sábado, 31 de julho de 2010

EXPRESSO DO PASSADO

Os sinos repicam. Partiu o trem. Serpenteando na linha segue o comboio. Vagões atrelados em sinuosas curvas. Apito lânguido na corrida nos trilhos. Rumo certo para estreitar distâncias. Aproximar cidades no intercâmbio de gente e de mercadorias. Fumaça que se perde na poeira do tempo...

Assim o trem na condução da própria vida em busca do progresso. O expresso vai partir. Vai chegar. Idas e vindas com paradas obrigatórias na estação da via férrea. Descrição bucólica da vida sendo transportada em blocos. Casinhas de janelas nas laterais abertas ou fechadas para o mundo que circula entre paisagens do sertão ou da cidade. Mãos acenando. Rostos na vitrina e olhinhos expectantes na espiral dos carros aglutinados da composição férrea. Serpentear cadenciado. Ritmo de música no deslizar do trem quase parando.

Passado! "O Expresso do Passado" em sugestivas crônicas de Seridião Correia Montenegro. Um escritor moderno que resolveu investir nas lembranças. Relembranças saudosistas de um observador atento aos reclamos do passado. Histórias de uma vida que se torna romance na singeleza dos fatos, na harmonia um texto compatível com a saudade. Forma de recordar pequenos momentos que se agigantam pela singeleza e bom humor. Deliciosa cadência do "café com pão, bolacha não" a cantar o trem numa sinfonia de despedida. Histórias repassadas com o enleio de quem sabe tirar proveito do que existe no campo das belezas tênues da natureza. Canto de paz em "O Expresso do Passado" retratando vida. Contágio de doces recordações na sustentação da poesia intimista de quem ama a simplicidade e consegue transformá-la em assunto de livro.

Livro bom para os que gostam da leitura sem rebuscados. Texto puro no ideário de trazer ocorrências para o deleite dos observadores enamorados com as belezas espontâneas. Quantas histórias encadeadas no rumo da alegria pitoresca de um saudosismo sadio e bem humorado.

O autor conseguiu recolher no "Expresso do Passado" as reminiscências da sua alma de escritor inato que mostra o porquê da sua feliz inclusão como membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza.

Paulo Eduardo Mendes - jornalista, no Diário do Nordeste de hoje

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