quarta-feira, 13 de abril de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

Morra tranquila, mamãe


Fernando Leite, filho do senador Júlio Leite, era presidente da Assembleia de Sergipe quando Seixas Dória era governador. Conta Sebastião Nery que Seixas teve de ir ao Rio, o vice-governador Celso Carvalho estava no Rio Grande do Norte assistindo ao enterro da sogra, assumiu o governo o presidente da Assembleia. Por dois dias. Fernando Leite mandou telegramas a todas as embaixadas comunicando ao mundo sua governança. E, orgulhoso, como bom filho, telegrafou à mãe, internada e gravemente enferma em hospital do Rio:

- Mamãe, pode morrer tranquila. Seu filho é governador. Beijos, Fernando.


Dilma na China


A presidente Dilma começa a firmar a sua identidade. E já mostra que não veio para ser mera figurante do ciclo lulista. Não gosta de estardalhaço; é contida na expressão; não usa imagens popularescas; respeita Lula, mas sem bajulação; e já tomou distância em relação ao governo anterior em áreas como as relações exteriores. Este consultor fez análise para o site da revista Exame dos 100 dias do governo Dilma e pinça rápidas passagens (em destaque) entre as notas abaixo.


Tragédia na região serrana


Análise: "A presença de uma alta autoridade da República no cenário de um desastre sempre gera simpatia da população. A presidente Dilma conseguiu angariar popularidade e tirou lição do erro de Lula, que foi muito criticado quando houve uma tragédia semelhante em Santa Catarina. Dilma conseguiu estabelecer um diferencial nesse episódio."


Mais tragédia no Rio


A tragédia do Rio de Janeiro se apresenta como mais uma demonstração da visão defendida pelo prof. Samuel Huntington, celebrado autor de O Choque das Civilizações: "há muitos indícios do paradigma do caos - quebra no mundo inteiro da lei e da ordem; Estados fracassados e anarquia crescente em muitas partes; uma onda global de criminalidade; máfias transnacionais e cartéis de drogas; crescente número de viciados em muitas sociedades; um debilitamento geral da família, um declínio da confiança e na solidariedade social em muitos países; violência étnica, religiosa e civilizacional e a lei do revólver predominando em grande parte do mundo".


Oposições sem rumo


As oposições estão sem rumo. Isso é sabido. Mas as oposições dentro dos partidos de oposição também colaboram para a geleia geral. O DEM se estiola. O PSDB está rachado. Em São Paulo, o deputado Julio Semeghini conseguiu se eleger presidente do diretório municipal da capital, sem o apoio da bancada de vereadores. Alckmin ganhou a parada para o grupo de José Serra. E também deu um recado a Serra e Aécio: daqui por diante, no PSDB, as decisões devem sair de votações em primárias. Disse nas entrelinhas que ambos só pensam em 2014, sem medir as consequências de ambições fora de hora. Nessa imensa cratera, terá vez o partido de Kassab, o PSD.


1ª reunião ministerial


Análise: "A reunião foi importante para Dilma mostrar autoridade e cobrar resultados dos ministros. Ficou claro que o ponto forte dela é o gerenciamento das tarefas. Até hoje eu observo que os ministros têm feito poucos discursos, porque a presidente não aceita discursos sem resultados práticos. Os ministros têm receio de receber um puxão de orelha."


PSD conta com 40


O PSD deverá contar com cerca de 40 parlamentares, entre deputados e senadores. Não será tão pequeno como muitos apregoavam. As "placas tectônicas" que se mexeram após as eleições só se acomodarão quando a nova sigla surgir e abrigar as ondas provocadas pelo tsunami eleitoral.


Renascimento partidário


Os partidos brasileiros, todos sem exceção, carecem de intenso e amplo programa de reformulação. Precisam respirar o cheiro do tempo. Viver o momento presente. Sentir o pulso da sociedade. Em suma, carecem de uma ação revigorante, que pode se inspirar nos seguintes eixos: formulação de um novo ideário, condizente com as demandas do tempo; esforço para rearticulação com as entidades da sociedade organizada; mobilização das bases com vistas ao engajamento de forças e inserção de contingentes nas fileiras partidárias; organizada ação de comunicação com classes sociais, setores e movimentos que promovem a dinâmica social.


Mercadante e Haddad


Não há lugar fixo nas planilhas partidárias para candidatos a pleitos majoritários. Cada candidato pode subir ou descer porque a vida partidária se assemelha a uma gangorra. Hoje, o candidato do PT em alta para a prefeitura de São Paulo, em 2012, é o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante. Mas o candidato de Lula continua sendo o ministro da Educação, Fernando Haddad. Lula trabalha com a hipótese de que o eleitorado está se cansando dos velhos nomes. E exige novidade no caminho partidário.


Referendo contra armas


O presidente Sarney promete levar a plenário da Casa um projeto encaminhando nova consulta à população - referendo - sobre a proibição de venda de armas. Como se recorda, em 2005, mais de 64% da população disse "não" à proibição. Desta feita, imagina-se que o sentimento social, acirrado após a tragédia que vitimou 12 crianças no Rio de Janeiro, influencie a decisão da sociedade. Mas já há núcleos contrários a esse projeto.


DEM processa


O DEM quer processar o prefeito Gilberto Kassab por indisciplina partidária. Bobagem. Deveria, isso sim, fazer um arrastão nacional na direção de novos adeptos.


Governo corta R$ 50 bi


Análise: "A presidente está correta em dar uma cacetada logo no começo do mandato para sinalizar suas posições econômicas. O problema é que a pressão política dos parlamentares é muito forte e pode reverter alguns cortes. Uma tesourada de R$ 50 bilhões pareceu sério para a sociedade, embora muitos analistas questionem a efetividade desse ajuste fiscal."


500 mil na informalidade


A presidente Dilma quer retirar 500 mil trabalhadores da informalidade. Via: redução de 11% para 5% da alíquota de contribuição para a Previdência. Mais certeira seria a decisão de regulamentar os serviços terceirizados. Essa área está solta. E carece de um marco para consolidar-se. Lembre-se que o programa Micro Empreendedor Individual gerou cerca de 1 milhão de trabalhadores com carteira assinada.


50% das cotas para as mulheres


Hoje, a cota para as mulheres nas listas de candidatos pelos partidos é de 30%. Mas a cota não é preenchida. Mesmo assim, o projeto de reforma política do Senado aumenta essa taxa para 50%. Ou seja, as listas partidárias serão compostas por metade de homens e metade de mulheres. É bem provável que a ideia não vingue.


Micro e pequena empresa


Nessa direção, o governo criou, em nível de Ministério, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Vamos ver se contribuirá para diminuir a burocracia.


PSD no RN


O deputado Ricardo Motta, presidente da Assembleia Legislativa do RN, garante que o PSD deverá ter a maior bancada na Casa, com uns 8 parlamentares. "Tenho a convicção de que o PSD surge, no Rio Grande do Norte, como um dos maiores partidos. A expectativa é de que possamos contar com 40 a 50 prefeitos e ex-prefeitos, inúmeros vereadores", afirma o presidente.


Robô do prefeito?


Na Câmara Municipal de Mimoso do Sul, Luiz Carlos da Silva, líder do PMDB, discutia com Jaime da Rocha Nogueira, líder do PDS, por causa do prefeito Pedro Costa, também do PDS. Luiz Carlos atacava o líder do prefeito:

- V.Exa. é um teleguiado, sem personalidade. Só cumpre ordens.

- Sou líder. E o líder tem de dizer o que o Executivo pensa.

- Critico o comportamento de V.Exa., por ser um homem de recados, o robô do prefeito.

- Senhor vereador, até agora discutia com V.Exa. porque não me sentia agredido. Agora, V.Exa. vai ter de provar a esta Casa quando é que eu roubei o prefeito.


A sessão acabou.


Mais uma vez, Nery e suas hilárias historinhas!


Salário mínimo de R$ 545


Análise: "Houve uma demonstração inequívoca do rolo compressor do governo. Mais forte e contundente que o rolo compressor organizado por Lula. O PMDB conseguiu 100% dos votos, que funcionariam como moeda de troca por cargos em seguida. O preço dessa fidelidade é a nomeação de indicados pelo partido para o segundo e o terceiro escalões, principalmente de políticos derrotados na última eleição."


De baixo para cima


Se quase ninguém acredita em reforma política com origem em projetos de senadores e deputados, muitos põem fé nos movimentos sociais e em sua capacidade de gerar pressão. Esta seria a alternativa para a viabilização da reforma política, desafio para o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), entidade que idealizou o projeto da lei da Ficha Limpa. Este movimento abriu um espaço na internet com a intenção de popularizar a discussão do tema e consolidar um projeto para tramitar no Congresso Nacional ainda este ano. Espera o apoio de 2 milhões de brasileiros.


Dilma no programa de Ana Maria Braga


Análise : "É o Estado espetáculo, em que o governante desce do altar para o mesmo patamar dos simples mortais. Ela fez isso de maneira competente, falando primeiro para dois programas femininos. Ela, ao lado de uma mulher, falando para mulheres. De mulher para mulher. E, com isso, ela ganha a simpatia das mulheres, e fez até um omelete - de maneira desengonçada, é verdade - mas fez. Em seguida, foi ao programa da Hebe, que assim como a Ana Maria Braga e a própria Dilma, teve câncer. Ela não é populista como o Lula, que sempre ia a palanques, mas não se negou a ir a programas de TV com grandes índices de audiência."


Marina e o PV


Marina tem a cara do PV. Mas está cada vez mais distante desse partido. Tudo por conta do estilo centralizador e absorvente do José Luiz Penna, atual presidente da sigla, que se elegeu deputado Federal. Marina encarna um projeto de sustentabilidade ambiental mais sólido e estruturante que a visão superficial do comando da sigla. Se sair do PV, o partido perde a maior referência.


Alta de 7,5% do PIB


Análise: "Esse é o gargalo do governo. Como administrar a meta de crescimento sem perder o controle da inflação. A situação real mostra que as metas não estão sendo cumpridas. Sendo assim, mais cedo ou mais tarde, o governo vai ter que adotar medidas mais drásticas para conter o consumo."


Detector de metais


Será que adianta colocar detector de metais nas escolas para evitar a entrada de armas? É claro que essa medida, isolada, não resolverá a questão. Mas é uma ferramenta a mais na engrenagem para escudar as escolas. Outras medidas precisam ser encontradas, a partir de uma revisão dos métodos e práticas educacionais. Urge banir todas as manifestações que possam servir de fundamento para incremento da violência nos sagrados espaços da educação.


Visita de Obama


Análise: "A vinda de Obama foi um gol magnífico logo no começo do mandato. Foi um sinal de prestígio que o Lula não conseguiu ter. Dilma fez um discurso muito mais concreto do que o de Obama, que decepcionou na questão do assento na ONU, frustrando a diplomacia brasileira. De qualquer forma, houve avanços nas relações entre os dois países. O episódio da revista dos ministros foi constrangedor e o discurso ao ar livre foi cancelado para evitar algum incidente mais sério. Imagine se algum manifestante atirasse um ovo no Obama. Daria repercussão mundial."


Novo modelo de gestão?


Geraldo Alckmin promete implantar um novo modelo de gestão em São Paulo, citando especificamente as parcerias que construiu com as Centrais Sindicais e Patronais. Devemos entender a preocupação de Alckmin no sentido da intenção de buscar maior participação da sociedade organizada no processo de gestão governamental. Até ai tudo bem. A dificuldade está na escolha dos parceiros. Falar em Centrais Sindicais, por exemplo, é fazer referência ao novo peleguismo que se espraia no país ao som da alta grana que aquelas entidades recebem do governo.


Brasil vota contra o Irã


Análise: "Foi um gesto de coragem do Brasil de mudar a sua política externa, se pautando pela linha do respeito aos direitos humanos. Foi um voto avançando e condizente com os parâmetros que são esperados de nações democráticas. Foi uma grande mudança em relação ao governo Lula."


Não mudou nada


Miguel Rodrigues, velho e sábio político de Goiás, foi visitar uma escola primária. Ali, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil:

- No começo do Brasil colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados.

O coronel Miguel suspirou:

- Então não mudou nada.


Saída de Agnelli


Análise: "O Roger Agnelli vinha sendo jogado para escanteio pelo governo desde o mandato de Lula por dois motivos: não queria entrar no mercado de siderurgia e ainda fez inúmeras demissões no auge da crise. Aproveitando essa situação, Mantega fez um pacto com o Bradesco e trocou o presidente da empresa. É uma perda irreparável de alguém com o perfil do Agnelli, mas o fato mais importante nessa história é a constatação de que uma empresa privada que depende de fundos de pensão de estatais não é imune às pressões do Estado."


Conselho aos educadores


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades da esfera energética. Hoje, sua atenção se volta aos educadores de todo o país:

1. A tragédia do Realengo, no Rio, sugere ampla reflexão e debates a respeito dos processos educacionais. Todos os esforços devem ser empreendidos para que o ambiente escolar respire paz, harmonia, integração de espíritos e atitudes.

2. Nos últimos tempos, tem se multiplicado os casos de violência nas escolas, mascarados em forma de brincadeira (o chamado bullying). Esse fenômeno tem provocado distúrbios e consequencias nefastas para o desenvolvimento psíquico dos alunos.

3. O alunato é envolvido por uma gigantesca estrutura tecnológica, a partir da internet, cujo potencial nem sempre é usado em benefício do desenvolvimento educativo, criativo e moral. Esse é mais um foco a receber atenção prioritária dos corpos docentes.



(Gaudêncio Torquato)

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