quarta-feira, 28 de julho de 2010

Fagulha não.

Coronel Toniquinho Pereira era chefe político de Itapetininga/SP. Houve uma recepção ao governador, na estação de Iperó. O coronel foi. Quando o trem chegou, o coronel se queixou ao prefeito:

- Caiu uma fagulha no meu olho.

- O trem é elétrico, coronel. Não solta fagulha.

- Então foi um quilowatt.

Polarização

A 20 dias do início da programação eleitoral no rádio e na TV, a campanha começa a ficar mais quente. José Serra, com o apoio de seu Índio, tem posto lenha na fogueira. Objetiva mostrar um eventual governo Dilma/PT comprometido com invasões de terra (MST), FARCs, Chávez (amigo de Lula) como ameaça à estabilidade, desorganização no campo econômico e por aí vai. Serra assumiu, por inteiro, um discurso direitista, ancorado em uma linguagem de amedrontamento. Dará certo? Pouco provável. Esse voto que Serra tenta capturar já está definido: é o voto consciente. As massas não se sensibilizam com inputs que sobem à cabeça. Preferem comida (conforto) para o estômago.

Vantagem


A vantagem dessa estratégia serrista é a de deixar a candidata Dilma/PT na defensiva. Ele ataca, o PT responde. Dar respostas, justificar, dizer que não é isso ou aquilo – são posições que denotam mais fragilidade. Em uma campanha, tomar iniciativa abre espaço na mídia, conferindo maior força aos grupos atacantes. O terrorismo que o candidato Serra está levantando deverá ser quebrado com a entrada de Lula no jogo.

Lula, atacante


Luiz Inácio também é de ataque. Nos últimos dias, preservou-se de considerações mais contundentes, até para administrar querela com a vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, que o colocara na mira. Lula deverá agir de maneira mais forte e ativa nas próximas semanas. O embate está chegando às ruas. E algumas praças serão decisivas.

Ninguém tem provas

Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso.

— Muito prazer! — diz ele.

— O prazer é meu! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!

— É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!

MG, o centro nevrálgico


Minas Gerais, com seus mais de 14 milhões de eleitores, será a praça mais cobiçada. Porque o eleitor mineiro gosta de decidir ao final. Observa, analisa, vai lá, vem cá e, chegando na reta final, ele dá o veredicto. Em Minas, Hélio Costa, candidato ao governo pelo PMDB, com o apoio do PT, continua marcando grande distância de Anastasia. Que deverá, evidentemente, crescer com a chegada dos programas eleitorais. Mas o voto Dilmasia será muito forte em MG. Segundo se comenta, à boca pequena, Aécio Neves não teria muita motivação para fazer campanha de Serra em MG.

Estilo Tancredo

Aécio Neves, imitando o avô Tancredo, quer sentir o pulso dos mineiros. Observa, friamente, o andar da carruagem. Ele quer liderar os tucanos na próxima jornada, com um mandato de senador nas costas e a possibilidade de assumir o comando do Senado mais adiante. Eventual derrota de Serra lhe daria toda a força no PSDB. Passaria a ser o maior pólo de aglutinação dos tucanos. Traria para Minas o comando do tucanato, que nunca saiu do território paulista, apesar dos comandos dos nordestinos Tasso Jereissati (cearense) e Sérgio Guerra (pernambucano).

Empate

Em Minas, Serra e Dilma estão praticamente empatados entre 38% e 35%. Se Hélio Costa garantir seu franco favoritismo durante as duas primeiras semanas de programação eleitoral, será difícil tirar sua vantagem, mesmo sabendo da disposição dos mineiros de deixar a decisão para a hora final.

O cachorrinho

"Seu Lunga estava passeando na calçada com o cachorrinho. E lhe perguntam:

— Passeando com o cachorrinho, Seu Lunga?

Ele responde:

— Não. É meu passarinho – pegando o pobre poodle pela coleira e fazendo ele voar."

