sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"CRATEÚS: 100 ANOS!" - O LIVRO DA ALC EM HOMENAGEM À CIDADE DE CRATEÚS, SERÁ LANÇADO HOJE À NOITE NO TEATRO ROSA MORAES. PARTICIPE!



APRESENTAÇÃO


100 anos é tanto tempo! Limiar dos humanos mais afortunados, que alcançam a graça da longevidade terrena. Idade símbolo dos abençoados.


Para uma cidade no meio do sertão ermo e árido, sem ouro, cobre ou joias que atraíssem as “entradas” e “bandeiras”, em um país de pouco mais de 500 anos de civilização, ao modo europeu de definir, é um quinto do tempo pátrio: muito tempo, pois!


100 anos é o tempo ora celebrado por Crateús, que em 15 de novembro de 2011 passava a categoria de cidade; que fora, até 1880, parte do território piauiense, até 1889, Vila Príncipe Imperial, e até 1832, Fazenda Piranhas; que até os idos de 1700 era um tiquinho de terra à beira do um Rio (Potingh?), repleto de piranhas, abrigo da taba dos nativos caratis, kara-thi-us, potiguaras, ou se sabe lá por que nomes e em que línguas se designavam as gentes germinadas nesses vales.


Crateús ora celebra seu centenário com muita festa e justas homenagens aos seus benfeitores vivos, não deixando de mencionar as memórias e contribuições dos cidadãos de outrora, que deixaram suas marcas e obras nesta Terra. Desde o início deste ano alusivo, os festejos são abundantes: discursos, apresentações artísticas, textos literários, reportagens na imprensa local, eventos, festivais ecoam fervorosamente, repercutindo a importância da data, aqui e além-município.


A Academia de Letras de Crateús – ALC, por seu turno, desde o inicio do ano, se mostra desperta para uma passagem de centenário que não se encerre em 15 de novembro próximo, nem no reveillon 2012. Para que os 100 anos de Crateús não se limitem à intensidade da emoção dos festejos, esvaindo-se na brevidade temporal de um ano, de uma semana ou do seu dia de aniversário. Para que o centenário não seja apenas uma festa que, tão logo passe, se torne um distante ontem, dissipado nas cinzas do esquecimento.


Surge, então, a ideia deste livro que ora tens em mãos: “Crateús: 100 anos”. Por estes tempos, muitos já consideram o livro um instrumento obsoleto, pelo menos como meio de acesso à informação e ao conhecimento, ou como entretenimento. As últimas três décadas nos trouxeram progresso tecnológico nunca antes visto na história humana. É uma safra impressionante de invenções. De um ano para outro, equipamentos de última geração caem em desuso, pelo aparecimento de outros tantos mais eficazes e fantásticos.


As coisas vão mudando de nome e, sem que haja tempo para, ao menos, dar-se conta, termos saxões vão substituindo os velhos radicais greco-latinos da nossa língua portuguesa. Assim, a velha carta, que substituíra o velho mensageiro a cavalo, que por sua vez substituíra o pombo correio, foi substituída pelo email, scrap, twiter... veiculados, em frações ínfimas de segundos, de um lado a outro do mundo, através da internet; o velho disco de vinil virou compac disc (CD) e agora é um simples arquivo digital representado por um botão virtual, gravado num chip minúsculo; a arte da imagem dinâmica, que já foi teatro, depois cinema de película, depois sinal de televisão (TV), agora está em tree dimensions (3D); o telefone no canto da sala, que inovara em relação ao velho telégrafo e radioamador, agora é celular, e mais recentemente, ipad, ifone, ipod; o livro, outrora escrito à pena, que antes tinha sido velhos pergaminhos, que antes tinha sido símbolos lavrados na pedra ou madeira, a fogo, formão ou punção, e que em era mais remota ainda, figuras rupestres tingidas nas paredes das cavernas, hoje são arquivados, aos borbotões e botões digitais, em tablets.


Neste paraíso fantástico de geringonças, os de Crateús ainda tentamos desvendar os mistérios de nosso estranho topônimo: se vem das raízes tupis da batata-de-teú (Cara-Teú), planta abundante nestas matas caatingas, que faz brotar em trepadeira uma espécie de cipó e que guarda enterrada a batata, a qual o lagarto “teú” escava e come até se fartar, também chamada “cará”, que por sua vez, é também nome de um peixe (corró, tilápia) de formato arredondado, circundado de nadadeiras arrepiadas, tão comum no nosso rio, grotas, charcos e poças; ou se de origem tapuia cariri, formado por “cra” (seco) mais “te” (lugar ou coisa seca), mais “yu” (muito frequente), resultando em “lugar muito frequentemente seco”; ou se, ainda, advindo do nome de nossas tribos “caratis” ou “caretiús”, mais “us”, que significa “povo” ou “tribo” (terras da tribo Carati).


