terça-feira, 2 de julho de 2013

MARIA DO CARMO DE SOUSA LIMA


Os que colocaram sua inteligência emocional e dedicação laboral a serviço da Escola de 1º Grau Santa Inês realizam hoje um desses eventos arco-íris, espetáculo de luz solar combinado com gotículas de água na comunhão de cores diferenciadas. Eu e minha família não hesitamos em priorizar nossa presença aqui. Embora por um rápido período, aqui lecionei. Aqui fui arrebatado por aquele magnetismo do olhar que nos leva a confeccionar a aliança da alma. Há exatos vinte e três anos iniciava, a partir deste espaço, o idílio que transmutou minha incursão terrena.

Os lugares, os prédios, os espaços de maneira geral estão impregnados de energia. Sobretudo, da energia daqueles que os lideram. Energia, segundo os gregos, é trabalho, algo que move algo, sistema que impulsiona outrem. A termodinâmica acrescentou que energia é também calor. Este espaço, senhoras e senhores, exala o trabalho de amor e o humano calor daquela que foi a sua “Donna Prima”: Maria do Carmo de Sousa Lima. Por isso se consolidou um inquestionável consenso de que os mimos e regalos deste memorável momento são para ela destinados. E por aquela razão que o coração também dá crédito: a razão de mérito!

Primeiro porque ao reverenciá-la - ao invés de presenteá-la - em verdade somos todos dadivados com o laurel de ensinamentos que erigiu pelo fogo do trabalho. A vida da professora Maria do Carmo (que também exalou talento no bordado, na arte de vendas e no embelezamento de cabelos) é uma floricultura de essências espirituais. Dela destaco três rosas de especial perfume.

Antes do mais, o seu incondicional amor à família. Do lar em que nasceu, sob a adoração do pai e o exemplo de luta da mãe, recolheu a argamassa de estremecimento fraterno que usou com Mamede de Melo Lima na edificação do seu radioso lar e dos três pares de filhos: Aureni, a bancária instituída filha por crédito divino; Nonato Melo, profissional da saúde e destacado líder classista na área médica; Zacarias, sacerdote da humildade, profeta que vive em irrepreensível sintonia com as regras sagradas; Célia, enfermeira e militante das boas causas; Eliane, médica pediatra, com extensa folha de serviços prestados na cidade de Crateús e Francisco das Chagas, também médico zeloso e anestesista que atua com o aparelho da serenidade. Colocar filhos no mundo não é tarefa complexa; difícil é tecer com eles os fios da virtude. À gestação basta uma fugaz copulação; uma vida virtuosa prescinde de fé, paciência e, sobretudo, amorosa dedicação. Maria do Carmo percorreu esta última vereda. Não foi apenas a genitora biológica; foi uma mãe ecológica: soube inserir saudavelmente os seus rebentos no meio ambiente da sociedade.

Na mesma trilha, o culto à educação. Maria do Carmo se fez maiúscula soletrando os fonemas de giz e desenhando, sem o saber, a heráldica flor de lis. Sua caminhada pela alameda educacional inclui passeios pelo Colégio Lourenço Filho, Escola Padre Macedo, Escolar Particular Santa Maria Goretti, Educandário Nossa Senhora do Carmo e Escola Santa Inês, cuja direção ocupou por quase uma década e meia. Aqui consolidou a veneração às luzes que saltam das letras. Quando partir para outra dimensão, desta escola quer levar a bandeira sobre o caixão. Foi, portanto, a educação a ponte estaiada que a fez conduzir os filhos ao porto seguro da evolução.

E, por fim, o aprendizado da perda. Em um mundo marcado pela ditadura do sucesso e pela intolerância com perdas, a filha de José Ferreira Lima e Isabel de Sousa Lima encarou com serenidade as tempestades da vida. A perda de Mamede de Melo Lima, o marido de 30 anos de matrimonial união, foi o primeiro grande abalo. Depois, Aureni, a filha do coração, que levou parte da sua alegria e cuja saudade é como um sino que constantemente dobra sua alma.

A perturbação patológica da civilização moderna reside, em grande parte, na corrosão do linho familiar. Maria do Carmo zelou a família como sagrada entidade.

A seta da solução indica a educação como o platô em que recuperamos o oxigênio vital para o soerguimento social. Maria do Carmo escalou esse monte e aí fincou o estandarte do dever de casa.

Harmonizar-se com as pedras do caminho, principalmente com as barreiras batizadas de perdas, é o estágio superior do progresso espiritual. Maria do Carmo o experimentou.

Maria do Carmo. Pela tradução do hebraico, Maria, “Soberana Senhora”. Carmo, de Carmelo, “Jardim ou Vinha de Deus”. Por mística coincidência, neste dia oito (e oito é aliança colada), quis o destino que nos uníssemos para brindar o vinho celeste em honra da soberana senhora que primeiro dirigiu a Escola Santa Inês.

Alegremo-nos pelas maravilhas que o senhor operou nesta sua humilde serva! Salve, Maria do Carmo, pelos benditos frutos que semeaste na Vinha de Deus!

(Júnior Bonfim - crônica lida em 08.06.2013 no Reencontro da Escola Santa Inês -1966/2004, Crateús, Ceará)

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