quarta-feira, 13 de março de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

De repente

Abro a coluna com uma historinha da Paraíba.

Um ano da década de 60. O governador Pedro Gondim, da Paraíba, sai em campanha política pelo interior do Estado. Numa cidade, esbarra em uma cantoria de viola. Os organizadores da festa o levam até a dupla de poetas populares para as apresentações:

- Eis aqui o nosso governador, saúda o anfitrião.

- Conhece-o pessoalmente? Indaga a um dos cantadores.

O artista acena afirmativamente e lasca de improviso.

- Eu conheço vários Pedros
- Pedro Bom e Pedro Ruim
- Pedro ruim igual a Pedro
- Só conheço o Pedro Gondim!

O governador esboçou um sorriso amarelo.

(Da coleção de Orlando Rodrigues em Segura Essa)

O enigma Serra

José Serra começa a se vestir de enigma. Para onde vai o ex-senador, o ex-governador, o ex-prefeito e o recorrente candidato à presidência da República? Chovem versões nos bastidores políticos. Ora, ouve-se a versão de que apenas faz onda, mas acabará se conformando com a candidatura ao Senado pelo PSDB, em 2014. Afinal, tucano de bico grande não abandonaria a floresta. Ora, ouve-se à boca pequena que estaria de mala e cuia pronto para embarcar na canoa do PPS, do deputado Roberto Freire. Nesse caso, seria candidato pelo partido à presidente. Há quem o veja entrando no PDS de Kassab, hipótese sem chances, eis que a legenda já assentou pé na base governista de Dilma.

Alternativa mais viável

Pelo andar da carruagem e levando-se em conta a fala do deputado Roberto Freire, no Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira, o noctívago Serra quer mesmo ser candidato a presidente - "o melhor perfil", segundo o presidente do PPS. O fato é que os tucanos estão rachados em SP. O grupo de Serra tem birra e bica o grupo de Alckmin. Fernando Henrique tenta apartar a contenda e não consegue. Diz-se, ainda, que Serra não teria aprovado a iniciativa de FHC de pedir a Aécio que colocasse seu bloco na rua. Muito cedo, considera. Mas Aécio tinha de dar resposta à provocação de Lula, que anunciou a presidente Dilma como candidata à reeleição.

O quadro com 5 candidatos

Se Serra entrar no pleito e se Marina conseguir formar seu partido antes de outubro, a moldura seria composta por : Dilma, candidata governista, e mais quatro candidatos de oposição: Serra, pelo PPS; Eduardo Campos, pelo PSB; Marina, pela Rede Sustentabilidade e Aécio, pelo PSDB. Nesse caso, as possibilidades de um segundo turno são bastante previsíveis, mesmo sob um cenário de estabilidade econômica, crescimento médio do PIB e bolso cheio da galera das margens com a grana das Bolsas. Mas há outras hipóteses a considerar. Vejamos.

O fator Marina

Digamos que Marina Silva não consiga arrumar a sua Rede. Teria duas alternativas: ser vice do Serra, na chapa do PPS. Nesse caso, teria de ingressar no partido ou em outro que firmasse parceria com a sigla de Roberto Freire. Ou poderia compor a chapa de Eduardo Campos, do PSB. Este consultor acredita que esta última hipótese é mais provável, levando-se em conta o passado de Marina e a identidade tucana de Serra, mesmo que este venha a sair do PSDB. Campos/Marina seria uma chapa mais identificada com novidade, coisa diferente.

Segundo turno

Em qualquer hipótese, confirmando-se a candidatura do governador de PE, a questão se apresenta desta forma: com quem Campos faria parceria em um segundo turno? Com o candidato tucano Aécio Neves ou com a presidente Dilma, considerando-se que sejam os mais prováveis candidatos a entrar na segunda rodada eleitoral? Este consultor tem dúvidas. Lembro que Campos já me confessou uma vez : meu sonho é reunir a geração pós-64 e tomarmos conta do país. Naquela noite, em Comandatuba, essa geração abrigaria perfis como os Gomes (Ciro e Cid), Aécio Neves, Kassab e ele, Eduardo Campos, entre os mais visíveis. Por isso, não se pode descartar a possibilidade de Campos entrar na seara de Aécio, apesar da forte influência que deverá exercer, numa situação dessas, seu "irmão mais velho", Luiz Inácio Poderoso Lula da Silva.