Assim como nesse embate de radicais saxões, que invadem o mundo, com os velhos termos tupis, tapuias, indígenas indefinidos... que substantivam nossas origens, eis-nos preconizando um livro comemorativo do nosso centenário. A leitura de um livro, em si, não é mais, hoje, “uma festa”. Mas um livro bem pode, sim, ser um bom presente. E um presente não perecível, que não se exaure nem se encerra, a curto prazo, uma vez que pode ser lido pelos que o adquirirem agora, ou ser pesquisado como fonte de estudo, ou acessado, por séculos indefinidos, pelos que nos sucederão.


Um livro é um grande acervo de informações, guarda conhecimentos, anos, séculos de história. Mesmo o que deixa de existir pode ser compreendido no futuro pelo que está escrito. É o que tentamos fazer agora: estudar o pouco que foi dito sobre nossa ancestralidade histórica e verbalizar nossas impressões do passado e do presente.


Ao nosso ver, porém, há uma clara percepção de déficit de conhecimento histórico-antropológico acerca de Crateús, por parte de seu povo.


Eis algumas razões: nosso município centenário é estabelecido às margens do Rio Poti, cujo vale já pertenceu ao Estado do Piauí, desde a nascente, na Serra da Joaninha, até o alto da Chapada da Ibiapaba, transferido para o Estado do Ceará, em troca de área litorânea do porto de Amarração, mudança que deu causa a um secular litígio entre as duas federações envolvidas, com muitas consequências, especialmente para os moradores das áreas disputadas.


Uma vez desmembrado, Crateús padece de quase completo isolamento em relação à Unidade da Federação a quem pertencia. Mesmo habitando a mesma beira de rio da capital Teresina, as condições geofísicas de seu território, somadas à inexistência de políticas de integração entre os dois Estados, dificulta e quase impossibilita intercâmbios de qualquer natureza, até mesmo com as cidades mais próximas, do outro lado da fronteira. A Serra da Ibiapaba, sem estradas pavimentadas que a transponham, acaba figurando como uma muralha de apartação entre as duas partes das antigas terras Caratheús.


Assim, a cidade de Crateús foi se povoando de novas levas migratórias advindas de outras áreas do território cearense, trazidas no ensejo de ações como a construção da estrada de ferro e a vinda do 4° BEC, até tornar-se polo populacional e econômico da região. As memórias socioculturais de sua composição demográfica anterior e seus respectivos hábitos e costumes, naturalmente, foram ficando no esquecimento, em face da ação histórica dos novos ocupantes e seu fluxo de relações.


A despeito da importância que a cidade conquistou, no cenário socioeconômico da Região Oeste do Estado, sua historiografia reside predominantemente na memória de pessoas mais velhas e na iniciativa de alguns de seus cidadãos, que, por conta própria e às suas expensas, aventuraram-se em pesquisar e registrar suas visões. Nunca houve, por aqui, uma iniciativa de arquivo e registro mais sistemático ou institucional que considerasse o levante histórico-antropológico, num contexto mais amplo.


Na busca de fontes e vestígios, membros da ALC comboiaram em direção ao Estado do Piauí, em visita às cidades de Oeiras e Teresina. A velha e pomposa capital piauiense hoje sofre os efeitos da migração sertaneja, perdeu o status de centro administrativo e de polo aglomerador de habitantes, restando-lhe, hoje, uma população pouco superior a três dezenas de milhares de moradores e algumas construções antigas, especialmente em volta da praça central. O que possuía em registros sobre as antigas vilas do Estado do Piauí também foi de lá desterrado para a cidade de Recife ou para a nova capital piauiense, Teresina. Esta, situada às margens do Rio Poti, no seu encontro com o Rio Parnaíba, mostra-se desordenadamente crescida, inchada, como o são as capitais nordestinas, cada vez mais metropolizadas, à medida que ganham moradores que desertificam os sertões periféricos.


Em Teresina, encontramos, no Arquivo Público, acondicionados em menos de uma dezena de caixas de papelão, o que restou dos registros cartoriais e administrativos da antiga Vila Príncipe Imperial, cuja consulta ainda tentamos fazer. Mas, pelo tempo que lá passamos (cerca de 5 horas), pelas condições da escrita (à pena) e do papel (envelhecido, de difícil manuseio), pouco pudemos extrair daquele valioso acervo.


Voltando meio que de mãos vazias, desdobramo-nos em esforços para construir, a partir das informações guardadas pelos nossos memorialistas, de pesquisas pessoais, do talento e da boa vontade dos acadêmicos da ALC, uma abordagem sobre Crateús, nos parâmetros possíveis.


