quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

O sentimento do medo

Abro a coluna com o sorridente Juscelino, ícone de simpatia.

Candidato a presidente, saiu pelo Brasil visitando o PSD. Desceu na Bahia. Antônio Balbino, governador do PSD, ainda estava em cima do muro:

- Qual é a verdadeira posição do café?

- Qual deles, Balbino? O vegetal ou o animal?

Foi para Pernambuco. Etelvino insistia:

- Juscelino, vamos rever o assunto e fazer a união nacional.

- Etelvino, já sei que você está contra mim. Quando você fala em união nacional, na verdade está pensando em União Democrática Nacional.

- Então você não quer a união?

- Ora, Etelvino, candidato não faz união, candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado.

E voltou para Minas. Em 31 de dezembro, o chefe da Casa Militar da presidência da República, Juarez Távora (depois candidato da UDN, derrotado por Juscelino), entregou a Café Filho um documento em que "as altas autoridades militares apelavam para uma colaboração interpartidária, um candidato único e civil".O documento só foi divulgado no dia 27 de janeiro, em "A Voz do Brasil". Juscelino respondeu com um discurso duro, escrito por Augusto Frederico Schmidt, que terminava com a frase magistral:

- Deus me poupou o sentimento do medo.

O núcleo político

O mensalão chega ao núcleo político. Como era previsível, o ministro Joaquim Barbosa dá as primeiras indicações que houve compra de voto. O PP foi abrigado no seio do governo. Houve corrupção passiva e ativa. O chefe do núcleo, segundo Barbosa, era o ex-ministro José Dirceu. Tudo dentro do previsível. O roteiro deverá prosseguir com as condenações. A curiosidade estará voltada, mais uma vez, para o parecer do ministro Ricardo Lewandowski e para o voto do ministro Toffoli. Ou seja, o clima nas margens do mensalão esquentará nos próximos dias. A conferir.

O ONF de Veja

O OFF, na esfera jornalística, é uma entrevista dada a um repórter sob o compromisso de não ser publicada. O jornalista aproveita a conversa com a fonte para tecer panos de fundo, desenhar cenários que lhe possibilitem, mais cedo ou mais tarde, calibrar seus textos. O OFF é uma ferramenta muito usada na área política. Os representantes procuram falar em OFF para fazer críticas, dar informações retumbantes, expor jogos de poder, mostrar o que efetivamente se passa nos intestinos da administração pública. Já o ON é a ferramenta que abre as portas da expressão. Nesse caso, o jornalista tem liberdade para captar e divulgar o que viu, ouviu e sentiu pela expressão dos entrevistados. A Revista Veja produziu, na semana passada, um ONF, mescla de ON e OFF. Expliquemos.

Despiste: curvas nas retas

A matéria de capa com Marcos Valério expõe uma moldura de despiste. Ou seja, dá a informação sem comprometer a fonte. Imaginemos que a entrevista tenha obedecido ao seguinte roteiro. A revista Veja recebeu um telefonema de pessoa ligada a Marcos Valério. Que sugeriu uma entrevista com ele sob o compromisso de não ser caracterizada como entrevista em ON. O empresário deveria ser preservado. Claro, a revista topou. Marcaram um encontro. Presenças: ele ou alguém para servir de fonte e o repórter. Que fez anotações. Não gravou por não ter recebido autorização. Que forma poderia ser encontrada para apresentar a bomba sem dizer que Valério ou seu representante foi o autor da peripécia? A linguagem do despiste.

O despiste

O que é e como se faz o despiste? Intercalando linguagem de verbos narrativos, de forma direta e indireta. Lembro que os verbos narrativos incluem, entre outros : falar, dizer, narrar, contar, expressar, descrever, aduzir, mostrar, lembrar, citar, anuir, descrever, acrescentar, etc. Na entrevista, a fonte aparece abrindo períodos e parágrafos, dessa forma: "Valério guarda segredos... diz que pelas arcas do esquema passaram pelo menos 350 milhões de reais... ele fala em valores... afirma o empresário", etc. etc. Esta modelagem atende ao princípio do respeito à fonte. E garante a credibilidade da informação.

