terça-feira, 5 de julho de 2011

OBSERVATÓRIO

O Brasil perdeu, no sábado passado, um dos seus mais expressivos homens públicos: Itamar Franco. Pouco louvado pela imprensa, que só deu ênfase aos aspectos controvertidos da sua personalidade, Itamar foi um nacionalista incorrigível, um cultor da probidade, um destemido democrata. Nascido em um navio, Ita (pedra) mar era uma pedra na defesa dos princípios; um mar de generosidade e imprevisibilidade política. Inseriu-se nos rol dos que incorporaram um itinerário épico ao livro da memória.


A VIDA


Itamar Augusto Cautiero Franco, o filho de Augusto César Stiebler Franco e Itália Cautiero Franco, nascido em 28 de junho de 1930, era formado em Engenharia Civil e iniciou sua vida pública, participando da política estudantil. Pelo MDB conquistou seu primeiro mandato eletivo - Prefeito de Juiz de Fora, em 1967. No pleito de 1972, foi reeleito, mas deixou o cargo um ano depois para concorrer, com sucesso, a uma vaga no Senado - sendo reeleito em 1982, já no sucessor do MDB, o PMDB. Participou ativamente da Assembléia Nacional Constituinte e das campanhas para a volta das eleições diretas. Em 1989, foi eleito vice na chapa de Fernando Collor de Mello, que saiu vencedora.


PRESIDENTE ITAMAR


Itamar, vice de Collor, assumiu a Presidência do País após um vigoroso levante popular que apeou do poder o megalomaníaco jovem alagoano. No comando da República, Itamar governou com decência e desassombro. Deu provas de grandeza do inicio ao fim do mandato. Quis convocar eleições logo que assumiu. O conglomerado de partidos que o sustentava ponderou em sentido contrario. Deu liberdade a FHC, seu Ministro da Fazenda, para implementar o mais substantivo e extraordinário plano econômico da historia nacional, o Plano Real. Elegeu o sucessor e deixou o governo sob os auspícios de uma enorme popularidade sem se render a qualquer negociata.


ITAMAR X ACM


O Presidente Itamar jamais se dobrou a qualquer tipo de chantagem. Antonio Carlos Magalhães era, à época, o mais poderoso senador brasileiro. Diante de ACM, metade do mundo político temia; outra metade tremia. Quando ACM agia, constrangia. Ameaçava com dossiês. Incomodado com a nomeação do baiano Jutahy Magalhães Júnior para o Ministério de Itamar, resolve enfrentar o Presidente Itamar. Alardeia que tinha em mãos um fulminante dossiê contra o Governo e pede uma audiência com Itamar. Este aquiesce. Quando ACM adentra o gabinete presidencial por uma porta, Itamar abre outra, autoriza a entrada da imprensa e pede que senador baiano apresente ao País as denúncias que guardava. Não passavam de recortes velhos de jornal. A moral de ACM saiu baixa; a de Itamar, alta.


O AMOR AO TORRAO NATAL


Itamar sempre proclamou o seu amor por Juiz de Fora. Em visita a terra natal, parafraseando Fernando Pessoa, disse - “O rio mais belo não é aquele que não passa na minha aldeia. O mais bonito é o que passa na minha aldeia e mais belo é o rio Paraibuna. Devo a minha vida ao Paraibuna e Juiz de Fora. E é por isso que fico feliz quando estou na cidade e poder dizer a Juiz de Fora o quanto eu a quero e o quanto a amo”.


ANIVERSARIO


Faço esses registros esparsos sobre Itamar, recém-falecido, quando estamos a celebrar mais um aniversario de Crateús. Que presente melhor poderíamos oferecer a esta terra do que uma reflexão sobre a atualidade de uma higienização de sua vida publica? Sem falso moralismo, sem exibir o farisaico dedo acusatório, mas mirando o futuro. O relógio anuncia: eis a hora desta terra promover um reencontro consigo mesma. Alem deste horizonte autofágico, existe um espaço na região mais sagrada das nossas consciências convidando para fitarmos a aurora de uma convivência mais sadia e responsável. Vamos ficar eternamente reféns das futricas medíocres? Não, filhos da mocidade e reitores da maturidade, não nos quedemos a essa avalanche de equívocos. Não nos afoguemos nesse rio contaminado de pusilanimidade.


ANIVERSARIO II


Esta pequena palma de terra que um dia se inseriu no mapa como a tribo dos Karatius, que conquistou contornos imperiais de Vila e, como uma Princesa delicada, construiu um reino sui generis – merece mais do que um bolo de aniversario. Urge que cada um dos seus patrícios, mais do que uma viagem sentimental pelos campos do seu passado, ofereça seu imprescindível contributo no presente, por mais modesto que seja, para a construção efetiva de um afetivo futuro melhor. Essa edificação passa pela escolha criteriosa de nossos representantes, mas também pela atitude cautelosa e silenciosa de nos renovarmos interiormente. Ouso afirmar que o mais belo e precioso presente que poderemos oferecer consiste em procurarmos realizar, dentro dos nossos corações, a mudança que sonhamos para a terra que amamos.


PARA REFLETIR


Abramos as pálpebras embaçadas, sacudamos a poeira das decepções, revigoremos o espírito, desbravemos novos caminhos, recuperemos a utopia, lancemos um outro olhar sobre o fazer político e marchemos na rota de uma cidade que cultue a justiça e a fraternidade. Crateús merece!



(Júnior Bonfim na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

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