“Crateús: 100 anos”, pois, não pretende ser esse “registro sistemático” que dissemos faltar à nossa cidade. Mas diríamos ser este livro um grande “mosaico” de visões e impressões sobre a história do nosso povo, montado sob olhares e estilos literários os mais diversos. Aqui se reúnem: poetas, contistas, cronistas, ensaístas, professores, artistas, memorialistas, jornalistas, juristas, cordelistas, repentistas, dramaturgos, historiadores, acadêmicos, médicos, profissionais de atividades diversas, encarnando uma missão historiográfica, todos contando o seu jeito de ser e ver a Crateús centenária.


Já na introdução, Carlos Bonfim tenta “pentear” a “contrapelo”, os desenhos conceituais de história local, prenunciando o exercício que será feito nos tópicos que se seguem, em que Crateús vai ficando história, em letras diversas.


No primeiro capítulo, onde contamos nossas origens, Pe. Geraldinho trilha o itinerário pedregoso do Rio Poti, a “coluna vertebral” dos Sertões de Crateús. Das encostas da Serra da Joaninha, passando pelo boqueirão da Serra da Ibiapaba, que se faz “quebrada”, por um rio rebelde, o autor galopa com as águas correntes, em grande declive, até jorrar o Poti no Parnaíba, na divisa do Piauí com o Maranhão. Logo em seguida, com um olhar de raio X, o mesmo autor desvenda histórica e antropologicamente os Sertões de Crateús, em natureza, geologia, geografia, etnografia... demonstrando, ao fim, que, assim como “Frei Damião não é pneu de caminhão, Crateús não é Inhamuns, numa detalhada “radiografia dos Sertões de Crateús”.


Mais adiante, Luís Carlos Leite rememora os primeiros moradores: índios, por certo. Os verdadeiros donos dessas terras brasis e caratis, tantas vezes massacrados, na “furna dos caboclos” ou ao léu, tentando subsistir como raça nativa. Cheyla Mota revira tempos remotos, em que bandeirantes e sesmeiros se embrenhavam sertão-a-dentro, quais espíritos aventureiros, em sagas de conquistas ambiciosas, até banharem-se num rio de piranhas, virando Fazenda, depois vila. Flávio Machado, com suas memórias saudosas, em três títulos: ‘Raízes de Crateús’, ‘A Vila em Normas, Atos e Fatos’ e ‘Fatos Marcantes de Piranha a Crateús’ viaja ao passado da Velha Vila Príncipe Imperial, reencontrando seu jeito provinciano de ser povo, desfiando em frases suas raízes, seu modo administrativo e condutas. Em ‘Piauí X Ceará, César Vale conta o “negócio” da troca de Crateús por Amarração, e ‘faz as contas’ de Crateús, desde sua aurora econômica, com as fazendas de criar, o ciclo do couro, o cultivo da cera da carnaúba, da oiticica, do algodão, o comercio de peles, até a moderna cidade centenária, repleta de veículos novos, hoje sem grandes façanhas econômicas, mas sempre, do oeste, a princesa.


No segundo capítulo, já somos cidade. Raimundo Cândido peregrina pelos cantos e recantos do nosso mapa geográfico, que mais parece uma ponta de flecha alargada, explicitando nossos centros distritais. José Arteiro Goiano e Isis Celiane apresentam a saga forense, em lida e juízo, na busca de trazer a justiça aos “Joãos-Grilos e Chicós”, aos “Fabianos e Sinhás Vitórias” das Terras Caratheús. Éricson Fabrício fecha o capítulo, como que abrindo os caminhos da fé ou fés, que rogou ou rogaram bênçãos ou maldições nesses vales, quando de nossas bases religiosas.


Adiante, uma suave pincelada artística e cultural em nossa história. No terceiro capítulo, Júnior Bonfim nos traz de volta o príncipe dos poetas piauienses, que é de Crateús, quando ainda éramos Vila Príncipe Imperial: José Coriolano. E segue pontuando outros nomes, até chegar na ALC, que hoje desponta com 30 novos “escribas do poty”. Juarez Leitão lança mão das cadernetas do Padre Teófilo, guardadas, a sete chaves, durante anos, pelo Monsenhor Leitão, para nos presentear com algumas facetas de “a musa do poty nascente”. Raimundo Cândido volta a cargo dando conta das pérolas literárias que garimpou em suas andanças pelo interior de Crateús, em ‘Poetas dos Distritos’.


Em seguida, Karla Gomes abre as cortinas do palco das tradições folclóricas e encena as danças de São Gonçalo e os dramas teatrais nordestinos. Como pouco fosse, Karla ainda enfatiza o desvelo de uma vanguarda teatral que surgira em Crateús, por volta dos anos de 1970, que faria de Crateús, hoje, uma referência na prática das artes cênicas, entre as cidades do Sertão Cearense. Em mais um título de Flávio Machado, poderemos identificar (ou rememorar) nossa arquitetura ancestral, que em mais de um século edificou prédios em todos os recantos da cidade, muitos deles, ainda tão jovens, demolidos ou descaracterizados.


