terça-feira, 18 de março de 2014

HEITOR MARAVILHA

Quem se aventura nesse ofício de engenho e arte que é a edificação de palavras, a arquitetura de frases, a construção de parágrafos, vez por outra se depara com a ausência da argamassa de assuntos. Confesso que assim estava em relação a minha primeira crônica laborada no ano de 2008.

Caminhando pelas ruas centrais de Crateús, transportei-me no pensamento e fiquei à cata de tijolos de idéias. Que mensagem apresentar naquele inicio de ano? Quais as sílabas primeiras a publicar?

De repente, em plena Rua Barão do Rio Branco, alguém me estendeu os braços, ensaiando trejeitos femininos e abrindo um sorriso esparramado como o céu. Era o Heitor Cavalcante de Almeida, o Heitor Maravilha.

Conheci-o há algum tempo. Como um filme em velocidade acima do normal, recordei algumas facetas da sua personalidade.

Primeiro, a sua presença, que lembra alegria. Compulsivamente brincalhão, o Heitor nos oferecia diariamente a lição que “a vida não deve ser levada tão a sério”. Agregou ao nome o epíteto ‘MARAVILHA’ porque, além de assim cumprimentar os demais, era uma figura permanentemente maravilhada com a existência.

Contou-me certa ocasião que, no Carnaval de 1996, exatamente quando se debatia com uma enorme crise financeira pessoal, teve a ideia de se juntar aos carreteiros da cidade e formar o bloco carnavalesco “Maravilha e Carreteiros”. Comemorou intensamente o período momino e, na quarta-feira da vida, renasceu das cinzas e se firmou como um próspero comerciante.

Daí talvez decorra uma outra característica singular que cultivava: a capacidade de superação. Sim, um dos maiores desafios que enfrentamos na atualidade é o de trabalharmos positivamente com as perdas e frustrações que nos são postas. Heitor descobriu o segredo de passar incólume pelos abalos sísmicos existenciais.

Internamente, julgo que aprendeu a polir a pedra bruta da vida numa construtiva irmandade que pertenceu e que tem como prioridade erigir templos à virtude.

Demais disso, foi um bom camarada, solidário companheiro que cultivou a árvore da amizade com a dedicação afetiva de um jardineiro fiel. Basta citar, como exemplo maior disso, o vínculo fraternal que o unia ao inesquecível Flávio Lima.

O certo é que aquele encontro com o Maravilha me fez refletir sobre as ânsias e expectativas da nossa comuna naquele 2008. Urge que transportemos para o coletivo valores que individualmente podemos alimentar.

Absorta em dificuldades de toda ordem, a cidade precisava despertar. 2008, ano eleitoral, era para por à prova nosso fulgor pela superação. Poderíamos mostrar que, tal qual Fênix, éramos capazes de renascer das cinzas das dificuldades, eliminar as notícias desairosas e publicar uma nova era, de promissora reconstrução.

Por isso, a despeito de qualquer contratempo, maravilhei-me com aquele 2008! Heitor desencarnou e eu recordei aquele episódio. Sua alma saltitante, baile de alegria em nossa desafiadora rotina, jardim de tulipas na aridez cotidiana, permanecerá aberta como uma perfumada jitirana azul à beira da estrada da vida!

(Júnior Bonfim)

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