quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Promessas de campanha

A historinha foi enviada por um leitor do Paraná. Candidatos de duas famílias disputavam a prefeitura de uma pequena cidade. Final de campanha. A combinação era de que os dois candidatos e seus familiares teriam de usar o mesmo palanque. Discursou, primeiro, o candidato que tinha 70% de preferência dos votos:

- Povo da minha amada terra, povo ordeiro, trabalhador, religioso e cumpridor de suas obrigações. Se eleito, irei resolver o problema de falta de água e de coleta de esgoto. Farei das nossas escolas as melhores da região, educação em tempo integral. Vou construir uma escola técnica do município...

E arrematou:

- E tem mais, meus amigos, ordeiros, religiosos e cumpridores de seus deveres morais, vocês não devem votar no meu adversário. Ele não respeita nossa gente, nossas famílias, nossos costumes! Ele desrespeita nossa igreja. Ele nem se dá ao respeito. Vocês não devem votar nele. Porque ele tem duas mulheres.

O adversário, com 20% de intenção de voto, quase enfartou quando viu a mulher, ao seu lado, cair no palanque. Ela não aguentara ouvir a denúncia do adversário de que o marido tinha uma amante. A desordem ganhou o palanque. A multidão aplaudia o candidato favorito e vaiava o adversário. Cabos eleitorais começaram a se engalfinhar. Passado o susto, com muita dificuldade, o estonteado candidato acusado de ter duas mulheres começa seu discurso, depois de constatar que a esposa estava melhor:

- Meu amado povo, de bons costumes e moral ilibada, religioso e cumpridor de seus deveres morais, éticos e religiosos. Quero dizer aos senhores e senhoras aqui presentes, que, se agraciado com seus votos me tornar o prefeito desta cidade, farei uma mudança de verdade. Não só resolverei o problema da falta de água, como farei também o tratamento de todo o esgoto do município, construirei uma escola técnica e um novo hospital!

A massa caçoava do coitado e de sua mulher. Foi em frente:

- Vou melhorar o salário dos professores, a merenda das crianças e ainda vou instituir o Bolsa Cidadão! Agora, prestem bem atenção. Se os amigos acharem que não podem votar em mim porque tenho duas mulheres, votem no meu adversário! Mas saibam que a mulher dele tem dois maridos.

A galera veio abaixo. O pau comeu. Brigalhada geral. Urnas abertas. O candidato corno perdeu: 76% para o adúltero.

Mensalão chegará às ruas?

A pergunta é a que mais instiga os atores políticos. Porque traduz o jogo das forças em contrário, de um lado, o PT, com que lidera ampla base aliada, de outro, as oposições, comandadas pelos tucanos do PSDB. Pois bem, o Mensalão é seguramente o maior contencioso que chega ao STF: 50 mil páginas, 38 réus, 600 testemunhas, 500 jornalistas inscritos para cobrir o evento, intensa polêmica no meio da sociedade. Mas não será um fenômeno capaz de alterar a composição do voto no país. Pode chegar às ruas das metrópoles, principalmente as habitadas por classes médias altas, onde se juntam os aglomerados de formação de opinião. Mas estará fora do grande circuito, ou seja, 95% dos 5.565 municípios brasileiros tendem a ficar à margem do processo.

Efeitos do julgamento

Alguns atores entrarão no rolo do julgamento, a começar pelos próprios julgadores, os ministros da Suprema Corte. A absolvição ou condenação dos réus provocará manifestações de repúdio, aprovação/desaprovação, indignação por parte de setores e grupamentos organizados. Mais uma vez, as massas amorfas e difusas ficarão à margem. Os grupos organizados tocarão suas trombetas, principalmente os núcleos sob a égide e patrocínio das frentes partidárias. O PT, como se sabe, possui uma base barulhenta que vai às ruas tocar bumbo. Portanto, parcela dos membros do STF atravessará o corredor polonês da sociedade organizada. O PT, seja qual for o resultado do julgamento, será o ente partidário a registrar as maiores perdas. Ou seja, em caso de absolvição, carreará a raiva de eleitores-adversários; em caso de condenação dos réus, também sobre ele desaguarão ondas de indignação.

Lula e Dilma

Lula entrará também no rolo, apesar de ter um grande escudo contra o mensalão: carisma. Por isso mesmo, os efeitos sobre sua imagem - em caso de condenação dos réus - serão mínimos. Já a presidente Dilma, na esteira de seu perfil técnico, não será atingida por respingos da onda mensaleira.

Absolvição ou condenação?

Outra pergunta difícil. Mas há algumas pistas que poderão ser expostas. Primeira: o ministro revisor. Ricardo Lewandowski, teria manifestado o interesse em fazer "um contraponto" ao relatório do ministro relator, Joaquim Barbosa. "Contraponto", termo que aponta para o outro lado. Segunda: o ministro Dias Toffoli, que já foi advogado do PT e cuja namorada teria trabalhado para um dos réus do mensalão, anunciou a intenção de julgar o processo. Ou seja, seu afastamento, defendido por uma corrente de juízes e advogados, não ocorrerá. Terceira: o ministro Cezar Peluso, um dos maiores especialistas em Direito Penal no STF, dará seu voto antes de se afastar, na segunda quinzena de setembro. Quarta: o parecer do procurador geral, apesar de não conter novidades, é duro. O que se pode desenhar como resposta?

Resposta

Diante dessa moldura, este analista tende a ler a seguinte resposta: a) absolvição de uma parte dos réus, por falta de provas; b) condenação de outra parte dos réus; c) penas leves para os condenados.

Andressa no palco

A namorada de Carlos Cachoeira, Andressa, parece ter apreciado desfilar no cenário em que se move o namorado. Bonita, charmosa e amorosa, abriu espaços na imprensa, que viu em sua história nuances de um folhetim capaz de atrair o interesse das multidões. Até ser flagrada por um juiz, que a acusa de fazer chantagem contra ele. A larga exposição pública de Andressa acabou voltando-se contra ela. O amor também exige atitudes recatadas. Discrição.

Lula na campanha

Lula ainda não está em ponto de bala para atirar na arena das campanhas. Queixa-se de dores. Tem uma bursite. Há uma fileira de candidatos esperando por uma foto com ele. Fernando Haddad, em São Paulo, aguarda com expectativa as caminhadas com seu patrocinador. Haddad espera chegar aos 30% históricos do PT em SP.

Jarbas e Campos

O primeiro grande efeito da campanha no campo das parcerias se dá em Recife, onde o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, se une ao governador Eduardo Campos, presidente do PSB, em torno do candidato Geraldo Júlio. Os ex-adversários selam um pacto de paz. Momentâneo ou com vistas para o amanhã?

O xerife

Celso Russomanno se apresenta como xerife do povo. Reforça as tintas da imagem de defensor do consumidor, que começou a usar desde a morte da mulher há 20 anos. A questão é: conseguirá manter seu alto índice de intenção de voto? Há muitas dúvidas. Terá um minuto e meio de mídia eleitoral. Difícil.

Carla, a assistente

O ministro Joaquim Barbosa dará seu voto em cerca de mil páginas. Trabalhou de maneira exaustiva, sacrificando a saúde, para poder dar conta do recado. Fez um mutirão de juízes recrutados em 47 varas Federais. Mas seu braço direito tem sido a assessora Carla Ramos, ex-aluna de Barbosa que só tirava 10 nas provas. Defensora pública no RJ, foi convidada pelo ministro para ser sua assessora no processo do mensalão. Hoje, é a fiel escudeira.

Anvisa sem bússola

Em recente decisão, a Anvisa voltou atrás liberando a venda de medicamentos isentos de prescrição nas prateleiras das farmácias do país, alterando a resolução 44/2009. A proibição aconteceu no intuito de reduzir as intoxicações, mas depois de consultas públicas a agência concluiu que a medida não atingiu o objetivo e ainda prejudicou o consumidor. Quem agora está na mira para sair das prateleiras, desta vez dos supermercados, é o álcool líquido. A grande questão divergente seria o aumento dos casos de queimaduras, versão não comprovada nas estatísticas do SUS. A resolução 46/2002, que proíbe a comercialização do álcool acima de 54º GL, não deverá agradar ao consumidor. Isso porque, para fazer a limpeza de casa e conseguir o mesmo resultado, será preciso gastar muito mais. Ao que tudo indica, será mais uma resolução fadada ao fracasso.

8 milhões de eleitores

O pleito deste ano terá 8 milhões de eleitores a mais do que o de 2008. Serão 138,5 milhões de eleitores. E as mulheres continuarão na frente dos homens: 71,6 milhões (52% dos eleitores) contra 66,1 milhões de homens eleitores (48%). SP lidera com 31.253.317, seguido de MG, 15.019.136, RJ, com 11.893.309, BA, 10.110.122 e RS, com 8.328.4143. Os estados com os menores números de eleitores são RO, com 292.394; AP, com 448.018; e AC, com 498.017.

São quatro os tipos de homem

Aquele que não sabe, e não sabe que não sabe. É um tolo: evite-o;

Aquele que não sabe, e sabe que não sabe. É um simples: ensine-o;

Aquele que sabe, e não sabe que sabe. Está dormindo: acorde-o;

Aquele que sabe, e sabe que sabe. É um sábio: respeite-o.

(Conceitos árabes coletados por Luís Costa)

Jovens bandidos da classe média

Quem achava que apenas pobreza e miséria explicam a criminalidade? Um grupo de 16 jovens estudantes universitários de SP, de idade entre 18 e 21 anos, foi flagrado cometendo sequestros-relâmpago. São acusados de 50 sequestros. Com os cartões dos sequestrados, conseguiam dinheiro para viagens ao litoral, bebidas e baladas. Onde estamos, para onde vamos?

Identidade, eixo do candidato

Os candidatos precisam expressar sua identidade: conceito, história de vida, pensamento, atitudes, valores, princípios. Não adianta inventar essa identidade de maneira abrupta. Os eleitores percebem quando o gato quer se passar por lebre.

Curiosidade

Por que o grande advogado Márcio Thomaz Bastos teria deixado de advogar para Carlinhos Cachoeira? Teria sido por conta do flagrante do juiz que denunciou tentativa de barganha feita contra ele por Andressa Mendonça, a namorada do acusado?

Tempos de grandeza

Ao contrário de alguns historiadores e cientistas sociais, que consideram muito crítico o momento vivido pelo país, este analista defende uma abordagem contrária : o Brasil está dando uma lição de grandeza. As instituições funcionam a plenos pulmões e a nossa democracia participativa se expande na esteira das entidades de intermediação social. Viva!

Rehder e SP

Marcelo Rehder, presidente da SPTuris desde o fim do ano passado, tem na ponta da língua a radiografia turística e cultural da maior metrópole do país: "Hoje, 70% dos turistas vêm à cidade para negócios e eventos. Campanhas para que essas pessoas fiquem mais um dia têm sido feitas e estão dando resultados. A cultura é a nossa praia, temos uma oferta enorme de museus, teatros, cinemas e gastronomia que, muitas vezes, nem os paulistanos conhecem". A SPTuris é a entidade que planeja eventos como a Virada Cultural, SPFW, Parada LGBT, entre outros.

Grandes desafios

Rehder fala dos grandes desafios, a partir da Copa. "O Itaquerão terá 68 mil lugares. Hoje já temos eventos que trazem mais pessoas do que isso. O show do U2 teve 80 mil pessoas. Na Copa, alguns dos problemas podem ser os aeroportos e a mobilidade dentro da cidade. Há que verticalizar mais e adensar tudo mais perto do transporte público. Ficamos muitos anos sem investir no metrô. Temos de ter transporte sobre trilhos e integrar as linhas da CPTM com a cidade - isso é uma coisa que já começou a ser feita".

A maneira de dizer

Anedota Árabe

Um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse o sonho.

- Que desgraça. Senhor! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mentiroso! Gritou o sultão enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamado outro adivinho, este falou assim:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada! O sonho significa que havereis de sobreviver a todos os vossos parentes!

Iluminou-se a fisionomia do sultão e mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. Quando saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse:

- Afinal, a interpretação que fizeste do sonho foi a mesma do teu colega...

- Lembra-te, meu amigo, tornou o adivinho, que tudo depende da maneira de dizer.

(Leia comigo - Luís Costa)

Conselho aos ministros do STF

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades policiais. Hoje, sua atenção se volta aos ministros do STF:

1. Chegou o momento tão esperado do julgamento da Ação Penal 470. Busquem em seus altos conhecimentos as luzes para iluminar os caminhos da decisão.

2. Multiplicam-se sugestões, conselhos, pressões, contrapressões. No meio da algaravia, procurem separar as sementes limpas da Justiça do joio sujo dos lamaçais.

3. Vossas Excelências são os mais altos e gabaritados magistrados do Judiciário. De suas consciências, emergirá a bússola que guiará os passos da Nação.

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(Gaudêncio Torquato)

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