Fontes indiretas

Veja, a maior revista brasileira de informação, quis, assim, mostrar que tem compromisso com a verdade. Noutra parte, usou o método indireto. Fontes secundárias e não a fonte primária. Assim: "nos últimos dias, ele confidenciou a amigos".; "Valério teme e fala a pessoas próximas que....". Tais referências indiretas constituem um recurso da Revista para evitar comprometer as fontes primárias. Portanto, não se trata de invencionice. A reportagem tem alicerce. Esta análise, claro, está sujeita a contrapontos de leitores com vieses partidários.

O autor do ONF

Um exímio ex-repórter de uma grande revista (que continua sendo um mestre na arte de interpretar o universo jornalístico), definiu, com propriedade e humor, a modelagem que abrigou a matéria de capa da Veja: ONF, uma parte em ON e uma parte em OFF. Prometi registrar essa nova modalidade. O que faço com muita alegria. Em tempo: o repórter em questão conhece bem a revista Veja e o perfil da capa, Marcos Valério, que já passou por sua lupa jornalística.

Lula e Dilma, cabos eleitorais

Lula e Dilma são cabos eleitorais mais eficazes do que FHC e Alckmin? Essa é a pergunta recorrente que tento responder, seja em perguntas feitas no twitter (@gaudtorquato), seja no facebook ou em outros espaços. Respondo sempre lembrando que os eleitores são gratos a quem os patrocina. E lembro a geografia da gratificação: BOLSO (grana suficiente) para suprir o ESTÔMAGO (geladeira cheia, estômago saciado), CORAÇÃO (agradecido, comovido, emoção, catarse), CABEÇA (decidindo votar nos patrocinadores). Ou seja, o eleitor tende a votar em candidatos indicados por ícones partidários. Principalmente os que encarnam a equação exposta. Lula, ontem, e Dilma, hoje, sob esse parâmetro, exercem mais influência que FHC e Alckmin.

O recado do vídeo

Ricardo Noblat, segunda-feira, mostra que há mais bombas no arsenal de Marcos Valério. Um vídeo que teria sido encomendado pelo publicitário a profissionais do ramo. Uma cópia teria sido encaminhada a uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo no STF. Outras três estão guardadas em banco. Se ocorrer algum desastre em seu caminho - diz a matéria - os vídeos serão encaminhados aos jornais O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo. O vídeo seria uma bomba de alta potência. Mais um recado de Valério aos ex-protagonistas dos tempos do mensalão.

Efeitos

Eis a narração de Noblat: "Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias... O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia. Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho. A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava".

Mensalão e eleição em SP

O mensalão suja a imagem do PT junto aos setores que habitam o meio da pirâmide, mas não chega a afastar os eleitores das margens. Recorrente questão: a imagem de Haddad não será engolfada pelo mensalão? Tenho respondido: não. Mas consolida impressões negativas que impregnam determinados núcleos eleitorais. Aqueles que já tomaram a decisão de votar contra o candidato petista.

Enquete Jovem Pan

A Rádio Jovem Pan conserva a tradição de fazer enquetes eleitorais nas últimas semanas que precedem os pleitos. Como se sabe, enquete não se guia por metodologia científica, servindo apenas de lume jornalístico, um apanhado nas ruas sobre intenções de votos nos candidatos. Na verdade, a enquete flagra apenas a opinião do ouvinte da emissora. Nesse sentido, é muito limitada. Pois bem, José Serra obteve cerca de 70% na primeira enquete. E cerca de 40% na segunda. Haddad, Chalita e Russomano aparecem empatados.

FHC e Alkmin, cabos eleitorais

Fernando Henrique entra de corpo e alma na campanha de Serra. Esta semana, divulga um documento assinado por intelectuais em apoio ao candidato tucano. Tenho dito e repetido: essas coisas não agregam votos. As assinaturas de celebridades têm o condão de conferir prestígio, mas não sensibilizam as massas. Que nem tomarão ciência do fato.

Haddad ou Serra?

Quem irá para o segundo turno ? A se confirmar a tendência de queda de Serra, Haddad seria o candidato a disputar o segundo turno com Russomanno. Mas as pesquisas cotidianas - trackkings - feitas pelos tucanos atestam que Serra ainda está na frente de Haddad. Daqui a 10 dias, a bola de cristal abrirá seus segredos. Por enquanto, o olho mecânico dá chance aos dois.

Pesquisa da semana

E a pesquisa Datafolha desta quarta-feira, hein ? A coluna foi escrita, ontem, terça. Hoje de manhã, os leitores podem conferir minha projeção : sem alterações de vulto. Primeiro, Russomanno; segundo, Serra; terceiro, Haddad; quarto, Chalita.

Fundões da zona leste

Domingo último, este analista foi ao encontro da multidão. Mais exatamente, na Zona Leste, no SESC Itaquera, fundões da capital. Ali está o maior contingente eleitoral de SP. Tem 300 mil eleitores a mais que a Zona Sul. Um show da Família Lima e da cantora Ana Carolina, em comemoração aos 20 anos do maior sindicato de trabalhadores terceirizados e de trabalho temporário de SP, o Sindeepres, comandado pelo intrépido Genival Beserra Leite. 12 mil pessoas afluíram ao local. Gente alegre. Cabos eleitorais esparsos. Massa em plena diversão. Sem dar bolas aos carros de som das campanhas, ali por perto.

PMDB redesenhado

O PMDB de SP abre caminhos de renovação. Novos quadros, amplas possibilidades. O partido espera eleger cerca de 100 prefeitos no Estado.

Brasil e a crise

Começam a pipocar declarações e análises sobre os efeitos de uma nova crise financeira internacional sobre o Brasil. A base macroeconômica, garante o governo, está azeitada para aguentar novos trancos. Os especialistas acham que, ante uma nova avalanche, o país tende a ficar à deriva. Deixo a questão para reflexão.

Panorama em João Pessoa

Vejam os resultados das duas últimas pesquisas eleitorais em João Pessoa. Esta primeira foi feita pela Consult, sob encomenda do Correio da Paraíba :

- Luciano Cartaxo (PT): 23,9%

- Cícero Lucena (PSDB): 22,9%

- Maranhão (PMDB): 17,8%

- Estelizabel (PSB): 14,4%

Esta segunda é do Portal WSCOM/Sigma:

- Luciano Cartaxo (PT): 21,9%

- Cícero Lucena (PSDB): 21,3%

- Maranhão (PMDB): 17,7%

- Estelizabel (PSB): 12,9%

E os queijos?

Ainda em sua peregrinação como candidato a presidente, Juscelino hospedou-se em Campina Grande, na casa do coronel Alvino Pimentel, industrial e homem refinado. Tratou JK como se tratam reis : queijos da França e caviar da Rússia. Cinco anos depois, fim de mandato, Juscelino voltou a Campina Grande para inaugurar o serviço de água, promessa da campanha. Quando a porta do avião abriu, a primeira pessoa que viu lá embaixo foi um velho de cabelos brancos. Chamou Abelardo Jurema:

- Quem é aquele de cabelos brancos ali no pé da escada?

- É o compadre Alvino, onde o senhor se hospedou.

Juscelino já desceu sorrindo, os braços abertos:

- Coronel Alvino, e os queijos?

Conselho aos assessores dos candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos assessores dos candidatos:

Aproxima-se a reta final das campanhas. Esse é o momento que merece especial atenção.

1. Urge fazer um mapeamento geral da campanha, sob os prismas do discurso/propostas; altos e baixos da comunicação; carências detectadas na frente da articulação política e social; análise da mobilização - verificação das ações realizadas pelos cabos eleitorais.

2. Reordenar focos e metas, reajustar trabalho de campo (nas regiões e bairros), organizar forte programa de comunicação; reordenar a agenda do candidato, contemplando as maiores densidades eleitorais.

3. Descentralizar ações de forma que a campanha se faça presente em todos os espaços municipais. A ideia é a de tornar o candidato onipresente, ou seja, com visibilidade em todas as regiões.

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(Gaudêncio Torquato)

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