terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

O protecionismo no Brasil e o câmbio

A valorização excessiva da moeda brasileira espalha diversos sinais de desindustrialização. A taxa de câmbio é um tema macroeconômico dificílimo, pois prever e "administrar" o câmbio é uma tarefa inglória, com resultados imprevisíveis. Também difícil é fazer ajustes em acordos comerciais em função dos generalizados interesses que se formam ao redor destes. É o caso dos acordos comerciais do setor automotivo com Argentina e México. Ambos são fontes de elevados déficits (uma soma além dos US$ 2,5 bi) e de transferência sistemática de produção e empregos. O Brasil tenta ajustar ambos os acordos, com graus de dificuldades bastante diversas nos dois casos, mas no fundo o problema essencial é a taxa de câmbio. O Brasil é atualmente um país excessivamente caro, com custos sistêmicos (trabalho, juros, impostos, etc.) elevados e com infraestrutura custosa e ineficiente. Portanto, ao ir à mesa de negociação com seus "parceiros", o Brasil leva consigo seus próprios e enormes problemas diante de poucas virtudes do lado oposto. Uma negociação de perdedores perante China, Índia, etc. Em tempo : a produção de veículos em janeiro, segundo a Anfavea caiu 19%.

By by made in Brazil

Depois de conhecidos os dados oficiais do desempenho da indústria no ano passado - crescimento de meros 0,3%, quando o comércio, mesmo com a parada dos últimos meses deve ter chegado a 7% - e da balança comercial de janeiro, com um déficit de US$ 1,3 bi, não dá para esconder que a indústria brasileira passa por um processo bem avançado de extermínio, ressalvados alguns setores. E a velocidade desse processo vem crescendo. E cada vez que há um sinal desses, o governo saca, algumas vezes até na prática (mas a maioria apenas no discurso e nas promessas), um arsenal de medidas pontuais para atenuar o problema. Por incapacidade - ou falta de condições políticas de atacar os verdadeiros problemas que não só estão matando nossa indústria, mas que mantém a economia nacional num nível de crescimento mediano apenas, porque qualquer avanço mais acentuado do PIB, como os 7,5% de 2010, ameaça com inflação e outros desarranjos. Vale lembrar que enquanto não tivermos condições de melhorar a infraestrutura viária, a portuária e a aeroportuária, não tivermos um sistema tributário decente, não estabelecermos um Estado mais ativo e menor oneroso, vamos de remendo em remendo, só isso. E basta ver os propósitos do governo para este ano, embora cheio de boas intenções, listados no documento de Dilma na abertura do Congresso, para sentir que nossas deficiências mais profundas vão demorar algum tempo a serem enfrentadas e sanadas para valer.

Protecionismo na América

Não se deve levar ao pé da letra nenhuma afirmação de candidatos durante a corrida eleitoral. Falam demais e, sabidamente, mentem. Todavia, no caso de Mitt Romney e Obama é certo que o discurso protecionista em relação à China terá sobrevida além da eleição presidencial. O questionamento sobre as "práticas comerciais injustas" (Romney) e dos "desajustes comerciais da China" (Obama) caem como uma luva perante um eleitorado sedento pela retomada da atividade econômica local e pela proteção à indústria e empregos dos norte-americanos. Note-se que esta visão tem especial apelo junto ao eleitorado mais pobre (latinos e negros), que é aquele mais disposto a votar no momento de eleger o presidente. O resultado disso tudo pode ser um comportamento mais contido dos investimentos americanos ao redor do mundo. Neste aspecto, o mundo perde. E não é pouco.

A Grécia no centro das atenções

Nesta semana, o governo grego deve finalizar o pacote de renegociação de sua dívida de US$ 170 bi. Uma tarefa extremamente complexa, seja no que tange ao convencimento do mercado de um "corte" no total a ser recebido futuramente, seja no âmbito interno, especialmente junto às centrais sindicais em função da redução de pensões, salários e empregos. Ao que parece, haverá um acordo, mas a dúvida vai permanecer no front : como um país poderá sobreviver tanto tempo sob recessão contínua e desesperança social ? Esta questão sensível não haverá de influenciar os investidores que são os mais hesitantes em aceitar o novo prazo de renegociação (30 anos) e a taxa de juros (3,6% ao ano), considerada baixa ? Note-se que o desconto da dívida é de mais de 70% e, mesmo assim, as condições de crédito do país não serão restabelecidas. O momento é decisivo e deve marcar o cenário nesta semana e, quiçá, na próxima. O momento dos mercados é positivo, mas esta renegociação é uma espécie de benchmark para os outros países endividados.

Haverá eleições?

As eleições gerais estão marcadas para abril próximo na Grécia. Todavia, o Partido Socialista, liderado pelo ex-primeiro-ministro George Papandreou já se articula para que o governo "técnico" do primeiro-ministro Lucas Papademos permaneça por mais tempo (quanto seria ?) de forma a dar "maior credibilidade" às atuais renegociações. A questão que decorre desta proposta do Partido Socialista é "como pode um governo 'técnico' se sustentar politicamente perante uma população que está sofrendo as agruras deste monumental ajuste econômico" ? Há, desta forma, um vazio político que é incompatível com as necessidades do atual processo social e financeiro do país. Eis um sinal evidente de que a probabilidade de uma "ruptura" em relação à união monetária é elevadíssima.

O papel da Alemanha, Inglaterra e França

O foco da Alemanha e da França neste momento delicado da União Europeia é a manutenção da força do Euro. Angela Merkel, em especial, tem se esmerado em implementar rígidos padrões de disciplina fiscal junto aos países endividados da Zona do Euro. Não haveria nada de errado neste processo, não fosse o fato dele estar sendo acompanhado com uma visão hegemônica pela qual a Europa está sendo dividida entre "poderosos" e "periféricos". Neste contexto, a Alemanha e a França estão debilitando ainda mais os países com problemas de crédito e, em contrapartida, aumentando as dúvidas em relação à sobrevivência do Euro. Um dúbio jogo faz o primeiro-ministro inglês David Cameron, que deseja um Euro mais fraco perante a moeda nacional da Inglaterra e, ao mesmo tempo, se encarrega de se somar às duras requisições fiscais de Berlim e Paris. Um jogo perigoso cujo custo pode ser desconhecido, embora se saiba de antemão que é desastroso.

Aeroportos privados

Os contratos de prestação de serviços aeroportuários em processo de leilão são per se um bom e tardio sinal para a economia brasileira, tão necessitada de modernização na sua infraestrutura. Todavia, este não parece ser um sinal de mudança geral no pensamento governamental em relação ao tema. A participação privada nos setores básicos da economia brasileira continua sendo percebida pelo governo como algo "secundário". As maiores apostas do governo Dilma estão relacionadas com o próprio desempenho estatal. Não à toa, a imagem de "gerente" da presidente está associada aos gigantescos planos do Estado em várias áreas consideradas estratégicas. O que se vê de concreto, portanto, é muita falação e pouca ação, tudo em linha com a lentidão, ineficiência e outros procedimentos nefastos que convivem com as áreas de infraestrutura. Regular a participação do setor privado nestas áreas é papel essencial do governo. Todavia, considerá-lo secundário perante o Estado é miopia de muitos graus. É o que ocorre. A licitação dos aeroportos não é sinal de mudança neste tema.

Comemorar ou estranhar?

O governo festeja o valor alcançado pela concessão dos três principais aeroportos brasileiros - Guarulhos, Viracopos e Brasília - no leilão de ontem - R$ 24,5 bi, quase cinco vezes mais que o lance mínimo de R$ 5,5 bi estabelecido no edital de licitação. É o caso de perguntar : não houve um erro de cálculo ? É de se imaginar que nenhum dos consórcios entrou no jogo para perder dinheiro, e, portanto, não foi perdulário no seu lance. Tudo não estaria sendo subestimado pela necessidade que o governo tinha de correr com a privatização por causa dos prazos exíguos para preparar os aeroportos para a Copa? Além do mais, o consórcio que puxou os fabulosos ágios oferecidos tem a proeminência da Previ, do Funcef e do Petros, fundo de pensão dos empregados de empresas estatais - respectivamente do BB, da CEF e da Petrobras - sobre a vontade dos quais o governo põe e dispõe, manda e desmanda. Na outra ponta, é notável a ausência, entre os vencedores das principais empreiteiras brasileiras, Odebrecht, Camargo Correia e Andrade Gutierrez, que parecem, por não terem ousado mais nos lances, não terem percebido a possibilidade de retorno que os vencedores levaram. Ficaram ausentes também as operadoras dos maiores aeroportos do mundo. A presença de um operador experiente era exigência do edital. Em compensação, a estatal Infraero ficou com 49% nas sociedades e o BNDES, com até 80%, vai abrir suas burras para financiar os investimentos nos três aeroportos.

Nem tanto assim

A bem sucedida privatização de ontem, pode ser considerada (1) uma privatização envergonhada porque impôs-se a Infraero no negócio com a participação de 49% e (2) com grande empuxo estatal, pois o BNDES, vai financiar até 80% dos investimentos necessários com aquele jurinho de pai para filho.

Abraços de afogados

O processo de reforma ministerial e quejandos que está praticamente se encerrando com a troca do PP (Mário Negromonte) pelo PP (Aguinaldo Ribeiro) e em áreas específicas do segundo escalão, demonstra definitivamente que a presidente Dilma e seus aliados, inclusive o maior deles, o PT, estão indissoluvelmente ligados, unidos como irmão xipófagos para o que der e o que vier :

1. Todos os parceiros saíram insatisfeitos com reforma mixuruca : alguns fazem ameaças mais abertamente, outros resmungam pelos cantos, mas nenhum tem condições de romper de fato com a presidente ou mesmo aplicar-lhe um "corretivo". Não pelo menos enquanto ela estiver surfando na popularidade proporcionada pelos ainda bons ventos econômicos.

2. A presidente, por mais que faça pose de brava e ponha seus áulicos a decantar sua dureza, suas cobranças, sua intolerância com a inapetência gerencial, não tem condições de desprezar o "conselho" e as indicações dos parceiros. Se tivesse, o ministro das Cidades seria outro, não o paraibano quase desconhecido Ribeiro, nem o PDT voltaria ao ministério do Trabalho.

Ele é a força

Não há nada que possa acontecer no PT que não passe pelo crivo de Lula. Por isso, já se diz que o partido tem duas sedes : a oficial, na Vila Mariana, onde se hospeda normalmente o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, e a de fato, no Ipiranga, onde dá expediente o Instituto Lula, com audiência infinitamente superior à da primeira.

Ele é a consciência?

Nos últimos meses, em diversas ocasiões - as duas últimas numa entrevista para "The Economist" e em artigo no "Globo" e no "Estadão" de domingo, o ex-presidente FHC tem se esmerado em fazer criticas, provocar, apontar caminhos e dar paternais puxões de orelhas em seus companheiros de oposição. (Aliás, classificar de oposição o que está aí no momento é mera força de expressão ou licença poética.). Os conselhos são em vão: os oposicionistas só saem do sono em que mergulharam para cordialmente se desentenderem.

..da mãe Joana?

Faltam explicações convincentes para o episódio de nomeação e demissão do presidente da Casa da Moeda.

1. Foi um homem de Mantega para o qual o PTB ofereceu sua barriga de aluguel?

2. Foi fruto de um acordo partidário que Mantega nomeou, como ele mesmo disse, sem conhecer a pessoa?

3. Ele foi demitido por causa de suspeitas de "malfeitos" (apud Dilma).

4. Ele foi demitido porque o excelente trabalho (classificação de Mantega) executado na Casa da Moeda estava encerrado?

O episódio, quais que sejam as explicações reais, diz tudo do modelo nacional de distribuição de cargos públicos. A Casa de Moeda, pelo que se viu, foi tratada quase como uma casa de tolerância.

Ecos da incompetência

É inadmissível, inaceitável, ilegítimo, ilegal e tudo o mais o terror ao qual a PM está submetendo o povo da Bahia. Terror que já ameaça se espraiar para outros Estados. É inadmissível, inaceitável e ilegítimo também os salários que são pagos aos policiais no Brasil, as condições de trabalho a que eles estão submetidos, baixa qualificação das tropas e o número insuficiente de policiais. Este é o gravíssimo impasse que o Estado brasileiro não resolve, por inapetência e incompetência, embora o país orgulhe-se de ser a sexta economia do mundo. Sexta economia para quê? cara pálidas.

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(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

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