sábado, 8 de maio de 2010

JOSÉ ALBERTO MACEDO


Felizes os que possuem a ventura de descobrir, em cada evento da existência, o bafejar do vento da sapiência!

Louvados são aqueles que, sob a aparente vala da ignorância e da escuridão, acendem o tição do aprendizado e conservam a lição como uma chave que abre as portas do coração!


Cresci ao lado de dois ferreiros, o Antonio Ferreira e o Matias. Religiosamente, marreta à mão, os dois saudavam o frio da madrugada acionando um velho fole e acendendo o fogo poderoso que moldava o ferro, magicamente transformado em singulares facas, vistosas foices, arrojadas chibancas e outras peças indispensáveis à vida campesina.

Descobri, com frio e o fogo da vida, gente feita de minério que se lapidou com o tempo, esse mestre extraordinário, e se fez instrumento da generosidade humana.

José Alberto Macedo, o Zé Alberto, cearense há muitos outubros com raízes em Brasília, integra o rol de admiráveis figuras cuja personalidade foi se refinando com o filtro do convívio amigável. Recebeu, da reitoria da vida, o invisível título de doutor “honoris fraternus”.

Dedilho estes fonemas no dia em que se rememora o batismo do poeta da fonte dos grandes amores, talvez um dos mais vastos seres da literatura universal: Wiliam Shakespeare. A trajetória existencial do Zé, delicada cachoeira de aprendizados, me lembra um poema que se atribui a esse gênio que se irmanou com o som mais profundo da terra, o som da alma humana. Em um texto sobre as descobertas da maturação nas relações, Shakespeare revela: “Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma”. E sai, como um lavrador que debulha uma espiga de milho verde, distribuindo caroços de nutritiva sabedoria.

“E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida”.
Zé Alberto deveria se chamar Zé Aberto. Eí-lo, amigos: um ser permanentemente aberto às pessoas e ao mundo. Nascido no sítio da família, sob o clima ameno da serra da Guaraciaba, no Ceará, desde a relva da infância sempre soube se relacionar bem. É óbvio que muito sorveu da seiva serena do caule familiar dos genitores: Meton Carvalho Macedo e Alda Ribeiro Macedo. “Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha”. Ele, de tradicional família de Independência; ela, filha do Coronel Porfírio da Barra, um dos maiores latifundiários da região. Ainda viva e disposta, a octogenária mãe é uma flor de luz para o filho.

“Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos”.
No fulgor da juventude, Zé Alberto mergulhou na correnteza da militância político-eclesial liderada por Dom Fragoso em Crateús. E conheceu o túnel sem lustre do tempo da ditadura: viu amigos perseguidos, colegas algemados, libertários presos, combatentes desaparecerem... E também deixou o berço. Passou um tempo em Recife, outro no Rio de Janeiro, até se fixar na Capital da República.

Em Brasília, aeronave onde tomou assento no ano de 1973, laborou numa Casa de Peças na W3, em seguida na CNEC. Depois, por intermédio do conterrâneo Pompeu de Souza, se firmou na Confederação Nacional da Indústria – CNI, onde está até hoje. Na CNI conheceu Albano Franco, um sergipano que se destacou na seara empresarial e na política partidária. Ao mesmo tempo em que presidiu a entidade representativa do segmento industrial por 13 anos, Franco exerceu mandato de Senador, Governador de Estado e Deputado Federal. Amigo íntimo de Albano, Zé Alberto tornou-se uma espécie de embaixador do Sergipe na Sede da República. “E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão”.

Em 1974 levou ao altar Márcia Monteiro Macedo, sobralense que conheceu no Colégio Regina Pácis de Crateús. Com ela assinalou 03 anos de torrencial namoro e 27 de harmônica união matrimonial, que lhes brindou com 3 filhos: uma mulher - Raquel, que reside em Brasília; e dois homens – Márcio, advogado em Fortaleza e Marcelo, analista de sistemas em Goiânia. No ano de 2001, empós um longo período de sofrimento e dor, assistiu o desencarne da amada. E passou a exibir o amuleto da viuvez. “Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa. Por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas. Pode ser a última vez que as vejamos”. Costuma dizer que há uma diferença entre separado e viúvo. O separado fez uma opção: concordou em se distanciar da pessoa que amava; já o viúvo teve a pessoa amada arrancada do cômodo da intimidade. “E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais”.

Apesar de aposentado, Zé continua em plena atividade. Aproveita o tempo livre para investir em viagens pelo mundo afora e se aquecer com a ternura dos netos: Tainá, Artur e Isabela. Detentor de imóveis – dentre eles um de inestimável valor sentimental: a Cacimba da Roça, em Crateús – considera os amigos o seu maior patrimônio. “Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher”.

Roça ordeira, cacimba de cordialidade, croa de afeto, o que mais se sobressai nesse honrado cidadão é a habilidade convivencial. Sabe pisar, entrar e sair com invulgar elegância em todas as ínvias veredas das relações humanas. Fala pouco, apenas o essencial. – “Dê a todos seus ouvidos, mas a poucos a sua voz.”

Eis um príncipe da simplicidade, um súdito aplicado na majestosa escola da arte de viver. É um açude colossal de sabedoria e singeleza. Salve, Zé!


(Por Júnior Bonfim – na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste e na Revista GENTE DE AÇÃO, Ceará)

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