quinta-feira, 4 de junho de 2009

CONJUNTURA NACIONAL

Emancipação merecida

Manoel Moreira da Silva, médico, sogro do especialista agrícola, Eliseu Andrade Alves, presidente da Embrapa, chefe político da UDN em Carrancas, Minas Gerais, lutou anos pela emancipação do distrito. O IBGE resistia, alegando que na sede não havia o número mínimo de casas exigido em lei. Em 48, o IBGE voltou lá e o Dr. Manoel Moreira resolveu o problema: mandou o agente do Censo contar como casas os galinheiros do distrito. O agente resistiu:

- Puleiro não é casa.

- Como não é? Tem telhado? Tem porta na frente? Tem porta no fundo?

- Tem.

- Então é casa. Não importa quem está embaixo.

E Carrancas conquistou, galiceanamente, sua merecida emancipação. Quem conta a historinha é Sebastião Nery.

Dilma é competitiva

Faz tempo que esta coluna avisa: Dilma é competitiva. Ultrapassou, como previmos, a faixa dos 20% antes de julho. Seu teto, o teto histórico do PT, é de 35%. Isso não significa que não poderá ultrapassá-lo. Cada tempo, cada campanha e cada candidato têm os seus caminhos, mais estreitos ou mais largos, a depender das circunstâncias. No caso da Dilma, algumas observações podem ser feitas, já neste momento: tem condições de ganhar as eleições, caso equacione as condições de saúde; o empate com Serra no espaço da pesquisa espontânea mostra que já é muito conhecida do eleitorado; está usando muito bem o palanque pré-eleitoral, enquanto Serra está isolado no Palácio dos Bandeirantes; sua posição fixa mais em torno de si a base governista.

Lula reina absoluto

Com mais de 80% de aprovação pessoal, Lula reina absoluto. Pode se dar ao luxo de dizer o que quiser para quem quiser no momento que achar conveniente. Construiu pontes diretas com as massas. Come, agora, a sopa das classes médias. Lula lapida toda a pirâmide social com a argamassa de programas voltados para cada classe. No fundo, o que está em jogo é o conceito de confortabilidade. "Se as coisas estão indo bem, por que mudar?" Esta é e será a questão de fundo que os eleitores farão mais adiante. Serra terá de arrumar uma resposta para este sentimento que permeia a alma social.

Itamar como vice?

Pois é, Itamar Franco, que entrou no PPS, é cotado para ser o vice na chapa de José Serra. Quantos votos tem Itamar? Quantos votos tem o PPS? Qual é o tamanho da bancada do PPS? Pois bem, essas respostas embasam a escolha de um vice. O PPS ficou pequeno. Não adicionará muito ao PSDB para efeito de espaço na programação eleitoral gratuita. Itamar, por seu lado, é uma figura respeitada, mas parece viver no século passado. Poderia, sim, agregar Minas Gerais, eis que se trata do segundo maior colégio eleitoral do país. Sob esse aspecto, tudo bem. Mas quem deve fazer melhor análise é o tucano Aécio Neves, governador das Minas Gerais.

PT e PMDB

O maior calcanhar-de-aquiles dos tempos pré-eleitorais será a aliança entre PT e PMDB. O PMDB quer ter o maior número possível de candidatos a governador. O PT, idem. O PMDB deseja que o PT ceda o lugar na cabeça de chapa em Estados importantes, como Minas Gerais. O PT não aceitará facilmente essa pressão. Vai tomar posição apenas em fevereiro/março do próximo ano. Ora, o PMDB é pragmático. Se perceber que o PT não recuará em sua vontade de competir com ele, tomará o bonde em direção a outras plagas. Quem tem mais a perder é o PT. O PMDB ganhará a queda de braço.

Aécio cresce?


