
Dideus Sales, poeta magnífico e bondoso companheiro, nos abre a estante do novo milênio e dela retira uma preciosidade ímpar: um livro todo dedicado a Patativa, ou melhor, ao Sertão, visto que a ave e o homem, o mito e o sertanejo são raízes da mesma árvore lírica.
Homenagear muito cedo da vida ou somente após a morte é uma postura equivocada. Dideus trilhou o caminho certo: saúda o mestre da poesia popular no momento propício, na melhor idade.
Usando glosas decimais, amparado no mote “eu fui nascido e criado nos cafundós do sertão”, o poeta crateuense nos brinda com a densidade do seu cantar campesino.
Assim como Lampião, lâmpada justiceira na escuridão nordestina, Patativa enxerga com dificuldades. Talvez a luz que lhe falta nos olhos, Deus tenha colocado na alma.
Símbolo da genialidade matuta, o cancioneiro de Assaré conseguiu reunir – pasmem, letrados! – o vigor épico de um Camões, a sensibilidade ambiental de um Gonçalves Dias e o fulgor social de um Castro Alves.
Salve, Dideus, teu canto se eleva às alturas azuis do céu. Cantaste o mais luminoso dos nossos cantores, o poeta estrelado Patativa do Assaré.
(Por Júnior Bonfim, na Orelha do livro "NOS CAFUNDÓS DO SERTÃO", de Dideus Sales, em 2001, quando entre nós ainda cantava Patativa do Assaré. A propósito, o livro está sendo revisto, ampliado e reeditado agora.)
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