quinta-feira, 15 de março de 2012

SERIDIÃO MONTENEGRO LANÇA HOJE "EXPRESSO PARA O FUTURO" NA OBOÉ DA MARIA TOMÁSIA

O Centro Cultural OBOÉ e a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - AMLEF - têm a honra de convidar para o lançamento do livro "EXPRESSO PARA O FUTURO" de autoria de Seridião Correia Montenegro com apresentação do Deputado Mauro Benevides.
Dia 15 de março de 2012
19h30min
Centro Cultural OBOÉ
Rua Maria Tomásia, 531.




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Eis o prefácio:


PREFÁCIO


Estimado Seridião, ditoso companheiro:

Sou – e sempre fui - apaixonado por rede. Há símbolo mais excelso da brasilidade cearense do que uma rede? Imagino que não. Herança indígena – que a chamavam de “ini” - a rede foi pioneiramente registrada no pergaminho linguístico português por Pero Vaz de Caminha – que, sem procurar saber o nome já usado pelos nativos, batizou-a de rede de dormir, pela semelhança com a rede de pescar.

A rede é tão carregada de força multiforme que virou pia batismal de todas as interligações relacionais, perpassando o desejo de comunicação entre os seres (redes sociais), à assepsia urbana (redes de drenagem) até a modernização tecnológica (redes de computadores), dentre outras.

Perscrutador e amante das redes de dormir, Câmara Cascudo demarcou muito bem as diferenças entre a rede e a cama: "A cama obriga-nos a tomar o seu costume, ajeitando-nos nela, procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feitio, contamina-se com os nossos hábitos, repete, dócil e macia, a forma do nosso corpo. A cama é dura, parada, definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva, ondulante. A rede colabora com a movimentação dos sonhos. Entre a rede e a cama há a distância da solidariedade à resignação".

Por isso peço permissão para estender, entre dois generosos coqueiros, uma rede de tucum, de preferência a céu aberto. Rede confeccionada com a cristalina areia litorânea, bordada pelas mãos suaves da nossa brisa noturna, cujo balanço segue o ritmo das ondas do mar de Iracema.

Pois bem, só deitado em uma rede posso folhear adequadamente este teu fabuloso álbum memorial.

Disseste, Seridião, que eu teria liberdade para fazer a ponderação que julgasse necessária, sugerir alteração e, inclusive, lançar o petardo da crítica.

Começo pelo título. Condeno-o. Por que Expresso? Grande e rápido meio de transporte que anda sem fazer escalas?

Não, meu amigo, este teu precioso caderno de reminiscências deveria ter o nome da nossa principal insígnia simbólica, emblema da nossa hospitalidade militante, expressão telúrica do nosso oceânico espírito: a Rede. Este livro é, em todas as acepções, uma rede, efetivo emaranhado de cordéis afetivos, conjunto entrelaçado de fios vitais.

Esta tua delicada rede, Seridião, embora tenha os punhos amarrados nos armadores do presente, quando se balança tem uma varanda tocando o passado e a outra visitando o futuro.

Dormir nesta rede é viajar. É esparramar o corpo no córrego cristalino do embevecimento. É transmutar-se em um viajante imóvel. É fitar a trajetória de um legítimo pretor romano, que começa pela cidade maravilhosa, passa pela metrópole soteropolitana, sente o esplendor da construção na Capital da República e termina com o retorno à Terra da Luz. É divisar o itinerário de um servidor público que afixou no átrio da alma o código da decência. Como um autêntico cristão, expulsou da sala quem tentou aliciá-lo, profanando o seu sagrado espaço de trabalho. Amassou a folha rota do suborno. Esmurrou a pusilanimidade.

Por certo, em alguns momentos, olvidou de tragar o cálice da moderação e exorbitou. Usando a regra da igualdade de Ruy Barbosa – “não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis; servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade” – lançou-se sobre um Juiz de Direito para vingar o ferido sentimento paterno e lavar a honra familiar. Está perdoado porque só usou as garras da lei. Evitou as luvas de pugilista amador da categoria dos meio-médios ligeiros...

Deitar nesta rede é deleitar-se na história galante de um professor de sedução, cujo magistério nos bafeja com aquilo que Blaise Pascal chamava de l'esprit de finesse (o espírito de finesse).

Teu “S”, Seridião, é severo e sensível, singelo e solene, sutil e sonhador, sapeca e sereno, sementeiro e sentimental, simples e simpático, sábio e sóbrio. És, surpreendentemente, um sujeito sacral. Que acredita em milagre, pois ele se opera em ti. Fervoroso devoto de Nossa Senhora das Graças, daí graças. Graças à vida. Vida que se fez rede. E que tu nos entrega sob a forma de um livro.


Júnior Bonfim – poeta e advogado.

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Caro Júnior:

A cada página que você escreve, mostra a sua maestria literária. Este prefácio, além de belíssimo, é encantador. Nele o poeta se supera a cada palavra. Morro de inveja, mas minha inveja é sadia.

Meu abraço e, se possível, arranje-me um exemplar do livro do Seridião.

César Vale

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Júnior:

A cada página que você escreve, mostra a sua maestria literária. Este prefácio, além de belíssimo, é encantador. Nele o poeta se supera a cada palavra. Morro de inveja, mas minha inveja é sadia.
Meu abraço e, se possível, arranje-me um exemplar do livro do Seridião.
César Vale