domingo, 24 de abril de 2016

O DIA DE FINADOS E A VIDA APÓS A VIDA!

Sempre ao derredor do dia em que celebramos os que deixaram o nosso convívio, direcionamos a nossa atenção para a mesma coisa: a estrutura física dos cemitérios – que popularmente alguns chamam de campos santos - o estado de conservação dos túmulos etc.

Raramente, ousamos reflexionar além disso; dificilmente, adentramos no âmago da questão: - Qual o sentido da existência? - Qual o verdadeiro significado da vida? - Por que resistimos à morte?

Os ocidentais temos muita dificuldades de tratar desse tema. Em que pese as vistosas conquistas que temos obtido na esfera tecnológica, ainda tratamos o tema da morte como um tabu. Ensinam-nos a negar a morte e a internalizar que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Vivemos a negá-la. (Para ser sincero, eu mesmo via de regra resisto em escrever sobre o assunto...).

É tão forte e arraigado este pré-conceito que falar da morte é considerado algo mórbido, e – pasmem! - corriqueiramente julgamos que a simples menção a ela pode atraí-la sobre nós.

Noutro extremo, há também quem encare a morte de maneira quase ingênua, frívola ou irracional: “se chega para todo mundo, não é nada de mais. Vai chegar prá mim também. É absolutamente natural”. Ambas atitudes estão pouco próximas da com-preensão do verdadeiro significado da morte.

O professor Sogyal Rinpoche, que nasceu no Tibet e é um dos pioneiros na promoção do diálogo entre a Ciência e a Espiritualidade, leciona que “todas as tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é um fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo”.

Segundo o mestre budista, são desastrosos os efeitos dessa atitude de negação da morte. Vão além da esfera individual, afetam o planeta inteiro.

Disso resultou o aço opressivo que pesa sobre nossos ombros: uma sociedade acorrentada por padrões comportamentais equivocados, que salpica de lama os valores mais sublimes do humanismo. Rendidas pela completa permissividade, as pessoas acham que obrigatoriamente têm que ser “modernas” (no sentido pejorativo do termo),

cultuam uma rebeldia sem sentido, priorizam ser “sexy” desnudamento completo, em todos os sentidos, por dentro e por fora.

Disseminou-se uma falsa cultura de saúde total, em que padrão de beleza rima com excessiva magreza, que substituí a natural alegria pelo espectro da anorexia.

O resultado desse caldo insípido é um banquete surreal, no qual predomina um cardápio composto por dois ingredientes desprovidos de sedução: uma incontida decepção e uma crescente frustração.

Que estrada estamos a percorrer? Que farol poderá nos guiar? É difícil responder. Certo é que, se quisermos continuar, temos que urgentemente começar a mudar.

Como bem asseverou Charles Chaplin: “O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido”.

Supondo que esta vida é única, não desenvolvemos uma visão de longo prazo e, tomados pelo egoísmo, passamos a saquear o planeta em que vivemos para atingir nossas metas imediatas. E isso pode ser fatal no futuro.

Neste mês de novembro, em que celebramos o dia de finados (que deveria ter outro nome, pois finados diz respeito a falecido e encerra uma compreensão da morte com “fim” – o que não é o caso), alimentemos, como Raymond Moody, a forte e viva esperança de que há, de fato, uma “vida após a vida”.

(Júnior Bonfim)

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