sábado, 22 de fevereiro de 2014

JOSÉ OLÍMPIO DE SOUSA ARAÚJO

A recordação é uma corda que rebenta no recôndito da nossa íntima órbita. É um rejuvenescedor exercício de prazer: “recordar é viver!”. Ao recordar, o coração dilata; recordar é abrir uma ata, seja ela uma escritura que relata ou uma fruta cordata.

Recordo 28 de julho de 2007. Dia em que fomos admitidos, eu e José Olímpio de Sousa Araújo, na sala iluminada de uma fraterna confraria batizada Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF.

Olímpio, filho do escrivão José Henrique de Araújo e de Carmelinda Francisca de Sousa Araújo, nasceu para ser bandeirante das letras, caçador das esmeraldas linguísticas. Licenciou-se na arte de Pitágoras, concluiu também Pedagogia e Letras. Depois fez pós-graduação em Planejamento Educacional. Entra e sai com habilidade em qualquer escola literária. Hoje, é o Secretário da AMLEF, impecável guia na condução de todos nós pelas selvas da gramática.

Homem que descobriu o dínamo revolucionário da fé, tem nos mostrado que, sem espiritualidade, tudo se fragiliza, inclusive a inteligência. É. Melhor que qualquer outro – e por experiência própria - Olímpio sabe que “a fé remove montanhas”. Olímpio, "aquele que pertence ao Monte Olimpo", lugar onde os deuses da mitologia grega erguiam suas moradas, conhece a atmosfera superior da energia inesgotável que impulsiona os que acreditam sem ver.

Não por acaso esse Acadêmico é um disciplinado peregrino do caminho delicado da sabedoria. Podia brilhar no alto da montanha, nos píncaros do Olimpo, mas prefere a planície.
A milenar cultura oriental produziu um amigo da sabedoria chamado Lao Tsé. Lao significa “criança, adolescente, jovem”. Tsé indica “idoso, maduro, sábio, espiritualmente adulto”. Segundo Huberto Rohden, podemos transliterar Lao Tsé por “jovem sábio”, “adolescente maduro”.

Olímpio descobriu, como o filósofo chinês Lao Tsé, que “a razão por que os rios e os mares recebem a homenagem de centenas de córregos das montanhas é que eles se acham abaixo dos últimos. Deste modo podem reinar sobre todos os córregos das montanhas. Por isso, o sábio, desejando pairar acima dos homens, coloca-se abaixo deles; desejando estar adiante deles, coloca-se atrás dos mesmos. Assim, não obstante o seu posto ser acima dos homens, eles não sentem o seu peso; apesar do seu lugar ser adiante deles, não consideram isto uma ofensa”.

Por isso Olímpio é humilde, carrega no peito o ‘húmus’ que circunda aquilo que os índios nomeavam de “a grande laje”, Itapebussu. Esse Olímpio, que principia José, também aplainou a alma com a santa discrição do carpinteiro de Nazaré. E é sensível aos despossuídos. Doem a esse devoto de Maria os que sofrem no “vale de lágrimas” das injustiças sociais.

Filho do conselho, sem o saber é espelho. Figura humana titular, pai de família modelar. A rotina litúrgica o tornou um orador de fala cirúrgica. De maneira inteligente, sabe onde lançar a semente. Seus principais aperitivos são os sagrados códigos normativos. Deles fala com fervor, pois sabe que o maior é o amor!

Apreendeu, sobremaneira, o que importa nesta passagem terrena e por isso seu coração se felicita com pouco. A mundana ilusão não lhe causa emoção. Quer ser sal, basta-lhe o principal. Sabe, como o sábio Lao Tsé, que

“Quando nos contentamos em Ser,
Pura e simplesmente Ser,/
Sem comparar, sem competir…
Realizamos o Essencial.
(...)
O sábio faz o que tem que fazer
E se afasta…
Assim realiza o céu em si mesmo”.


(Júnior Bonfim)

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