Palmômetro do LIDE

João Doria Jr., ao abrigo do movimento que coordena, o LIDE, promove os maiores eventos empresariais do país. Consegue convocar a metade do PIB brasileiro em almoços juntando políticos e lideranças de todos os espectros. Este ano promoveu 3 almoços para ouvir os presidenciáveis. O palmômetro do LIDE acusa a seguinte nota de 0 a 10. Marina: 6; Dilma: 6 e Serra: 8.

Diferenças de pesquisas

Este consultor vive cercado de perguntas : por que Vox Populi dá 8 pontos de vantagem para Dilma, enquanto o Datafolha mostra empate técnico entre ela e Serra? Vamos a alguns comentários. Primeiro, devemos considerar as diferenças de metodologia. A principal: Datafolha cobre mais espaços urbanos, os espaços com maior fluxo de pessoas – centros, pontos de ônibus, terminais, enfim, praças com muita gente. Os lugares de maior concentração podem escamotear parte da amostra? Sim. Será que as mulheres e homens frequentam com a mesma intensidade esses lugares?

Diferenças II

O Datafolha, desse modo, deixaria em aberto amplas áreas rurais. Mas o Instituto alega que as pessoas do campo frequentam as cidades. Mas as mulheres que ficam em casa? Não seria esta a razão pela qual Serra tem boa dianteira sobre Dilma no voto das mulheres? Já o Vox Populi cobre tudo, espaços urbanos e rurais. Mas o Datafolha, em compensação, exibe amostra mais densa: 10 mil entrevistados, quanto o Vox captou 3 mil. Deixo que o leitor tire suas conclusões.


E as esporas?

"Seu Lunga andava com sua bota com par de esporas. Quando um amigo seu pergunta : - e esse par de esporas?

O velho responde: - é pra caçar rato!

O rapaz pergunta: como o senhor caça rato?

Seu Lunga na ponta da língua: Primeiro, você põe um queijo amarrado na sua parte traseira. Quando o rato vier, você chuta de calcanhar o rato com as esporas."

Dúvida cruel

Lula esgotou o potencial de transferência de voto Essa é uma das maiores interrogações da campanha. Poderá dar a Dilma mais 6 pontos ou 7 pontos para uma vitória no primeiro turno?

Dúvida mais ou menos cruel

Aécio Neves se engajará de corpo e alma na campanha de Serra? Conseguirá dar a Serra uma boa dianteira em Minas capaz de lhe assegurar a vitória?

Marina corajosa

Marina Silva (PV) toma partido. Cesare Battisti deve ficar no Brasil. Com sua posição, ela garante que o italiano é preso político.

STF, palavra final

O caso dos fichas-sujas baterá às portas do STF. Até lá, vai ser um empurra-empurra.

A rima

Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em Minas Gerais. A cidade amanheceu com os muros pichados: "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim:

- Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima.

Ciro de quê?

Vejam como as pesquisas podem camuflar algo. Ciro Moura (quem sabe de que partido é?) acaba de ter 19% de intenção de voto para o Senado, em São Paulo, e está empatado com Tuma e Quércia, com 22% e 21º%. Ciro Moura pertence a um dos mais nanicos partidos, o PTC. Teve em 2008, 3.825 votos para prefeito. Em 2006, 5.860 votos para deputado Federal. Teve em 2004, 6.111 votos para prefeito. E em 2002, 17.854 votos para governador. São Paulo tem 30 milhões de eleitores. Ciro excluiu na Justiça Eleitoral o sobrenome Moura. Virou apenas Ciro. É mais que plausível achar que Ciro pegou carona no carro de outro Ciro, o Gomes, que está no Ceará, coordenando a campanha do irmão Cid ao governo. Pirataria eleitoral? Ciro Moura diz que isso é achismo. A conferir mais adiante.

Maluf bloqueado?

Paulo Maluf teve recurso da defesa que tentava cassar a condenação do deputado por improbidade administrativa. O episódio é o superfaturamento na compra de frangos quando era prefeito de São Paulo, em 1996. O Tribunal de Justiça rejeitou o recurso. Maluf sempre apela. Pelo que se conhece do deputado, os recursos chegarão até o Supremo Tribunal Federal. Este consultor tende a acreditar que ele será, sim, candidato a deputado federal. A conferir.

