terça-feira, 12 de março de 2013

JOSÉ CORIOLANO DE SOUSA LIMA



Faculdade de Direito do Recife. Prédio lendário, desenho imperial, arquitetura solene, postura memorial, arquivo incomensurável, atmosfera histórica. Os jardins que circundam aquele edifício memorável exibem bustos de nomes famosos – como Rui Barbosa e Castro Alves – que salpicaram de estrelas as folhas cadentes da literatura nacional.

Piso os pés no envolvente silêncio que domina aquele tablado clássico. Interrogo uma servidora se poderia me prestar informações sobre um ex-aluno da Instituição. Ela responde afirmativamente e, na mesma pisada, indaga qual o período em que estudou e o nome completo desse ex-aluno. Respondo que se trata de José Coriolano de Sousa Lima e que foi aluno nos idos de 1850. Depois de pesquisar, ela me afirma que o nome do autor de O Touro Fusco e Impressões e Gemidos consta na relação de bacharéis em direito que se perfilaram como concludentes no ano de 1859.

Admirador contumaz do meteórico e insuperável poeta de Crateús, saí dali com minha taxa de estima ainda mais inflada por esse ser constelado. José Coriolano, que deixou a existência terrena dez anos após concluir o curso de direito, em apenas uma década fincou mourões indeléveis. Construiu uma rampa de madeira imorredoura. Acessou o portal da glória. Conheceu a copa do sucesso e nos distinguiu com um legado luminoso que o redemoinho dos anos não conseguiu apagar.

Com atuação destacada no Maranhão e no Piauí, percorreu o leito da história como Magistrado de escol, Jornalista de renome, Político ilustrado e Poeta insuperável. Juiz de Direito em várias freguesias, sua pena de Jornalista passeou ativamente nos vales da linotipia da imprensa no Recife e Teresina. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa (pois, à época em que viveu, Crateús pertencia ao Piauí). Aclamado Príncipe dos Poetas Piauienses, é considerado o talhador da pedra fundacional da literatura Piauiense.

José Coriolano é a comprovação inequívoca de que a distribuição dos dons Celestes não segue a perversa lógica mercantilista. Enquanto o poder econômico é atraído pelo magnetismo da concentração do capital e brota, via de regra, nos grandes centros de exibição da riqueza, a gratuidade divina escolhe os estábulos e as manjedouras mais inesperadas para parir os seus rebentos. O primado da inteligência - produto da mão que gera o imprevisível, dádiva do Ser Superior – lateja em solos inimagináveis. Germina nas capoeiras mais desprezadas. No tempo de Jesus, os doutores da Lei se questionavam como Nazaré, uma região sobre a qual pairava a nuvem do preconceito, era capaz de gerar um Profeta! Logo aquele Jovem questionador, que era filho de um carpinteiro!...

José Coriolano é a materialização inconteste dessa assertiva bíblica. Nascido entre as babugens destes solitários torrões, na fazenda Boa Vista, quando Crateús era conhecida por Vila Príncipe Imperial, resplandeceu nos cerimoniosos espaços em que pontificavam os luminares da cultura nacional.

Coriolano foi um fidalgo das letras que construiu uma obra impagável e inapagável de devoção às maravilhas Divinas, de paixão pela Natureza e por todos os animais, de modelar sintonia com a mulher amada, de culto aos altos valores da Justiça e da Liberdade! Seu busto, reexposto em praça pública, é uma doce provocação à nossa massa encefálica: estudemos sua trajetória, miremos seu exemplo!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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