domingo, 15 de setembro de 2013

MARCUS FERNANDES


No mês de março do tenebroso ano de mil, novecentos sessenta e cinco, em pleno mar, Pablo Neruda escreveu a apresentação do livro Faz Escuro Mas Eu Canto, de Thiago de Mello, e fez uma indelével descrição do amigo: “O tempo e Thiago de Mello trabalham em sentido contrário. O tempo desgasta e continua. Thiago de Mello nos aumenta, nos agrega, nos faz florear e logo se vai, tem outros afazeres. O tempo se adere à nossa pele para nos gastar. Thiago passa por nossas almas para nos convidar a viver”.

Suponho que, à Neruda, senti vontade de desenhar esta orelha com a mesma tinta que o poeta chileno pintou seu amazônico irmão de poesia.

Desde quando aportou nesta Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção, o paraibano Marcus Fernandes tem revelado aos cearenses a fortuna de viver em sintonia com todos os tempos e desenvolver os talentos de todas as artes.

Perscruta os búzios do passado e os caracóis do escuro pisando a areia branca da Praia do Futuro. Surfa com benevolência nas ondas de qualquer frequência. A sua voz de trovão acende no céu de nossa alma relâmpagos de emoção. É, no palco que lhe aprouver, um cavalheiro da sedução.

Marcus José nasceu com espírito de águia: usa as asas da criatividade para romper os limites imaginários e as barreiras pré-conceituais. Lança mão da alavanca de Arquimedes para remover obstáculos conceituais. Com a brisa do amor e o tufão do destemor, voa à frente do seu tempo de forma aguerrida apontando o horizonte de luz e o oceano energizante da vida.

Corajoso e militante combativo, quando se dispôs a vestir a túnica de político, foi conduzido pelo povo que se banha nestes verdes mares como seu representante no Legislativo.

A oratória inflamada, a postura destemida e a intimidade com a ousadia o tornaram protagonista de republicanos debates, voto condutor de memoráveis resoluções e subscritor de históricas proposições.

Polivalente, bacharelou-se em ciências jurídicas, empunhando as bandeiras libertárias da advocacia; fez-se mestre, doutor e cientista na área da odontologia. Poliédrico, incursiona pelas pedrinhas de brilhantes da crônica (ou “conto-crônica”, como pontua Olimpio Araújo), pela ribalta azul da dramaturgia e pelas veredas mágicas da poesia.

Tece o fio da composição e nos mostra a peça de renda feita canção. Desenha a partitura e dá melodia à criatura. Chuta a bola do canto e cabeceia para o gol do encanto. Poliglota, passeia com desenvoltura pelo inglês, francês, espanhol e alemão. Em especial, adora o dialeto universal do coração.

Escrito com amor, este livro é um primor. Aureolada com gravuras da pena infanto-juvenil de Raphaella, filha de Marcus, a obra é um cuidadoso obelisco de nostalgia, um esmerado monumento literário erigido em louvor a Severino, pai do autor.

Este texto, mergulho sentimental nos balseiros da infância, resgate memorialístico paterno, é mais que um conjunto de contos – ou crônicas.

É, em verdade, um canto. Hino de amor à cultura nordestina, à linguagem popular, aos anônimos varões assinalados pelo ferro da civilização da sabedoria, dos mestres forjados no magistério oral dos tamboretes da vida, aqui representados por Severino.

É, sobretudo, uma composição à vitalidade, uma prova de que nossa passagem terrena pode ser uma saudável experiência de superação, um permanente elogio à renovação!

(Por Júnior Bonfim, na orelha do livro VINTE E DOIS CONTOS DE SEVERINO).

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