sábado, 8 de maio de 2010

OBSERVATÓRIO


Prefeito pela segunda vez, Paulo Nazareno era o mais forte eleitor do município na sua própria sucessão, no ano de 2004. Em meio ao cipoal de desgaste dos seus principais colaboradores – que se engalfinhavam pela indicação – Paulo resolveu lançar um neófito: Carlos Felipe. Jovem laborioso, com grande destreza na arte de Hipócrates, Felipe era um nome imaculado naquele universo de supostas máculas. Como um pai que deseja o melhor marido para uma filha, Paulo viu Carlos Felipe como o candidato dos sonhos. O nome ideal. O príncipe! E assim passou a chamá-lo tempos depois, quando as relações entre ambos se estremeceram. E aí já era por razões outras: passou a vislumbrar no ex-pupilo ares de pouca humildade, inclinações messiânicas, arroubos de quem quer ver todos os demais aos seus pés.

O PRINCÍPE I

“O Príncipe” é o título da famosa obra do italiano Maquiavel, o mais festejado cientista político de todos os tempos. O livro retrata a experiência de Maquiavel em analisar as estruturas de um governo, oferecendo ao Príncipe Lorenzo de Médici uma forma de manter-se permanentemente no poder, sem ser odiado por seu povo. Nessa obra, Maquiavel trabalha, dentre outros, com dois conceitos essenciais: Virtu e Fortuna. Por “virtu” Maquiavel entende a capacidade pessoal de dominar os eventos, de alcançar um fim objetivado, por qualquer meio; por “fortuna” entende o curso dos acontecimentos que não dependem da vontade humana. O primeiro está ligado à preparação pessoal; o segundo, à sorte.

O PRÍNCIPE II

Na ótica Maquiavélica, a diferença entre os governos abiscoitados pela “virtu” e os conquistados pela “fortuna” é que os primeiros são mais duradouros. O critério para distinguir a boa política da má é o seu êxito. O êxito é medido pela capacidade de manter o governo em estabilidade, sob o signo do sucesso.

O PRÍNCIPE III

Carlos Felipe conquistou a Prefeitura de Crateús montado no tapete da fortuna. Bafejado pela sorte, inseriu-se na política da terra em que nasceu num momento de saturação das principais lideranças locais. Daí para a vitória, só precisava ter duas coisas: disposição pessoal e falar o que o povo queria ouvir. E dessas duas tarefas ele se desincumbiu com maestria. O nosso atual gestor se preparou para ser o melhor candidato; nunca o melhor prefeito. Por isso, a urbe sofre, lamenta, se angustia. Há uma enorme inquietude que aperta o coração da cidade. Há mais de um ano que o prefeito tateia no aprendizado da administração. E tem dificuldades. As pessoas se perguntam: - Será que merecíamos passar por tão dolorosa purgação? - Será impossível uma saída?


O PRÍNCIPE IV

É óbvio que há algo sendo feito. A administração já viabilizou uma cartela apreciável de pequenas e médias realizações. Mas nada de significativo, de impactante, de revolucionário. Que possa se intitular como “Vida Nova”. Entretanto, também não nos apetece a idéia de torcer pelo avanço dessa corrosão de credibilidade, pelo crescimento dessa areia movediça institucional. Precisamos superar esse estágio de luta política baseado na degradação. Melhor seria que a cidade estivesse arrumada e fagueira, como uma exuberante donzela, respirando ares de progresso sustentável. Travaríamos não uma batalha de mediocridades, mas uma disputa de excelências, sob o pêndulo saudável da virtu e da fortuna. E o povo ganharia.


DEPUTADOS

Começa a se delinear o quadro de concorrentes ao Legislativo Estadual. Certos: Nenen Coelho e Hermínio Resende. Políticos tradicionais, Nenen e Hermínio alinhavam suas estruturas e se preparam para a largada oficial. Outro nome é do médico doutor Pierre. Sonha ser confirmado como o candidato da tribo situacionista. Como seu objetivo maior é ser candidato a Prefeito, inserindo-se no rol dos postulantes à Assembléia Legislativa (independente do resultado), será um nome com assento na mesa em que se discutirá o cardápio sucessório municipal. Outro nome que está sendo ventilado é o do causídico Alexandre Maia. Aliás, O PSOL, legenda guiada pelo astro rei ideológico, pretende lançar em Crateús candidatos a deputado federal e estadual. Para a Câmara dos Deputados, apresentaria o líder sindical Paulo Giovani. Como candidato a uma vaga na Assembléia Legislativa, Alexandre Maia vislumbra a possibilidade de ser suplente de João Alfredo, estrela maior do PSOL. Considerando que certamente João Alfredo disputará a Prefeitura de Fortaleza nas eleições de 2012, o seu suplente tem grandes chances de assumir.


O DILEMA DE MÁRCIO

Márcio Cavalcante, Presidente da Câmara, vive um dilema Hamletiano em relação ao PSDB. Ainda está formalmente filiado ao partido, mas nenhum laço o une à legenda tucana. Quer sair do ninho, porém teme perder as asas do mandato, porque poderia amargar um processo por infidelidade partidária. Por outro lado, a legenda não o deseja mais em seus quadros. No entanto, evita liberá-lo para que busque outro habitat.


PARA REFLETIR

“Recorda-se de tudo o que você passou? Nenhuma coisa ou emoção é permanente. Como o dia e a noite, há momentos de felicidades e momentos de tristezas. Aceite-os como parte natural das coisas, porque eles fazem parte da natureza de sua vida”. (Malba Tahan)


(Publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste - Crateús, Ceará)

Nenhum comentário: