quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OBSERVATÓRIO

Semana passada encontrei-me com Esmerino Arruda, o político mais longevo do Ceará. O nonagenário militante de batalhas políticas e lides empresariais, que há quatro anos enfrentou sua última pugna urnística e foi eleito prefeito de Granja, vivenciou momentos memoráveis da vida política e empresarial do País, os quais adora rememorar. Contou-me que, certa feita, viajou com Edson Queiroz para São Paulo. Foram até à cidade de Mogi das Cruzes. Edson Queiroz queria conhecer a experiência de implantação de uma Universidade liderada pelo crateuense Bezerra de Melo. A partir daí nasceu a Universidade de Fortaleza – UNIFOR, saudada pelo então ministro da Educação, Jarbas Passarinho, com a famosa frase: "Na meia luz do crepúsculo de hoje, vi um homem chorar e uma Universidade nascer".

EMPREENDEDOR
Assim como o crateuense Bezerra de Melo, Edson Queiroz foi um empreendedor por excelência. Esta era a sua marca. E como faz falta, na atividade pública, essa característica do sucesso na iniciativa privada. Neste início de quadriênio de mandato eletivo, em que as dificuldades se avolumam, os novos Prefeitos precisam colocar no cabeçalho de suas pranchetas o tema do empreendedorismo. Os melhores gestores serão os que souberem se firmar como grandes empreendedores. Longe de ser um talento inato, privilégio de iluminados ou de uns poucos escolhidos, empreender é uma habilidade que pode ser desenvolvida por qualquer um.

ORDEM
São Tomaz de Aquino ensinava que "a sabedoria é a maior perfeição da razão e sua principal função é perceber a ordem nas coisas". Para ele, a ordem é as coisas no seu lugar. Quando se tem muitos desafios a enfrentar, o caminho é estabelecer uma hierarquia na solução dos problemas. É a capacidade de escolher o que é mais importante e concentrar energias no que interessa. Definir prioridades.

NOVOS PREFEITOS
Alguns dos novos prefeitos têm demonstrado esse senso de ordem. O primeiro ato do Prefeito de Independência, Valterlin Coutinho, foi decretar emergência administrativa e financeira no município, pois assumiu uma máquina com grave quadro de ingovernabilidade: as despesas obrigatórias superam toda a receita prevista. Decretou recadastramento e retorno dos servidores aos órgãos de origem. A mesma coisa fez o Prefeito de Ipaporanga, Toinho Contábil. Este também realizou uma elogiável operação de remoção de entulhos e limpeza das ruas da cidade. Essa é uma ação emblemática, pois é o Poder Público protagonizando algo que toda a população também deveria fazer. O povo japonês cultiva a tradição de fazer o Susu harai (煤払い, pronuncia-se sússu rarái) – literamente: "varrer, botar pra fora a fuligem" - modernamente chamado de “Osouji”, que é a famosa limpeza de final de ano. Mas essa assepsia não consiste apenas em tirar o pó e passar um paninho úmido pela casa, é uma verdadeira limpeza mesmo: começa-se do sótão até o porão. Imagine essa cultura de higienização incorporada ao conjunto das pessoas!

NOVOS PREFEITOS II
Em Poranga, o novo alcaide, Cárlisson Emersson, reuniu a equipe e realizou um planejamento sistemático para os primeiros cem dias de governo. Atitude semelhante teve o Prefeito Godofredo, o Godô, de Novo Oriente. Embora amargando bloqueios vultosos de recursos, por parte do INSS e de dívidas milionárias de precatórios que se vencem agora e caíram em seu colo, Godô mantém a serenidade e a cabeça erguida. Introduziu um sistema inovador de avaliação dos secretários com base no cumprimento de metas. Cada pasta municipal tem objetivos a cumprir em períodos delimitados e a manutenção dos gestores à frente das secretarias está vinculada à execução exitosa dessas metas. É um sinal de profissionalização da gestão.

A SECA E O SHOW
Estamos em plena curva ascendente de uma grave crise causada pelo prolongamento da estiagem. Existem muitas comunidades em que o povo está praticamente sem água ou sendo obrigado a consumir água barrenta. São comoventes e constantes os relatos de alta mortandade de animais. Há agropecuaristas que registram perdas que totalizam cinquenta por cento do rebanho. O governador Cid Gomes tem sido bombardeado pela imprensa porque, em meio a esse quadro desolador, realizou a inauguração de um Hospital sob o conforto de um contrato de R$ 650.000,00 com a cantora Ivete Sangalo. O fato de ser um governante operoso e eficiente, moderno e trabalhador não o torna imune a críticas. O evento foi inoportuno; a despesa, alheia ao princípio de austeridade que todo gestor deve apreciar, considerada um gasto perdulário do dinheiro público. Teria muito mais utilidade se fosse aplicado em ações de combate aos efeitos da seca. O mesmo desafio está posto para os senhores Prefeitos por ocasião do período carnavalesco. Em Crateús, município com gritantes dificuldades neste momento, fala-se que, oficialmente, só de recursos próprios serão desembolsados R$ 100.000,00 para a folia momina. Ninguém nega a relevância do Carnaval, prestigiada festa popular. Pergunta-se: neste momento excepcional de crise, é um gasto oportuno, ou prioritário, ou necessário, ou imprescindível?!

PARA REFLETIR

“No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla”. (Roberto Campos)

(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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