quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

CONJUNTURA NACIONAL



HISTORINHA ENGRAÇADA...

Pernambucano audaz, Newton Coumbre passava em frente ao quartel de Obuzes de Olinda, logo depois do golpe de 64. Carregava uma bomba d'água enrolada em jornal. Dois sentinelas, fuzis em punho, avançaram sobre ele, aos pontapés:

- O que é isso?

- D'água! D'água!

Mandaram jogar o embrulho no chão e levaram-no até o coronel:

- O que é que tem no embrulho?

- Uma bomba d'água.

- Por que não disse logo e ficou dizendo "d'água"?

- Coronel, eu dizendo só "d'água" eles me bateram tanto; se dissesse "bomba" teriam me fuzilado.

Mais uma historinha pescada pelo amigo Sebastião Nery.

HISTORINHA TERRÍVEL...

La historia más terrible la encontré hoy en las memorias de una mujer, Misia Sert. La llamo suplicio de las moscas y la transcribo literalmente: "Una de mis compañeras de habitación había llegado a dominar el arte de cazar moscas. Tras estudiar pacientemente a estos animales, descubrió el punto exacto en el que había que introducir la aguja para ensartarlas sin que murieran. De este modo confeccionaba collares de moscas vivas y se extasiaba con la celestial sensación que el roce de las desesperadas patitas y las temblorosas alas producía en su piel." El suplicio de las moscas, contada pelo genial Elias Canetti.

"Um falar doce e delicado quebra as asas do próprio diabo." (Provérbio abissínio)

DEM...olido

O DEM está demolido? Ainda não. Mas as estacas esparsas estão caindo de podre. O escândalo Arruda estoura o partido. Não adianta protelar a situação. Os vídeos com dinheiro na cueca, na meia, na sacola quebram qualquer escudo defensivo. Arruda, o governador, poderá contratar os melhores advogados. Se não renunciar, a pressão da opinião pública, via mídia, será devastadora para sua imagem. Os deputados de Brasília só terão uma alternativa: o impeachment. Definhar agora ou morrer mais tarde, com sangue escorrendo pelos poros, eis a questão.

DEM...olição

O DEM poderá, até, ter uma sobrevida e chegar, sem fôlego, ao pleito de 2010. Sem discurso, inerme, oco. Poderá, até, ganhar algum volume de voz, principalmente se contar com a rejeição contundente ao escândalo, pelas vozes do líder do partido no Senado, José Agripino, do presidente da sigla, Rodrigo Maia, do líder na Câmara, Ronaldo Caiado e do bravo senador Demóstenes Torres, que preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Mas o rescaldo do escândalo baterá na eleição de 2010. Sem dúvida.

DEM...arcação

O mensalão do DEM será a demarcação de uma era. Acabou-se o ciclo do mensalão exclusivo do PT. Que já vinha entrando em rota estreita, por conta do pedaço mineiro do mensalão, jogado sobre o colo do senador Eduardo Azeredo, do PSDB. Agora, assiste-se ao espetáculo de canibalização recíproca dos mensalões. O do DEM supera todos pela estética: cueca e meias. Deixa o do PT no chinelo pela extravagância dos atores. Até a "Oração do Mensalão" foi rezada. Coisa escatológica o gesto de dois mensaleiros, abraçados ao secretário Durval. Agradeciam aos céus pela existência daquele providencial secretário de Relações Institucionais. Meu Deus do céu, onde chegamos...

DEM...onização

Nas próximas semanas, entrando no ano eleitoral de 2010, a demonização tomará conta da aliança entre PSDB e DEM. Este partido, com imagem mais suja do que pau de galinheiro, não será mais vital sob o prisma eleitoral. Poderá adicionar minutos importantes para a composição do tempo na mídia eleitoral, mas o apelo do voto será quase nulo. É verdade que o eleitor tende a nivelar todos os partidos como farinha do mesmo saco. Mas sem o discurso do mensalão contra o PT, o DEM será uma sigla de costelas quebradas. Ou, se quiserem, de coluna vertebral fracionada.

