terça-feira, 16 de abril de 2013

OBSERVATÓRIO



Há três anos o mundo perdeu José Saramago, o maior escritor português dos últimos tempos. Filho e neto de camponeses, Saramago foi laureado com os mais expressivos prêmios que a um escritor pode tocar, inclusive o Nobel de Literatura. Dizia que ser escritor e cidadão se confundia. Seus escritos tinham forte tinta política. Era engajado e comprometido com os destinos do povo e sua obra se constitui uma inesgotável fonte. Nesta coluna relembraremos algumas de suas frases.

IPAPORANGA
Dizia Saramago: “O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”. Na política, sobretudo entre os que estão por cima, é comum o pensamento de que o poder é definitivo. Porém, ele gira. No último dia 05 de abril tivemos uma prova disso. A Câmara Municipal de Ipaporanga estava superlotada. Presentes os nove vereadores que compõem aquela Casa Legislativa. Em pauta a votação das contas de governo do exercício 2009, de responsabilidade do ex-prefeito Nilson Moreira. As Contas vieram com parecer favorável do Tribunal de Contas dos Municípios. Pela lei, para desaprovar as contas com parecer favorável do TCM, são necessários dois terços dos votos. Era algo inimaginável. Que o ex-prefeito perdeu a eleição e, por consequência, a maioria na Câmara – todos sabiam. No entanto, era difícil supor que amargasse uma derrota acachapante. Mas ela ocorreu. Dos nove vereadores, seis votaram contra.

IPAPORANGA II
O primeiro efeito desse resultado é que o ex-prefeito fica legalmente impedido de disputar eleições pelos próximos oito anos. Como o Poder Legislativo é autônomo nesse tipo de julgamento, a única brecha seria se o processo tivesse ocorrido à revelia das normas que regem a matéria. Exemplo: julgamento sem facultar ao acusado o direito de defesa. Isso, porém, não ocorreu.

OPOSIÇÃO
“Acho que na sociedade atual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma” (Saramago). A política, nos últimos tempos, tem se ressentido da falta de ideias. Talvez porque as ideias sejam sementes que só germinam em solo fértil. E o terreno propício para a produção de boas ideias é o da boa vontade, do desprendimento, da gratuidade. Só os políticos vocacionados, aqueles que prestam reverência ao interesse coletivo, são capazes de gestar projetos luminosos.

OPOSIÇÃO II
Em Crateús, a oposição sofre de um problema crônico: a dificuldade de se manter unida. Debite-se na conta dessa desunião a derrota – que poderia ter sido vitória – na eleição passada. Sábado próximo passado, dia 13 de abril, tendo à frente Ivan Monte Claudino, alguns líderes oposicionistas foram à Rádio Poty se manifestar. A fala animou a militância. Mas é preciso mais. É necessário o compromisso público de dar às mãos ao redor de um programa de ação comum. Impõe-se que cada um que tem a pretensão legítima de ser candidato aceite se compor em torno de uma chapa com viabilidade de vitória.

OPOSIÇÃO III
Hoje o movimento de combate aos equívocos oficiais se resume a algumas associações de classe e blocos sindicais. Na Câmara, a alguns Vereadores aguerridos e destemidos. Somente. Embora a insatisfação popular seja real (prova disso é o resultado da última eleição) é imperioso que os formadores de opinião e as lideranças constituam um fórum sistemático de análise dos fatos e intervenção na realidade.

AMLEF
“Começar a ler foi para mim como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me, de repente, com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros. Quando fazes isso, o que te deslumbra é o conjunto. Não dizes: gosto desta árvore mais que das outras. Não, cada livro em que entrava, tomava-o como algo único” (Saramago). A Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF – realiza hoje a noite, no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras, solenidade para dar posse a três membros efetivos (Gonzaga Mota, Mônica Tassigny e Evandro Bezerra) e a um sócio honorário, o crateuense e ministro do Tribunal de Contas da União – TCU – Valmir Campelo. Nos últimos tempos, além das inúmeras tarefas que se desincumbe com brilhantismo, Valmir também tem se entregue ao bosque da literatura. Recentemente lançou em Fortaleza o livro "Obras Públicas - Comentários à Jurisprudência do TCU". Será saudado por este escriba, que também foi autor da concessão da honraria.

PARA REFLETIR
“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. (José Saramago)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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