Na abordagem da Educação, Adriana Calaça vai às ruas e leva a público – em faixas, bonés, palavras de ordem e suor – os dramas da educação pública, se fazendo na luta, ao mesmo tempo, utopia e conquista, na linguagem dos sentidos mais sublimes da formação humana. Maria da Conceição (Nêga) ilumina o sertão e os caminhos tortuosos da Educação Superior em Crateús, da FAEC e seu dilema de “sem teto e outros sem”, até a FPO, sugerindo que seja o novo sertanejo de Crateús, formado pelo ensino superior, além e “antes de tudo, um forte”, um ser capaz de conjugar força e sabedoria. Ana Cristina articula a crônica dos “mestres inesquecíveis”, aqueles que estiveram e ficaram na estima dos acadêmicos, com as contribuições dos registros de Raimundo Cândido, Vera Fernandes, Edmilson Providência, Nêga e, como arremate, um ‘Alfabeto da Dedicação’, de Silas Falcão.


E no quarto e último capítulo estão os fatos históricos que marcaram a saga da cidade centenária. A Crateús menina passeia de trem, já em 1912, nas letras de José Maria Bonfim de Moraes, e pelos trilhos rasga os sertões, em direção a outras urbes, voltando sempre, nas bocas de noite, em tantas faces que desembarcam na estação. Os revoltosos sitiam Crateús, ainda debutante, em letras cenográficas do Pe. Geraldinho, e são recebidos à bala, sob o comando do delegado Peregrino. A Santa de Fátima visita Crateús e, como que num pedido para ficar mais um pouco, fica sim, sob custódia da multidão, deixando a Crateús, ao ir embora, a fama de ser ‘a cidade que prendeu a Santa’, como nos conta Flávio Machado. Por Flávio e Cesar Vale, leremos, ainda, sobre o velho e saudoso motor da luz, e a chegada do 4° Batalhão de Engenharia e Construção (4° BEC).


Juntamente com Luís Carlos, fazemos um traçado dos passos de um homem de luz, Dom Fragoso, numa caminhada de 34 anos, história da luta de um povo contra os horrores da ditadura militar; da luta pela paz, justiça e libertação. Registros de uma era em que o solo crateuense foi trilhado por dois profetas: o profeta dos pobres, Dom Fragoso, e Pe. Alfredinho, um profeta peregrino. Em mais um título, Flávio Machado encerra o capítulo com uma sequência cronológica de tantos outros fatos que marcaram e repercutiram no cotidiano da nossa cidade centenária e viraram história.


E ao fim, Paulo Nazareno, com a missão de falar do amanhã, chama aos pósteros e lhes entrega, em mãos, o livro “Crateús: 100 anos”, dizendo: – “Você aí! que um dia estará a nos ler no futuro, quedará sem o querer, a vivenciar nosso presente, para ti, passado. Terás em mãos (ou tela? ou outro recurso sequer existente agora?) um pedaço, um pequeno registro do nosso atual tempo”.


Além do dito neste breve preâmbulo, ainda terás tanto, em poemas, contos, crônicas, fotos... neste livro-mosaico, diagramado e desenvolvido visualmente pelo poeta do traço, da escultura, da imagem matemática, e também das letras, José Rodrigues Neto, e pelo também poeta das letras, da arte e da vida, Lourival Veras. Imagens visuais e literárias talhadas com amor, especialmente para ti ou vós, leitores, que são a massa viva da centenária cidade de Crateús, pois que as pessoas fazem o lugar, e o lugar é o seu povo. Logo, Crateús somos todos nós.


100 anos é tanto tempo! Contados em dias, perfazem a quantia exata de 36.525. Em horas, chega-se ao número 876.600. Em minutos, 52.596.000. E em segundos, por sua vez, 3.155.760.000. Dito em palavras, podem ser traduzidos em um singelo verso ou uma prosa tosca, ou em uma tira infinita de letras, de acordo com a emoção de cada subjetividade. Estas quatrocentas e tantas páginas foi o nosso jeito, da Academia de Letras de Crateús, de dizer-te, em memória dos nossos ancestrais, em nome dos crateuenses do hoje, e querendo merecer os pósteros, oh! querida terra mãe, Crateús: Feliz Centenário!


Elias de França ­– presidente da ALC

Um comentário:

Sergio Moraes disse...

Caro Junior,
pela descrição do Elias de França o livro da ALC está excelente. Parabéns aos colaboradores e tambèm à ALC pela iniciativa.
Como adquiri-lo ?
Abraços.