sábado, 3 de agosto de 2013

TEMPO DOS “FRANCISCOS”


A extraordinária beleza da paisagem moderna reside no fato de que, paralelo ao filme das grandes vias de infortúnios e mazelas que chocam a humanidade, eclode uma exuberante passarela de álamos, um imenso jardim de flamejante esperança. Em contraponto ao exibicionismo da crueldade, surgem protagonistas da bondade, dóceis criaturas que carregam ramos de ternura e enfrentam as trevas da dureza conduzindo estrelas de delicadeza. Um expoente dessa estirpe que pratica a benevolência ativa é, sem embargo, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, nome escolhido em reverência a um amante da biocracia nascido em Assis, na Itália.

Para quem costuma cantar a Oração da Paz, Francisco é mais que um nome. É um emblema azul, um roteiro existencial, uma profissão de fé no altruísmo, um voto de amor ao despojamento, uma apaixonada aliança com os mais expressivos valores evangélicos.

Francisco é o humano sintonizado com o Divino, adulto que se conserva menino, mortal que descobre o transcendental. Por isso, constantemente temos que suplicar ao Onipotente para que nos prodigalize com a abertura de coração e a serenidade de espírito, a fim de que possamos distinguir, em qualquer edificação do gênio humano, a argamassa do bem.

Quando adquirimos a liberdade dos pássaros, somos capazes de perceber essa elétrica carga de bondade que perpassa os fios de todas as crenças, convicções, idéias e religiões. Esse campo magnético do Inefável pode ser identificado em um terreiro de Umbanda ou em uma Igreja Evangélica, no espaço de um Centro Espírita ou no altar de um Templo Católico. O que o define não é a massa da construção material, mas a corrente que movimenta a arquitetura imaterial. Nas palavras do Dalai Lama, “a melhor religião é aquela que te faz melhor. Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...”

No dia 12 de junho estávamos, eu e minha consorte, aguardando horário de vôo no aeroporto Pinto Martins. De repente, soou a informação de atraso no embarque. Como hoje sei que nada ocorre por acaso, resolvi exercitar a tolerância. Isso é teste à paciência, raciocinei. Começo a ler um livro quando me chega um colega da AMLEF: Francisco, de sobrenome Castro. Fluiu, então, um diálogo leve e prazeroso. Francisco fez um resumo envolvente deste livro, PEQUENAS HISTÓRIAS DE FRANCISCO, síntese da sua vida. Já tinha informações, embora esparsas, da sua virtuosa história. Nunca imaginei, no entanto, quão imenso era o acervo patrimonial escriturado no seu cartório existencial.

Ele não é apenas o filho de uma mulher simples e guerreira, o órfão de pai ainda criança, exposto à selva de concreto da adversidade urbana e que se firmou como um cidadão letrado, possuidor de mais de um diploma universitário, respeitado e vitorioso.

Este “Francisco” é um condor livre e de benignos costumes, que atravessou com tranqüilidade o salão dos passos perdidos da era profana, praticou as quatro viagens essenciais, lapidou o granito bruto da alma humana, construiu cárceres para o vício e erigiu portais à virtude.

Eis um artífice da rotatória do companheirismo: passou na prova quádrupla, caminha diariamente pelas avenidas do serviço à humanidade, exibe a estética de construir relações negociais com ética e descobriu o sentido de dar de si antes de pensar em si.

Atentem bem: este Francisco, dito Castro, é um hospedeiro da ciência, um sementeiro da sabedoria, um insuflador da bondade! Sabe que sobre nossas consciências paira uma inteligência suprema, causa fundante de todas as coisas e que atua soberanamente com lastro na justiça e na paz.

É despiciendo dizer, porém vou repisar: com a leitura dessa obra, a admiração que nutro por ele se robusteceu.
Suponho não ser vanglória ou soberba afirmar que o mundo se reclina, consciente e reverentemente, ao despojado império da humildade, personificado naqueles que sobrepõem a prática à prédica.

Vivemos a era dos “Franciscos”, seres encantados e encantadores que batem com ternura à porta do nosso coração para nos brindar com flores de gratidão e apontar a vereda da evolução! Este Francisco é um deles!

(Júnior Bonfim, na Revista GENTE DE AÇÃO deste mês)

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