DEM...ência

A consequência, no curto prazo, será um Dândi dançando na escuridão. Ou seja, um ente perdido no meio da floresta política, sem saber para onde ir. Certa demência – no sentido de fuga da realidade, confusão mental – tomará conta da sigla e de seus dirigentes. É evidente que a bateria no bumbo do mensalão do DEM respingará nos aliados tucanos. A candidatura da oposição à presidência da República sofrerá abalos.

SERRA DEM...orará ?

Serra, que assume publicamente a posição sobre o muro, ficará ainda mais em dúvida. "Diga-me, espelho meu: serei o melhor candidato ou a faixa passarei?" Este consultor tem apenas uma certeza: o episódio de Brasília expande a taxa de dúvidas que carimba o perfil de Serra. Se a tendência do governador paulista oscilava entre 60% a 70% – para a banda da aceitação – a taxa baixou para 50% a 60%. Ou seja, Aécio ganhou uma escada de 10 pontos percentuais na balança das probabilidades.

SERRA NA MONTANHA NORDESTINA

José Serra foi ao Ceará, território político de seu arqui-adversário Ciro Gomes, para tirar a limpo essa história de que os nordestinos não o vêem com simpatia. E passou a enumerar as coisas que teria feito pela região, a partir da criação do Fundo para o Desenvolvimento do Nordeste. Citou coisas boas – ótimas, por sinal – como os remédios genéricos, fruto de sua atuação no Ministério da Saúde, por ocasião do governo FHC. Mas não adianta falar para audiências selecionadas. É claro que os tucanos cearenses arrumaram uma platéia simpática.

"Não é o tempo que nos falta – é a serenidade para pensar noutra coisa além do alarmante assunto de todos os dias." (Euclides da Cunha)

MARCA

O governador paulista é um exemplo de administrador competente. Sabe arrumar a casa, a partir dos cofres. Escolhe quadros preparados, gente talhada para aumentar a arrecadação, como esse seu secretário Mauro Ricardo, conhecido pela engenharia financeira que monta para tirar dinheiro dos setores produtivos. Muito bem. Mas Serra não é um cara simpático. Não tem carisma. Parece que quer puxar as orelhas das pessoas. E tem escrito na testa a marca paulista. Marca que, em regiões como nordeste e norte, tem conotação de mando, poder, força, dominação. Gera resistência em grupos. A logotipo serrista, nesse caso, não ajuda muito.

REENGENHARIA ELEITORAL

Imaginemos, agora, a hipótese de Serra desistir de sua candidatura ao Planalto. Decisão tomada em janeiro de 2010. Aécio topa entrar no lugar. Nesse caso, a roda colocará o norte no lugar do sul. A reengenharia eleitoral mudará o mapa das alianças. O PMDB, que hoje tende (80%) a formar aliança em torno de Dilma, inverteria o caminho. Neves puxaria a maior fatia do partido. Ciro poderia mudar seu posicionamento em relação ao tucanato. E Dilma teria maiores dificuldades em fechar o leque de alianças.

ANÍBAL, SENADOR

O bom deputado José Aníbal, líder do PSDB na Câmara, é um dos mais fortes postulantes à chapa tucana em SP para o Senado. Zé já teve ótima votação para o Senado, quase 5 milhões de votos em 2002. Por enquanto, o quadro para o Senado abriga os nomes de Aloizio Mercadante (PT), Orestes Quércia (PMDB) e Gabriel Chalita (PSB). Dante desses, o nome do tucano Aníbal tem boas chances.

E SKAF, HEIN?

