terça-feira, 2 de abril de 2013

OBSERVATÓRIO

Publius Vergilius Maro, o excelso poeta latino que a humanidade festeja simplesmente por Virgílio, teve sua existência recheada de lendas. Uma delas conta que, no ano 17 antes de Cristo, o imperador Augusto promoveu a realização de uma grande festa, cuja programação constou jogos, corridas, peças de teatro, cerimônias religiosas e sacrifícios destinados a obter a proteção das divindades romanas. Porém, chovia a noite toda, e por sorte, durante o dia, o tempo ficava bom, permitindo, desta maneira, a continuidade festiva. Virgílio, ainda desconhecido, escreveu, então, na porta da entrada da cidade de Roma, o seguinte dístico: “Nocte pluit tota, redeunt spectacula mane./ Divisum imperium cum Jove Caesar habet”. (“Chove a noite toda, de manhã recomeçam os jogos. Deste modo, César divide o poder com Júpiter”). Lisonjeado, o imperador buscou saber quem escrevera aqueles versos. Um certo Batilus reivindicou a autoria dos versos que não eram seus, e acabou por ganhar um prêmio do Imperador. Virgilio, indignado, pois era o verdadeiro autor dos versos, escreveu nos muros de Roma: Hos ego versículos feci, tulit alter honores. (Eu escrevi os versos acima, mas outro levou as honras). Intrigado, o Imperador promoveu um concurso para descobrir o verdadeiro autor dos versos, e por óbvio, Virgilio revelou o gênio. Assim, caiu nas graças do Imperador Augustus e de Mecenas, dos quais recebeu incentivo e apoio financeiro pelo resto da vida.

DIDEUS

Dideus Sales, que aniversaria neste 02 de abril, é uma espécie rara, um ser híbrido que nos mimoseia com a genialidade de um versejador nato e, ao mesmo tempo, de um estimulador do talento alheio. Combina Virgilio e Augusto; é uma fonte original da mais autêntica poesia popular e, também, uma casa de apoio e incentivo para a germinação lúdica de outros artistas. Mensalmente, escolhe o portal de uma cidade cearense para inserir estrofes que enobrecem a alma humana. Vez por outra, promove um festival de cantadores e violeiros para semear alegria e esperança nos corações amargurados pela aridez existencial. Constantemente cunha um livro melhor que o anterior. E permanece em sintonia perene com as aves e as árvores da nossa surpreendente geografia para cantar o amor e a amizade, o instrumental da festa do viver. Parabéns, poeta!

OPOSIÇÃO

Moacir Soares, recém-chegado de um passeio pela dadivosa Paris, compartilha uma percuciente análise do jornalista Fábio Campos sobre os malefícios da ausência de oposição na arena política. Eis alguns trechos: “O ato de se opor é fundamental para a política. O ato de opor não deixa que o gestor público se deleite na zona de conforto e se embrenhe na teia palaciana sempre tão disponível para elogiar e criar bolhas em torno do chefe. (...) Uma boa oposição serve de antídoto contra a mania de cometer bobagens. Uma mania tão comuns aos gestores. Um gestor ensimesmado tem na oposição um obstáculo contra seu orgulho. A oposição é a melhor aliada do gestor honesto que é enganado pelo auxiliar corrupto. (...) Desconfiemos de quem não tolera oposição. Desconfiemos de quem usa o poder da caneta para cooptar opositores e eliminar o pensamento crítico. A falta da oposição causa mais estragos que uma seca. (...) Sem opositores, prevalece a pasmaceira e o silêncio medroso. No fim das contas, a inoperância e a falta de respostas se estabelecem. E quem mais perde? Ora, quem mais perde são os de sempre, os mais pobres, os sem ongs, os sem voz, os sem partido. A imensa maioria”.

OPOSIÇÃO II

A digressão de Fábio Campos se refere ao cenário estadual, mas cai como uma luva para a realidade municipal. Disseminou-se uma ideia de que só existe vida política à sombra do poder. Ou que Vereador tem que estar do lado do prefeito. E isso é um equívoco. É possível, sim, um edil desenvolver um mandato brilhante, operoso, combativo, atuante e reconhecido pela comunidade sem manchar os seus princípios, enlamear a trajetória ou trair suas convicções.

OPOSIÇÃO III

Em Crateús, o candidato a Prefeito Ivan, que obteve surpreendente votação, articula um movimento para manter acesa a chama oposicionista. Está organizando um encontro nos próximos dias para avaliar os primeiros cem dias do segundo mandato de Carlos Felipe e debater com a população caminhos para a cidade em harmonia com alternativas viáveis de ações. Urge que se formalize a constituição de uma referência sólida, uma movimentação organizada que abrace o estudo das grandes causas e promova a execução de projetos concretos de melhoria de vida das pessoas.

COMENTA-SE...

... Que o vereador Conegundes Soares poderá engrossar os punhos da Rede, o novo partido da bem colocada nas enquetes presidenciais Marina Silva...

... Zé Humberto, edil que se elegeu sem qualquer empurrão oficial, migra cada dia para uma posição de independência do Executivo. Está questionando a lisura de processos licitatórios e quer a implantação da Lei da Ficha Limpa no Município...

PARA REFLETIR

“Diante da seca, o silêncio que estoura os tímpanos. Diante da violência, os surdos e mudos que fazem de conta que o escândalo não lhes diz respeito. É assim na Assembleia Legislativa. Não há oposição com o tamanho que a democracia pede. Está assim no Ceará, em Fortaleza, em todas as capitais e em todos os estados”. (Fábio Campos)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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