Com a subida de Dilma e descida de Serra (a diferença entre os dois diminuiu 12,5 pontos na pesquisa CNT/Sensus), Aécio Neves ganha. Ou seja, o governador paulista expressa a ideia de que não é tão poderoso como se imaginava. Aécio poderá trabalhar com esta hipótese para abrir caminhos.

"Nossa época alimenta-se e vive da moralidade de épocas anteriores." (Nietzsche)

Campos e Ciro


Eduardo Campos, o bom governador de Pernambuco, gostaria de arrumar um caminho para o deputado Ciro Gomes, seu companheiro de partido. O governo de São Paulo, por exemplo. Nesse caso, Ciro deveria se alistar em São Paulo, no mês de setembro próximo, deixando a terrinha cearense, governada por seu irmão, Cid. Poderá alegar que volta ao berço onde nasceu: Pindamonhangaba, aliás, também cidade de Geraldo Alckmin. Teríamos, assim, dois "pindas" pedindo votos. Claro, se José Serra abrir espaço para Alckmin. Pois seu candidato in pectore continua sendo o eficiente secretário Aloysio Nunes Ferreira, que conhece como ninguém o traquejo político.

O imponderável


O imponderável nos cerca. A todo o momento. Em todo o lugar. Recém casados, cheios de sonhos, decidem passar a lua de mel em Paris. Um príncipe, 26 anos, depois de rever a família, faz a viagem de regresso. Uma cantora, cheia de esperança, retorna ao trabalho na Alemanha, feliz por ter recebido a benção dos pais. Todos desapareceram tragicamente. Uma pessoa deixou de embarcar por ter o passaporte vencido. Foi salva. Outra perdeu o horário do vôo. Salvou-se igualmente. Foi uma perda transformada em ganho. E assim são as retas e curvas da vida. Cada um com sua imponderabilidade à espreita.

E as oposições, hein?


Qual é a proposta das oposições para o país? Onde estão as grandes ideias? O que deverá ser feito para melhorar as condições macroeconômicas? Como fazer para desempacar o PAC? Será que proposta só deve ser feita em tempos eleitorais? Esse é o busílis que atrapalha a vida das oposições.

"O menino é o pai do Homem." (Machado de Assis)

GM estatal

O capitalismo está de cabeça para baixo? A GM, um dos maiores símbolos do capitalismo mundial, agora é estatal. 60% de seu capital pertencem ao Estado americano. Fechará 14 fábricas. Receberá US$ 30 bilhões. O mundo está de cabeça pra baixo.

Renan reinando


Renan Calheiros volta a reinar. E assim gira o mundo da política. O ex-poderoso presidente do Senado teve de renunciar ao comando da Câmara Alta para salvar o mandato. Agora, como líder do PMDB no Senado, recupera a antiga força. Manda na CPI da Petrobras. Faz e desfaz. Ouço, de longe, o cochicho de minha velha mãe: "meu filho, nunca diga – desta água não beberei".

"Dios se há extraviado. Ahora todos le llaman a la vez desde todas partes." (Elias Canetti em El Suplicio de las Moscas)

Despedidas?


Versões correm dando conta de que Carlos Minc, o ministro do Meio Ambiente, não tem mais ambiente para continuar no governo. Que Nelson Jobim também estaria se preparando para dar adeus ao cargo. E que os ministros candidatos em 2010 podem deixar o cargo antes do prazo legal. Uma contraversão é soprada: alguns repensam suas decisões à luz da popularidade de Lula, que está nas alturas. A força do presidente poderá segurar alguns na cadeira.

Retrato volátil e mais uma pesquisa


Dilma sobre a última pesquisa: "retrato volátil". E Serra: "mais uma pesquisa". Ambos estão corretos. A primeira procura esconder a satisfação diante do salto que dá a cada pesquisa. O segundo procura esconder a frustração de constatar a descida. Esse biombo os esconderá até às eleições.

