domingo, 12 de maio de 2013

DIA DAS MÃES




O amor deitou sobre ti um cristal de inocência,
Amiga das plantas, filha do luar e da suave alegria,
Por isso me agrada fazer versos com paciência
À montanha iluminada de tua melancolia.

Meu jeito de sol expansivo, pedra solitária
Ou mágico aliado dos secretos elementos
Vem de teu regato, madura Rosária,
Mulher polida na cal do sofrimento.

A liberdade reconhece da luz o sonho dourado.
És minha mãe – assim como o mundo, a poesia,
Rosamada senhora por quem fui lapidado.

Mereces um lugar no trono alto da glória,
Pois fostes generosa para com a História:
Oferecestes ao povo um poeta alado!


(Júnior Bonfim, in Poesias Adolescentes e Maduras)

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O dia das Mães inevitavelmente nos remete a dois caminhos: o primeiro nos impele a pensar a magnitude da maternidade; o segundo nos leva ao útero que nos gerou, à lembrança da nossa genitora.

Conquanto respeite quem pensa diferente, acho constrangedor para alguém do sexo masculino falar sobre algo que o destino reservou única e exclusivamente para uma fêmea. A maternidade repousa no território sagrado do inefável, habita as grutas imperscrutáveis do mistério, dormita no altar solene das grandezas inatingíveis.

Na academia da maternidade, as mulheres fazem todos os exercícios físicos e psíquicos, ideológicos e fisiológicos imagináveis: colocam ali o peso do corpo, a leveza da alma, o sopro da inteligência e a aura do espírito. Quando uma mulher se torna mãe, sua personalidade se transforma indelevelmente. Jamais será a mesma. Por isso dedicamos incomparável predileção pela que nos gerou.
Só quem se abre à comunhão com os laços umbilicais; só quem conviveu com a figura invariavelmente afetuosa de uma mãe - ou, noutro extremo, foi privado ou perdeu a ternura da presença materna sabe quão importante é o papel da fonte pela qual vimos ao mundo.

Recordo Rosária, minha suave mãe, ornamento floral em minha vida, peça de arquitetura fisiológica donde brotaram roseiras preciosas. Praticou o amor em sua plenitude evangélica: deu a vida pelos outros, personificados nos entes mais próximos, sobremaneira pelos filhos e pelo marido. Meu pai revelava a predileção especial que tinha por um ou outro filho. Dos lábios da minha mãe jamais auscultamos qualquer sílaba discriminatória.

Concordo com Rubem Alves quando elege a árvore como linda metáfora para a mãe: “As árvores estão sempre à espera. Acolhem aqueles que as buscam na sua sombra. São silenciosas. Sabem ouvir. Não têm pressa. Sob as árvores os pensamentos se aquietam. Elas nos falam da estupidez humana, na sua correria sempre em busca dos olhares dos outros. Coitados dos adultos: sempre prisioneiros dos olhos dos outros e dos pensamentos que imaginam morar neles. Árvores não têm olhos. Por isso elas não fazem comparações. Não dizem que esse é mais bonito que aquele”.

Mães de todas as raças: continuem como colossais árvores de luz, deitando raízes profundas, produzindo frutos de sabedoria e germinando rebentos de uma cultura de paz! Feliz Dia das Mães!

(Júnior Bonfim, in Amores e Clamores da Cidade)

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