sábado, 16 de novembro de 2013

MISSANTA BONFIM - UM ANO DE SAUDADES!


Há exatamente um ano (dia 16.11.2012), com o coração envolto em lágrimas, recebíamos a notícia de que fora chamada para a Casa do Pai a nossa querida avó, Missanta Bonfim (Raimunda Rodrigues Bonfim).

Por ocasião do seu aniversário de 92 anos, na fazenda Mondubim, quando lhe desejamos muitos anos de vida, ela fez um reparo: preferia saúde!

Pela primeira vez, a nossa nonagenária guerreira emitia um sinal diferente. Era uma espécie de aviso, premonição ou similar.

Apesar do abalo, tínhamos aquela agradável sensação de que estávamos indo levar ao túmulo uma pessoa de inestimável valor espiritual. Uma santa!

À MISSANTA

O velho pau d’arco
Amanheceu completamente
Despido.
As pujantes carnaúbas
Fecharam-se em copas.
Os mandacarus esconderam
Espinhos e flores.
As aves canoras,
Que todas as manhãs nos saudavam
Com os hinos da superação,
Emudeceram.
O verdejante Juazeiro
Soltou lágrimas amarelas.
O rio Serrote cessou
O curso invisível.
A água do poço profundo
Solidificou.

Tudo é silêncio e reverência,
Consternação e mistério
Nesta terra com gosto de amendoim...

Morreu a árvore colossal,
Tombou a carnaúba maior,
Recolheu-se o mandacaru principal,
Calou-se a ave matriarca,
Caiu a folhagem do Juazeiro mestre.
Partiu-se o leito do rio generoso.
A água faltou.

Raimunda Rodrigues Bonfim, a Missanta,
Amou viver e viveu para o amor.

Quanta lição proferiu
Com a leveza do seu silêncio?!

Amou viver e viveu para o amor.

Viu partir o esposo amado
E três dos filhos do seu ventre.
Tudo suportou e superou
Porque tinha o amor.
Conheceu o amor.
Viveu o amor.

E este foi seu legado maior: o amor!

Soube o gosto do espinho e o tempero da flor,
Porque tinha o amor.

Viveu o esplendor da simplicidade.

Como o rio do quintal de sua casa,
Contornava tranquilamente
As pedras da adversidade.
(Afinal, para que as discussões inúteis
E os confrontos fúteis?).

Como a mãe Natureza
Nada rejeitava. Sabia
O valor e a serventia
De tudo que iluminava a noite
E fazia palpitar o dia.

Reina o silêncio.
Mas esse silêncio não é de dor. É de louvor.
Delicado louvor à sublimação.
Pois mais uma vez ela nos faz a conclamação:
- “Sigam o meu discreto legado.
Nunca esqueçam
A vital lição.
Continuem resolutos
Na luminosa missão”.

Amou viver e viveu para o amor a nossa Missanta.
Era pura e profunda a nossa Raimunda.
Foi ser Miss no céu a nossa tia/vó Santa.

(Júnior Bonfim)

Nenhum comentário: