quarta-feira, 6 de abril de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Udenista? Fogo nele

Comício em Entre Folhas, à época, distrito de Caratinga/MG. A política fervia. Os grupos iam aos palanques, armados até aos dentes. Zé Augusto, candidato, para onde vai, leva a tiracolo seu famoso violino, a pequena metralhadora, cuja capa lembra o instrumento de Paganini. Fazia parte da comitiva do candidato um famoso padre da região, o monsenhor Aristides Marques da Rocha, que militava no PSD e exercia grande influência sobre as massas. Só andava armado. Revólver em um bolso e as balas embrulhadas num lenço, bem amarradas, no outro. O monsenhor Rocha tinha a batina cheia de pequenos rasgos, feitos por devotos que arrancavam pedaços para fazer bentinhos. Um adversário de Zé Augusto, ao ver o monsenhor armado, toma coragem e tenta desconcertado:

- Uai, monsenhor, o senhor não vive dizendo que homem só morre quando Deus chama?

- É isto mesmo, meu filho, mas hoje eu estou armado porque posso encontrar algum udenista que Deus está chamando com urgência e, aí, eu presto um serviço ao Criador, matando o filho da puta.

O comício de Zé Augusto transcorreu em calma.

Historinha de Zé Abelha.

Abril vermelho ou no vermelho
O MST volta à cena com seu tradicional "abril vermelho". Exige que o governo Dilma assente 100 mil famílias este ano. Mas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sofre o efeito "rotinite". Todos os anos, em abril, promove invasões de fazenda com muito espalhafato. E fica por isso mesmo. Recebe uma bolada do governo, por meio de outras entidades - eis que o MST não tem personalidade jurídica - e recolhe suas bandeiras, quando se sente amaciado. Ademais, os programas sociais do governo, desde Lula, contribuíram para harmonizar as populações mais carentes. Por isso, o MST atravessa uma temporada "no vermelho", ou seja, com pouca gente em suas fileiras.

Precaução

Na Bahia, o Exército bloqueou marcha do MST na região da Chesf. Reunia 400 pessoas que poderiam invadir a usina hidrelétrica.

Dilma discreta

A presidente Dilma foi ao teatro para ver uma peça - na verdade, um monólogo - sobre a loucura. Entrou discreta, foi muito aplaudida ao ser vista, e saiu também discretamente. Sem alardes e alaridos. A presidente tem sabido preservar a liturgia do poder. Diferente de Lula, que se cercava de gente barulhenta e apreciava as luzes midiáticas.

Bolsonaro, boquirroto

O deputado Bolsonaro faz um estilo. Bota a boca no trombone e cai no repertório da discriminação. Ao dizer que não educa filhos para que estes tenham relações amorosas com negros, o parlamentar comete, evidentemente, discriminação. Sua verve contra as minorias sexuais - gays, lésbicas, etc. - tem o nítido propósito de carrear votos e simpatia junto a setores conservadores e retrógrados da sociedade. Mas se ele quer falar, deixem o sujeito morrer pela boca. O que ele deseja, mesmo, é aparecer. E com as críticas e indignação que provoca, mais midiático se torna. A linha que separa a opinião pessoal da expressão parlamentar é muito tênue.

Palavra de fazendeiro

O ministro Mário Henrique Simonsen foi a Campo Grande discutir os problemas econômicos e financeiros de Mato Grosso do Sul. O fazendeiro Fernando Junqueira Franco pediu a palavra:

- Senhor ministro, depois que juro virou correção monetária, fazendeiro passou a ser empresário rural e roçar pasto chama-se investimento, nosso negócio acabou tornando-se uma merda.

Mais uma historinha da coleção do Nery.

Mensalão sobre a mesa

O mensalão volta a ser menu da semana. Desta feita, foi a revista Época que trouxe todo o roteiro do caso, mostrando, inclusive, conexão com a presidência da República, na época de Lula. Seu segurança, Freud Godoy, teria recebido R$ 98,5 mil por serviços prestados a Lula na campanha presidencial de 2002. O pacote mensaleiro tem como relator o ministro Joaquim Barbosa. Que já ouviu uma batelada de pessoas. Se os novos fatos forem agregados ao processo, os implicados terão mais uma oportunidade para ser ouvidos. Nesse caso, o mensalão furaria o tempo em direção ao infinito. Por isso, o ministro Barbosa abriu um novo inquérito. Para preservar o cronograma do antigo. O STF deverá dar a palavra final até agosto, quando prescreve o crime de formação de quadrilha contra os 38 acusados no processo. Será o fim da tormenta ou o recomeço do calvário para algumas pessoas.

