o cargo de ministro em 1997, quando já fazia 103 anos que ninguém natural deste Estado havia tomado assento entre os membros da Corte de Contas Federal.

Redobrada é a alegria de estar em solo de minha terra natal, sob o mesmo céu que contemplou a trajetória de tantos homens ilustres.

Faço questão de dizer que tenho apreço à semente nordestina germinada na terra fértil de Crateús.

Mantenho fidelidade intransigente à terra onde nasci, sempre trazendo em gestos e símbolos sua lembrança e evocativos do rincão que me é por demais caro.

Aqui e agora, nesta solenidade, assaltam-me sentimentos de pura alegria e indissimulável satisfação. Penso não ser possível tentar descrever a emoção que me domina.

Para um cearense de sangue e alma, como eu, nascido em Crateús, o evento tem um sentido indescritível. Recrudesce, ainda mais, o doce sentimento de orgulho pela terra de origem.

Voltar aqui constitui sempre um verdadeiro bálsamo a suavizar a imensa saudade das nossas belezas naturais e de tudo que caracteriza este Estado. Refiro-me sobretudo às particularidades marcantes dos cearenses, como o seu singular modo de pensar e agir em todos os tempos.

Posso afirmar que a gente do Ceará só tem proporcionado ao Brasil lances históricos que nos fazem orgulhosos do lugar.

Grandes nomes nos têm honrado nos cenários nacional e internacional. Na literatura, na administração, na política, na medicina, na cultura, na arte, no mundo jurídico, no jornalismo e em todos os outros setores da sociedade brasileira, a imagem do Ceará sempre desponta como o primórdio de tantos nomes ilustres.

Antes de encerrar, permitam-me falar ligeiramente sobre um tema que incomoda tanto esta região - a desigualdade -, porquanto é matéria que tem muito a ver com a defesa do interesse coletivo, virtude que hoje está sendo homenageada com o "Troféu Sereia de Ouro".

Creio ser impossível desvincular tal problema da crise de valores sem precedentes que vivemos no País, marcada pelo abuso de funções públicas para fins particulares, com as exceções de praxe, configurando uma das mais graves e urgentes questões que a sociedade brasileira deverá enfrentar.

Como disse o professor José Pastore, "os corsários da atualidade, como os piratas da antiguidade, seguem a ´ética da aventura´. Usam a audácia para assaltar o povo, jogando os custos nas costas dos trabalhadores [e dos empresários sérios e honrados]. Haja impostos para sustentar suas aventuras!"

De fato, os aventureiros de hoje passam por cima do espírito de patriotismo da esmagadora maioria da população, tudo em nome da devastadora ideia de que os fins justificam os meios.

Com seu condenável modo de proceder, pisoteiam sem nenhum escrúpulo, não só as organizações que produzem honestamente, gerando empregos na economia, a exemplo do Grupo Edson Queiroz, como também os que lutam para sobreviver com decência e dignidade, os verdadeiros humilhados e ofendidos nessa história sórdida, a gente humilde da canção de Vinícius de Moraes e Chico Buarque, que faz com que o peito se aperte, dando inveja "feito um despeito de não ter como lutar". Essa gente "que vai em frente sem nem ter com quem contar". "É gente humilde que vontade de chorar".

A reflexão em torno do tema nos conduz à impressão de que o crime disseminado perde a importância e não estigmatiza os que o praticam, tornando sem referência a simbologia que coloca o estado de direito como condição da vida civilizada. A crença na impunidade fermenta o ímpeto transgressor.

A morosidade processual acentua a ganância daqueles que se consideram fora do alcance da lei, optando pela devassidão do vale tudo que corrói a esperança de um futuro baseado em valores positivos, como a dignidade, a grandeza de caráter, o amor à causa pública e o empenho em favor do progresso da Nação, sobre os quais se deve soerguer a organização social e humana dos povos que se desejam prósperos.

Alguém já disse que o homem, como todas as espécies, é um empilhamento de instintos. E se hoje aflora no Brasil a corrupção, e enfim a opinião pública e a imprensa a identificam e a combatem, talvez seja porque está começando a emergir o mais primitivo dos nossos instintos: o de sobrevivência.

Para o bem situar essa preocupação que deve ser de todos, relembro os dizeres de quase 100 anos atrás, da filósofa russo-americana Ayn Rand, judia fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 20, mostrando visão e conhecimento de causa. Disse ela:

"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada;

Quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores;

Quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você;

Quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício;

Então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sua sociedade está condenada".

Depois desse instigante alerta de quase um século, resta acreditar que sejamos capazes de evitar o pior, com a mesma esperança demonstrada por Gabriel García Márquez, célebre autor do incomparável "Cem Anos de Solidão", ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, quando disse:

"A violência e a dor desmesurada de nossa história são o resultado de injustiças seculares e amarguras sem conta. Ambicionamos criar uma sociedade em que finalmente seja certo o amor e seja possível a felicidade, onde as estirpes condenadas a 100 anos de solidão tenham por fim e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra".

Parafraseando Robert

Permita-me dona Yolanda oferecer à minha mulher, Marizalva, este Troféu. Zalva, de mãos dadas por muitos anos caminhamos em florestas verdes e praias de areia branca e densas. E fluindo o nosso tempo aqui na terra se for, no Céu continuaremos o nosso amor.

Finalizando, eu e os demais homenageados agradecemos sensibilizados a todos pela presença, reiterando expressões de efusivo contentamento e gratidão pela honrosa comenda que o Sistema Verdes Mares nos concede.

Muito obrigado a todos.

Valmir Campelo
Ministro do TCU


(Fonte: Diário do Nordeste)

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