Teria ele chances?

Campos tem chances de entrar em um segundo turno? Vejamos. Primeiro, teria de unir todo o PSB em torno de seu nome. Coisa complicada, quando se sabe que o governador Cid Gomes já manifestou sua preferência por Dilma, com o conselho ao correligionário para se preservar e ser candidato em 2018. Segundo, teria de conquistar o território do Sudeste, onde é um perfil praticamente desconhecido. SP, com 30 milhões de eleitores; MG, com 15 milhões e RJ, com 12 milhões serão Estados decisivos. E Campos passa longe das urnas nesses três maiores colégios eleitorais do país. E mesmo no Nordeste, o maior colégio eleitoral é a Bahia, onde Campos também não tem penetração. Tudo isso pode mudar? Sim. Mas a análise fria dos dados aponta para uma posição de parceiro menor em 2014.

E qual a vantagem?

Ora, a vantagem de entrar na campanha de 2014 é mesmo o da meta da visibilidade. Desconhecido, o governador passaria a ser bastante conhecido. Aplainaria o caminho para a chegada ao pódio em 2018. Como sempre tem lembrado este consultor: a menor distância entre dois pontos na política nem sempre é uma reta como na geometria euclidiana. É uma curva. Que o digam Lula e tantos outros que colecionaram derrotas e, depois, foram glorificados pelas urnas.

Papáveis

Entremos, agora, na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave para eleger o sucessor de Bento XVI. A Igreja Católica de Roma padece de forte crise: as finanças estão combalindo e graves denúncias têm corroído a imagem da instituição que governa mais de 1,2 bilhão de pessoas. O melhor perfil seria o de um Papa carismático, que tivesse condições de colocar a Igreja nos trilhos da modernidade, uma pessoa de ares santificados, que não fosse carimbado com os rótulos de conservador, progressista, reacionário, moderno. Um papa do século XXI.

Principais nomes

Dom Odilo Scherer, o brasileiro, tem condições? Sem dúvida. Mas entra no círculo dos rótulos. Para o Brasil, seria ótimo. Afinal, temos a maior população católica do mundo. E SP, sua arquidiocese, a maior população de católicos do Brasil. Mas é considerado conservador e candidato da poderosa, porém polêmica, Cúria Romana. Angelo Scola, o arcebispo de Milão? Considerado muito avançado. E que tal um meio termo, como Gianfranco Ravasi, italiano, culto e carismático? O canadense Marc Ouellet tem chances, mas o simbolismo do poderio da América do Norte pode ser inconveniente.

Orater frater

O padre Edmondo Kagerer é austríaco, mas adora o Brasil em especial os sertões do Seridó, onde fundou e mantém em pé as Aldeias Infantis SOS. Fuma cachimbo e gosta de cerveja. Mas os motivos que o levaram a deixar a paróquia de São José e, por certo período, a região, foram a língua portuguesa e sua pronúncia. Chamava o motorista Paulo de Apaula, Caboré, um amigo, de Acabaré, e assim por diante. Mas quem complicou mesmo a situação foram as pressões das beatas junto ao bispo depois de tanto ouvirem e, claro, não entenderem, essa revelação do reverendo estrangeiro em seus sermões:

- Ajude a igreja. A nossa piroca também é de vocês! (o reverendo se referia à paróquia)

(Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues)

E o Tristiciano, hein?

O sobrenome acima, claro, é um contraponto ao Feliciano. Isso mesmo, o sobrenome do deputado Marco, do PSC, elevado ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A polêmica se estabeleceu. O deputado deu declarações discriminatórias e parece mesmo embalado por um celofane fundamentalista. A esta altura, o PSC, para evitar desgaste, deveria substituí-lo. Sob pena de ter de conviver com reações negativas que acabarão estreitando mais ainda seus votos em 2014.

Ponto e contraponto

E por falar em ponto e contraponto, levanto mais uma comparação : a alga e o silicone. A alga é elemento que pode descobrir a verdade. O silicone, o elemento usado para encobrir a verdade. Vejamos. Um biólogo analisou o sapato do advogado Mizael Bispo e descobriu nele uma alga que existe na represa, onde foi encontrada sua namorada, Mércia Nakashima. Ou seja, uma alga pode ser a pista para a descoberta do crime. Abrindo, agora, a outra historinha. Em SP, uma médica de 29 anos foi presa por suspeita de fraudar o ponto eletrônico nos plantões de um hospital público, usando, para tanto, dedos de silicone com a digital de médicos e enfermeiros. 11 médicos e 20 enfermeiros participariam do esquema. Tecnologia a serviço do bem e do mal. E uma pitada de cultura brasileira. A cultura do jeitinho.

Temas ferventes

A pauta política no horizonte deixa a ver temas candentes em intensa discussão: pacto federativo, royalties do petróleo, MP dos portos, orçamento impositivo. O pacto federativo abrigará fóruns de governadores e prefeitos interessados em aumentar a participação de Estados e municípios no bolo da União; o assunto está pra lá de discutido. RJ, ES e SP buscam, no STF, recompor a situação dos chamados Estados produtores e garantir contratos do passado. Os portos estaduais, como Suape, em PE, temem perder sua autonomia. A presidente quer acabar com prerrogativas de Centrais Sindicais de interferir no regime de contratação de avulsos. Há outros imbróglios na MP. E os deputados não vêem a hora de decidir sobre o orçamento impositivo, promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves. Essa modalidade resgata a autonomia orçamentária aprovada pelo Congresso.

Facilidade impossível

Prefeito de Mossoró, João Newton da Escóssia sempre foi conhecido pelo rigor no trato das coisas públicas. Nada e ninguém poderiam violar o erário municipal. Apesar do rigor de João Newton na administração da prefeitura de Mossoró, não faltam excessos e incursões a pecados. Detectado por João Newton, o deslize era imediatamente reparado. O prefeito, ninguém tem dúvidas, não tem qualquer tipo de flexibilização, quando o assunto fere a lei. Em sua sala de trabalho, João Newton vê entrar um antigo amigo, num dia de expediente normal. Trata-se do conhecido "Telé". Após cumprimentos normais, algo comum entre amigos, Telé assinala o que o levara ao gabinete do prefeito:

- João, eu vim aqui para lhe pedir uma coisa!

- Pode falar, Telé - estimula o prefeito João Newton.

- Eu quero que você facilite uma coisa para mim - diz.

O prefeito, então, pondera bem ao seu estilo:

- Olha, Telé, se tiver tudo certinho, dentro da lei, direito mesmo, eu lhe ajudo.

Casmurro, Telé vê logo como é inexpugnável o senso de legalidade do prefeito e amigo.

- João, eu vim aqui para você facilitar uma coisa. Se fosse assim, tudo direito, eu não vinha lhe procurar.

(O relato é de Carlos Santos em seu livro Só Rindo)

Conselho aos pré-candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às Centrais Sindicais. Hoje, dedica sua atenção aos pré-candidatos que começam a correr o país para viabilizar planos eleitorais.

1. No momento em que Vossas Excelências começam a pôr o carro nas ruas e abrir um amplo processo de articulação com as forças da sociedade organizada, é aconselhável que portem ideias claras, objetivas, viáveis, abrangentes. Essa sugestão visa despersonalizar o processo político/eleitoral e adensar o discurso com propostas para o país.

2. Ouçam as demandas dos grupamentos sociais, procurando compor a radiografia da realidade brasileira. E evitem fazer crítica por crítica. Façam elogios a programas/projetos que estejam mostrando resultados.

3. Evitem parolas populistas e molhadas no caldo do oportunismo que costuma embalar os pacotes de compromissos.

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(Gaudêncio Torquato)

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