Beija-mão

Agnelo Alves, conta Sebastião Nery, era prefeito de Natal. Criou uma guarda para a Prefeitura: recrutas da PM, vindos do interior. Ensinaram aos rapazes que para gente mais importante a saudação era apresentação de armas e para gente menos importante só continência. Apareceu um homem alto, cabelos avermelhados, calças curtas, medalhas no peito, alamares, para visitar o prefeito. Os guardas ficaram embasbacados. Fazer o quê? Apresentar armas? Continência? O chefe do grupo resolveu o problema: beijou a mão do estranho homem. Era o comandante internacional dos Escoteiros.

Primeiros candidatos

PT tem os seguintes nomes para a prefeitura de SP em 2012: Aloizio Mercadante, Marta Suplicy, Fernando Haddad, Alexandre Padilha. PSB dispõe de Gabriel Chalita, mas este sinaliza querer entrar no PMDB. Paulo Skaf diz que só se interessa por política empresarial, eis que é candidato à reeleição na FIESP. Mas tem um olho gordo na prefeitura. No PSDB, podem ser candidatos o próprio José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal, entre outros.

Inflação

As autoridades monetárias se defrontam com o desafio: domar a inflação e atingir a meta de 6,5% de crescimento. A inflação tende a subir e o crescimento a cair. Mantega e Tombini estão sob pressão.

Incentivo à informalidade

Decisão do STF de isentar União, Estados e prefeituras da responsabilidade pela inadimplência de empresas prestadoras de serviços tem deixado o empresariado de cabelo em pé. Tal situação tem incentivado a participação de empresas inidôneas em licitações, principalmente as de segurança privada. O critério exclusivo do menor preço permite que elas abocanhem os contratos públicos, sem ofertarem serviço de qualidade, deixando seus custos na "conta do Abreu". Já as que cumprem seus compromissos estão perdendo terreno e torcendo para uma mudança na lei das licitações.

Índio quer apito

Indio da Costa, que foi candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, em 2010, não aguentou o tranco dos Maia, do Rio de Janeiro, e anuncia sua saída em direção ao PSD do prefeito Kassab. Quer apitar por conta própria, sem ficar sob a regência de Cesar Maia. Indio é um bom perfil e poderá ser o candidato do PSD à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012. Tem boas chances, eis que expressa uma identidade comprometida com os valores da modernidade política.

Nem sei por onde começar

Foi no século passado. O desembargador Deoclides Mourão, tio do poeta Gerardo Mello Mourão, fez acordo com Urbano Santos para governador. Eleito, Urbano não cumpriu nada. Deoclides Mourão mandou-lhe uma carta:

- Senhor governador, diz o povo que o homem se pega pela palavra, o boi pelo chifre e a vaca pelo rabo. Supondo não ter V.Exa. nenhum desses acessórios, não sei por onde começar.

O empresário Lula

Luiz Inácio Lula da Silva criou uma empresa que tem suas iniciais: LILS. Pois bem, ela tem como foco palestras e eventos. Lula, empresário, correrá por aqui e por acolá para fazer suas conhecidas perorações. Lula dirá o que todos já conhecem. E cobra caro: R$ 200 mil por palestra. Ele tem todo o direito de usar sua verve para sobreviver. Ele fez uma palestra, ontem, nos EUA e vai ao México fazer outra. Agora, há um aspecto que precisa ser entendido: avisou o ex-presidente que começará, em breve, um tour em portas de fábricas no ABC paulista para fazer comícios. O que Lula dirá nesses palanques abertos às 5h da manhã? Defenderá o governo Dilma? Cobrará medidas? Se ficar na defesa, sua audiência poderá cair no sono. Pois, comício em porta de fábrica tem, sempre, um caráter reivindicatório. Este consultor está curioso para saber como o empresário Luiz Inácio administrará as atitudes do sindicalista Lula.

Meirelles, salvação?

Henrique Meirelles tem o cargo de autoridade olímpica, mas as funções ainda não passaram pelo crivo congressual. O cronograma de obras para a Copa de 2014 está atrasado. Orlando Silva garante que está em dia. Mas não está. Meirelles é considerado, a essa altura, a tábua de salvação. Vai ter de botar o cronograma em dia.

Ícone socialista

Depois de algumas prospecções, esta coluna recebeu a sugestão de selecionar os mais extravagantes perfis da cena institucional. E o primeiro a inaugurar a série é o presidente da FIESP, Paulo Skaf. Pois bem, a coluna escolhe como ícone anti-socialista do Brasil ele mesmo, o Socialista do PSB, Paulo Skaf.

O DEM quer lugar de Afif

Guilherme Afif pode estar com os dias contados na Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo. O DEM reivindica seu lugar. Mas o governador Geraldo Alckmin parece relutar. Ficaria mal o vice perder o cargo. Já o deputado Rodrigo Garcia deve ser o dirigente do DEM em São Paulo.

