sábado, 14 de setembro de 2019

DESEMBARGADORA NAILDE PINHEIRO


Principio minha fala lembrando que não são poucos os que afirmam que “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Outros, no afã de externar generosidade, avançaram e asseveraram que “é ao lado do homem que encontramos a grande mulher”. Perdoem-me, mas penso diferente.

Mulheres há que, sem fixação, indiferença ou rejeição ao consorte, constroem marca própria!

A desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira é uma delas. Seu trajeto existencial é marcado pelo percurso sereno, pelo caminhar sintonizado com o sol dos grandes valores.
Mirem essa galeria de ex-Presidentes do nosso Tribunal Regional Eleitoral. Nela, as mulheres rareiam. São exceções que confirmam a regra da gana pela primazia masculina...
Sonorizou as cordas musicais da sensibilidade quando aqui mencionaram mulheres que se destacaram ao longo da caminhada da humanidade.

De fato, o útero da História é pródigo em exemplos de admiráveis fêmeas de terra e guerra: Cleópatra, além de deslumbrante e sedutora, era inteligente e culta, cuja notória esperteza manteve as fronteiras do seu reino; Joana D’Arc, jovem camponesa que vestiu a farda militar e foi protagonista de uma guerra que restabeleceu a dignidade francesa, além de ser queimada pela mesma Igreja que, séculos depois, reconheceu sua santidade; Isabel de Castela, a rainha espanhola que patrocinou a descoberta da América por Cristóvão Colombo; a catarinense Anita Garibaldi, a combatente da Revolução Farroupilha, mulher muito à frente de seu tempo; e, mais recentemente, Madre Teresa de Calcutá, cujo apostolado extraordinário foi o mais patente exemplo de que “prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”...

No tempo histórico em que está fiando o seu mister, a desembargadora Nailde Pinheiro é detentora de qualidades que a tornam uma mulher diferenciada. Permitam-me que confidencie um dos momentos em que testemunhei isso.

Quando concorri a uma das vagas reservadas à advocacia neste Tribunal, realizei aquele périplo obrigatório de entrega do currículo e apresentação pessoal aos magistrados do TJCE. Ao adentrar no gabinete da desembargadora Nailde, ela informou que já tinha passado vista nos meus apontamentos. Preparei-me para a sabatina convencional sobre temas jurídicos, opiniões sobre composição de Cortes Julgadoras, inflexões jurisprudenciais ocorridas nos últimos tempos etc. Qual não foi minha surpresa quando, brilho nos olhos, ela disse:

- Gostei do que você consignou sobre a família (“lócus afetivo primeiro, ambiente privilegiado de integração e espaço fundamental para o processo de formação humana”) e, sobretudo, de mencionar que “nas folgas, inventando sabores, adora queimar aborrecimentos, restaurar energias e aquecer amizades à beira de um fogão”.

Naquele momento, conclui que estava diante uma julgadora que cultiva um raro sentimento nesses tempos de embrutecimento: o humanismo!

A desembargadora Nailde, que encheu este Tribunal de flores e espalhou o perfume da benevolência sobre todos os espaços desta Casa, merece de todos nós o buquê do reconhecimento.

E hoje, que ela se despede deste espaço, não temos motivo para lamentos ou tristezas.

É com alegria que nos despedimos.

Porque, após tantos anos de dedicação à Justiça Eleitoral Alecarina, a senhora parte para voos mais ousados e nos brinda com o brilho imorredouro da sensatez e da sensibilidade.

Boa sorte!

(Palavras proferidas na Sessão de Despedida da Desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira da Presidência do TRE/CE em 29.01.2019)

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