E os debates?

Os debates fazem melhor para o sistema eleitoral do que o blábláblá dos programas gratuitos. Mostram diferenças entre os candidatos: domínio temático, raciocínio, criatividade, acuidade, objetividade, humor, capacidade de fustigar adversário, simpatia, empatia etc. Ocorre que os debates são assistidos por uma cota pequena de eleitores. Não chegam a impactar o eleitorado. As massas estão dormindo no pique dos debates. Conclusão: os eleitores garantirão que seus candidatos foram melhores que outros. Empate. Apenas consolidam posições já assumidas por núcleos do meio da pirâmide.

Ir ou não?

Este consultor sempre acha que ir ao debate é melhor do que fugir dele. A banalização do debate, porém, estiola sua importância. Os candidatos deveriam participar de debates promovidos pelos grandes meios de comunicação, inclusive os patrocinados nas redes sociais.

Jefferson quer soltar a voz


Roberto Jefferson quer cantar "nervos de aço" nas ruas. Põe-se à disposição da campanha de Serra para enervar os adversários. Arruma a voz. E diz que está à disposição. Tem mais coisas a contar ou a cantar?

Collor de volta às origens


Fernando Collor (PTB) lidera, segundo o Instituto Ibrape, a eleição para governador de Alagoas. Tem 38% de votos contra o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que tem 26%, e o atual governador Téo Vilela (PSDB), com 21%. Jingle de Collor: "É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma pelo bem dos mais carentes". Minha velha e querida mãe sempre me lembra: "meu filho, nunca diga – desta água não beberei".

Senadores?

A moldura dos senadores começa a ser composta. Mas os atuais favoritos podem mudar de lugar. As campanhas para os governos estaduais e os cenários de polarização deverão alterar algumas posições. Ou seja, é mais provável que um candidato da situação e outro da oposição sejam eleitos para o Senado nos Estados. Por exemplo, em Minas Gerais, Aécio Neves e Itamar Franco lideram, hoje, as intenções de voto. Este consultor tende a apostar na ideia de Aécio Neves, de um lado, e Fernando Pimentel, de outro. Em São Paulo, a sombra é enorme. Uma vaga vai para Marta Suplicy. A outra está sendo disputada por Tuma (PTB), Quércia (PMDB), Ciro Moura (PTC), Netinho de Paula (PC do B) e lá embaixo, com apenas 4%, está Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). Abaixo de Ana Luiza, do PSTU, que tem 5%. Mas há quem aposte que a polarização em SP puxará Aloysio. A conferir.

Mercadante em torno de 30%


Aloizio Mercadante (PT) deverá chegar aos 30%. É muito estranho que ainda patine no espaço dos 18%. Historicamente, o PT alcança em SP margem entre 30% e 35%. Deverá subir. Vai insistir no PAC paulista.

Comunicação das campanhas

O esquema de comunicação de José Serra, sob o comando de Luiz Gonzalez, abriga um grupo de 270 pessoas. É muita gente. Vai ter gente sem saber o que comunicar. Gastará algo em torno de R$ 50 milhões. Só em comunicação. Já a equipe de Dilma, por enquanto, esconde-se sob a cara de João Santana. Mas deve ter também um punhado de gente.

Conselho aos ministros do TSE

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Poder Judiciário. Hoje, volta sua atenção aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral:

1. Há um imbróglio no ar: afinal os fichas-sujas vão participar da campanha? Não deixem para a última hora essa pendenga.

2. Os casos devem ser resolvidos antes das eleições, sob pena de vermos a vontade popular ser alterada após os resultados. Prioridade máxima.

3. Os TREs precisam adotar uma linguagem homogênea. A mídia começa a mostrar diferenças de percepções entre os Tribunais regionais.

(Gaudêncio Torquato)

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