Vale, objeto de desejo

A Vale ganhará um novo presidente: Murilo Ferreira, que já exerceu cargos importantes na mineradora, incluindo a direção da subsidiária da empresa no Canadá. Até aí, tudo bem. A questão é saber as razões da demissão de Roger Agnelli. Que vinha enchendo a empresa de recursos. Pois foi isso mesmo que atiçou a ambição. Lembre-se que Lula sempre jogou lenha sobre a fogueira de Agnelli, cobrando dele participação da empresa na produção siderúrgica do país. Mas a mineradora, ao que parece, fechou os ouvidos a Lula, optando por permanecer apenas na área da matéria-prima. Quem comanda a Vale é um grupo formado por Previ (a maior acionista, com 49% do capital), Bradesco (21,21%), a trading japonesa Mitsui (18,24%) e BNDESpar (11,51%). Portanto, 60,5% das ações estão na esfera de influência do governo.

Obama quer voltar

Barack Obama cumpre o ritual com mais antecedência. Falta um bom tempo para o pleito de final de 2012, mas Obama já lançou sua candidatura à reeleição. Usou a internet. Sabe que a mídia eletrônica dá o tom midiático no momento. Quer construir uma gigantesca teia de apoios. E, claro, arrecadar meio bilhão de dólares. O presidente americano aproveita o momento em que seu nome voltou a ser prestigiado. Venceria, hoje, qualquer dos opositores republicanos.

Surrealismo

Surrealismo puro. É o que se pode dizer da cena em que mulher, dentro de um cemitério, em Ferraz Vasconcelos, na grande São Paulo, flagra policiais atirando - e matando - em uma pessoa. A testemunha liga para a Polícia que grava o telefonema. Está, agora, sob proteção da Corregedoria da PM. Esse é o Brasil.

Todo cuidado é pouco

Receio ferir o brio de uns e a sensibilidade de outros. Vejam minhas razões. A onda que cerca o território do "politicamente correto" está inundando as consciências. O problema é que a onda começa a provocar pânico. Muitos deixam de cantar "o teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor", temendo represálias. Lamartine Babo está fulo da vida. Imaginem, então, "nega do cabelo duro, que não gosta de pentear". Luiz Caldas poderá ser encanado. E a "cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é". João Roberto Kelly deve ser silenciado porque sugeriu: "parece que é transviado". E o cravo que brigou com a rosa não pode mais ser cantada. Pois o cravo - o homem - e a rosa - a mulher, com essa briga, estimulam violência nas crianças. Não se pode, ademais, atirar o pau no gato, pois a música e a letra sugerem à meninada impulsos bestiais. Dizer que isso e aquilo "é coisa de veado" nem imaginar. Chamar alguém de crioulo também está proibido. Afrodescendente, e olhe lá. Aleijadinho? Aquele famoso escultor mineiro, célebre pelo barroco mineiro? Não pode ser chamado assim. Mas um artista com necessidades especiais. E você, leitor de mais 60 anos, abra um sorriso: não entrou na velhice. Vive "a melhor idade".

88ª colocação

Daniel A. Pinheiro Astone me manda esse lembrete: "Sobre a nota do alerta do Blatter a respeito do atraso nas obras, cabe a observação feita no Twitter do senador Cristovam Buarque. Nós fazemos alarde por estarmos em segundo lugar na comparação com a África do Sul para a construção da infraestrutura da Copa, mas silenciamos quando se trata de estar na 88ª pior colocação do mundo quando o assunto é educação..."

Hotel zero Km?

O deputado do Rio Grande do Norte desceu no aeroporto Santos Dumont,no Rio, pegou um táxi:

- Hotel Zero Quilômetro.

- Zero Quilômetro? Não tem esse hotel, não.

- Tem, sim. Em frente ao Hotel Ambassador.

- Ah, Hotel OK. Senador Dantas, não é?

- Não, senhor, Deputado Antônio Bilu, de Natal.

Conselho às autoridades da área energética

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Hoje, volta sua atenção às autoridades da esfera energética:

1. A tragédia japonesa sugere um profundo redimensionamento da questão energética do país, a partir do reestudo das usinas nucleares, em particular a Angra 3.

2. As licenças ambientais precisam incorporar novas ideias, conceitos e escopos de segurança, tendo como parâmetro os vazamentos que ainda ocorrem nas usinas nucleares japonesas.

3. O Brasil possui a maior bacia hidrográfica e um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo. Seria oportuno rever a questão energética brasileira, contemplando-se os recursos naturais do país.


(Por Gaudêncio Torquato)

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