sábado, 20 de abril de 2013

SAUDADES DO MEU PAI



Se estivesse entre nós, meu pai hoje estaria recebendo os parabéns.

Partiu em uma tarde de fevereiro. Ano 2004. O rio da aldeia em que nasceu estava cheio e ele foi dar um mergulho. Ninguém imaginava que aquela submersão seria para sempre.

Sua presença é uma constante em minha rotina.

Outro dia rabisquei um soneto em sua memória. Eí-lo:

“Meu querido pai, corpulento e afobado homem
De cor vermelha e idéias levemente escuras
Diviso-te espargindo, ombro e abdômen,
O sereno prestativo de tua arrojada figura.

Tinhas vários nomes e eu, um único jeito,
De abrandar tua explosão temperamental:
Ao invés da faca da palavra, o mutismo do olhar -
Denso como o caju, cortante como o punhal.

Adorava teus contornos de astúcia, o ás de precipitação
O comercial espírito, o passo apressado, a alma em flor
O palpitante núcleo do peito, lagoa sempre em ebulição

Que num fevereiro e ensolarado sábado se evaporou.
Pois é. E o mesmo rio que abriu tuas comportas de emoção
Um dia, como em redemoinho, de súbito te levou!”


(Júnior Bonfim)

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