"Para ver uma coisa por completo, o homem precisa ter dois olhos, um do amor e outro do ódio." (Nietzsche em Sabedoria para Depois de Amanhã)

86% sem licitação

Bilhões e bilhões sem licitação. Pois é: mais de 86% das compras da Petrobras não foram objeto de licitação. Tudo por conta de um decreto que veio lá de trás, dos tempos de Fernando Henrique. Hoje, esse decreto é um grande escudo que os oposicionistas querem destruir. O mundo gira e a Lusitana roda.

Terceirizados pedem 4302

Os trabalhadores terceirizados, que integram o Sindeepres, comandado pelo sindicalista Genival Beserra, também querem a legalização do setor. Mais concretamente: defendem a aprovação do PL 4302/98. Genival está organizando uma caravana para ir à Câmara Federal, onde será recebido pelo deputado Michel Temer e pelas lideranças partidárias. Esse mesmo trajeto foi feito, semana passada, por empresários, sob a coordenação de José Maria Chapina Alcazar, presidente do Sescon/Aescon, e de Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

"No permitas que nadie te prescriba el tono de la esperanza." (Elias Canetti)

Conselho aos defensores de cotas raciais


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao governador José Serra. Hoje, volta sua atenção aos defensores de cotas raciais:

1. A cota racial tem ranço discriminatório.

2. As pesquisas mostram que os brasileiros não querem se ver divididos em cotas. O Brasil não quer ver aparecer como um país racista.

3. Em vez de cotas, por que não usar o critério social – a partir dos mais carentes?

Relações com a imprensa

Novas dimensões, em suma, compõem a postura de relacionamento com a imprensa. Eis algumas delas:

- evitar cooptação da imprensa à base de fisiologismo. A imprensa quer informações. O bom assessor sabe muito bem que está ultrapassada a ideia de considerar a imprensa como algo que pode ser tutelado;

- evitar ênfase ao dirigente – tem sido comum enfatizar os perfis de dirigentes. A informação sobre o negócio, a empresa, o produto tem prevalência sobre a abordagem personalista;

- evitar angulações que procurem expressar o conceito de empresa como ilha de felicidade, paz e progresso, cercada por maremotos e turbulências;

- evitar comunicações inócuas – substituir o envio de informações inoportunas, desnecessárias e desinteressantes por informações socialmente significativas;

- substituir a improvisação pelo profissionalismo;

- trabalhar de modo mais profundo a identidade da organização;

- reconhecer os problemas e as dificuldades vividas pela organização;

- substituir o monólogo pelo diálogo;

- criar eficiente articulação com as pontes da imprensa, amparada nos valores da amizade, do respeito, da confiança e, em certos casos, da exclusividade noticiosa.

Evitar o ridículo

As coisas ridículas são razoavelmente aferidas pelo bom senso. Nem sempre conseguem ser detectadas por algumas pessoas. É preciso estar atentos a elas. Leopardi, diz que "as pessoas são ridículas apenas quando querem parecer ou ser o que não são". Ridículo é o artificialismo na construção dos discursos; ridículos são os perfis que se desmancham com um exame mais apurado. Ridículas são pessoas que pretendem mostrar o que não têm, ser o que não são e dizer o que não sabem.

Defender um ideário


É preciso ter fé, defender firmemente uma crença. A pessoa amorfa, sem opinião, sem paixão, sem valores, sem princípios, assemelha-se a um vegetal. Como prega o mártir da causa dos negros norte-americanos, Martin Luther King, "se um homem não descobrir nada por que morreria, não está pronto para viver". A construção de um ideário não é uma tarefa artificial. O ideário é o somatório de lições de vida e de experiências, de alegrias e tristezas, de conhecimento acumulado e dos valores adquiridos ao longo da trajetória. Uma pessoa sem ideário é como uma lesma que se desconstrói com uma pequena pitada de sal. É de Blaise Pascal o pensamento: "Posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais necessária do que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho".

(Por Gaudêncio Torquato)

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