E Paulo Skaf do PSB, hein? O que aconteceu com ele? É candidato? A quê? Depois que Ciro Gomes foi pré-lançado por Lula como candidato ao governo de SP, o presidente da FIESP se escondeu. Até para espiar a cena de longe. Skaf entrou no partido errado. Até porque o "S" do socialismo da sigla não combina com a identidade da maior federação de indústrias do país. Nem que o "S" seja apenas uma letrinha como ele chegou a insinuar. Há pessoas bem intencionadas – e Skaf parece ser uma delas – que entram em curva antes de correr na reta. Na política, o rumo é assim: primeiro, uma reta; siga por ela pelo maior tempo que a caminhada exigir. Depois, a pessoa pode entrar na curva. Fazer o inverso só funciona para pessoas bem treinadas. Profissionais.

PERIGO DE DESCARRILHAR?

Na esteira do escândalo no governo Arruda, o site Carta Polis, de Brasília, antecipa informação que deve deixar muita gente fora dos trilhos. O site informa que o próximo alvo da PF é o propinoduto da Alstom, fabricante francesa de trens e metrôs, que abasteceu políticos locais. O atual governador e o ex, Joaquim Roriz, elegeram a empresa, com 17 processos no MPF, como principal fornecedora do metrô do DF. Está prestes a assinar um contrato para instalar um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na capital federal. O esquema envolveria lavagem de dinheiro, sendo revelado a autoridades judiciárias suíças após prisão de um vice-presidente da Alstom.

BENJAMIM E LULA

César Benjamin chutou o pau da barraca. O artigo na Folha de S.Paulo, onde apresentou uma versão sobre a vida íntima do presidente, foi desmentida pelos companheiros que vivenciaram o episódio. Este consultor acredita na versão do cineasta Silvio Tendler. Lula era (e ainda é) um tremendo gozador. Queria espantar o marqueteiro americano que se encontrava à mesa, por ocasião do relato, em 1994. A história era uma piada. Benjamin deve ter boiado. Ou, malicioso, quis cometer um ato de vingança. O tiro saiu pela culatra. A Folha deveria ter buscado o contraponto antes de publicar o artigo.

CENA EXTRAVAGANTE

Como é possível um dono de jornal – Tribuna do Brasil – guardar dinheiro na cueca? Dinheiro de suposta propina? Que jornalismo, hein?

BRASIL VAI RECUAR?

O Brasil continuará a desconhecer a eleição em Honduras? Ou recuará, aceitando o resultado das eleições que elegeram o conservador Porfírio Lobo, 61, como presidente da República. Este consultor acredita que já é hora de o país cair na Realpolitik. Sob pena de aumentar seu isolamento na esfera internacional.

POLÍTICOS E TIGRES

Ao visitar a montanha sagrada de Taishan, Confúcio, o sábio, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres.

- Por que não se muda daqui, perguntou Confúcio.

- Porque os governantes são mais ferozes que os tigres.

JANTARES DE FIM DE ANO

Fim de ano com muita festa. Este ano, o clima sinaliza mais fervura no comércio e nos serviços. Três eventos ocorrerão dia 4, sexta-feira, em São Paulo. Os jantares do Sindeprestem – sindicato-ícone e líder dos serviços terceirizados – do Sesvesp – entidade que agrega as empresas de segurança privada; e do Sindhosp – sindicato dos hospitais.

"Viver, sofrer, morrer, três coisas que não se ensinam nas Universidades, e que, todavia, encerram em si todo o viver." (Paul Auguez, poeta francês)

CONSELHO AOS DIRIGENTES DO DEM

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes do Democratas:

1. Não demorem na decisão. Assumam, com coragem, a posição mais conveniente para atenuar o impacto do mensalão do governador Arruda.

2. Se a decisão ficar para as calendas – após apuração de todas as denúncias – o partido sangrará até aquela data.

3. Alternativa de bom senso seria a suspensão temporária do governador até o término do processo. Com possibilidade de reingresso ou expulsão definitiva do partido.

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(Por Gaudêncio Torquato)

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