quarta-feira, 20 de março de 2013

A AURA DE FRANCISCO



Os humanos somos, indistinta e ambulantemente, geradores de energia. E essa explosão energética dos nossos corpos, conforme os estudiosos dessa temática, tem cores. Dentre estas, destacam-se a escarlate, que emite larvas de violência, e a lilás, que aponta o ápice do amadurecimento espiritual.

Pessoas há que, desde o primeiro contato, nos envolvem em uma oceânica e contagiante onda de luz e paz e bondade e amor. São pessoas especiais, de peito estrelado, de alma generosa, coração comunitário, mente de arco-íris, veias abertas, fronte lunar e elevado espírito solar. Assemelham-se a uma brisa suave. Possuem aura... Aura, segundo a radícula etimológica do Latim, é exatamente “vento brando, brisa”.

Suponho que a maioria das gentes que assistiu o anúncio do novo Papa se sentiu arrastada pelo magnetismo de sua aura. O argentino Jorge Mario Bergoglio, filho do ferroviário Mario Bergoglio e da dona de casa Regina Maria Sivori, encantou o mundo instantaneamente com a serenidade do seu despojado ser. Esta é uma característica das criaturas que escalam o monte superior da iluminação: são serenas. Como a brisa que faz contraponto ao vento forte – e, por isso, une ao invés de espalhar - o sereno destoa da enxurrada chuvosa.

A serenidade geralmente se revela no olhar. O olhar da pessoa serena, que conheceu o cume do amor verdadeiro, é diferente do olhar fugaz do apaixonado, que possui um brilho mesclado de inquietação e ansiedade.

Quando, após o tradicional anúncio Habemus Papam, emergiu na janela da Basílica do Vaticano a figura do primeiro bispo de Roma nascido na América Latina, um enorme silêncio se fez, um silêncio solene e cerimonioso, respeitoso e reverente. Aquele mutismo, no entanto, era extremamente ruidoso: carregava a efervescência indescritível do ineditismo. Era como se a roda grande estivesse passando por dentro da pequena: o trono mais elevado do poderio religioso católico estava sendo ocupado por um representante dos povos colonizados pelos europeus.

O novo Papa mostrou que veio, também, para surpreender. Oriundo da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada pelo espanhol Santo Ignácio de Loyola em 1534, Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome papal de “Francisco”, em homenagem ao aureolado Santo de Assis, aquele a quem Dante Alighieri se referiu com uma “luz que brilhou sobre o mundo”. São Francisco, carinhosamente chamado pelos italianos de “O Pobrezinho”, foi indubitavelmente o mais completo dos santos. Filho de um rico comerciante, abandonou a via larga da abundância e da extravagância, do luxo e da luxúria, pelo caminho estreito do sofrimento e da pobreza.

Especula-se ser pouco provável que o Papa Francisco promova as radicais transformações que a Igreja Católica necessita. Talvez seja mesmo difícil remover a totalidade da crosta burocrática que produz escândalos midiáticos, noticiário desairoso, condutas que agridem a boa fé comum. Se pouco conseguir nesse campo, ele já iniciou fazendo muito: envolveu-nos com o manto de sua aura lilás. E, o principal: educa-nos com o seu exemplo. E o exemplo – já lecionou sabiamente o teólogo, músico, filósofo e médico alemão Albert Schweitzer – “o exemplo não é a melhor forma de educar, é a única”.

(Júnior Bonfim, na coluna Gente Que Brilha, edição deste mês da Revista Gente de Ação)

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