quarta-feira, 16 de junho de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

Perspectivas e características

Luís Pereira, pintor de parede, teve apenas 200 votos em Pernambuco. Mas virou deputado Federal. Suplente de Francisco Julião, cassado, tinha de assumir. Chegou a Brasília de roupa nova e muito comovido. No aeroporto, o potiguar Murilo Melo Filho, conta Sebastião Nery, jogou tinta na boca do novo parlamentar:

- Deputado, como vai a situação?

Pensou, pensou, olhou para um lado, olhou para o outro e tascou:

- As perspectivas são piores do que as características.

Identidade e imagem

Postas as candidaturas, a campanha começa a ganhar ares oficiais. Cada candidato terá de fazer chegar sua Identidade aos eleitores. Identidade é um composto de: pensamentos e ideias, experiências, história, atitudes e valores (plano semântico); e maneira de se vestir, de falar, de gesticular (plano estético). Identidade começa com o sufixo Idem (do latim), que significa semelhante, igual. Identidade, portanto, é a verdade da pessoa. Já Imagem é a sombra da Identidade, é a projeção. Quando a sombra está muito distante da pessoa, cria-se uma dissonância. A Imagem não corresponde à verdade. Por isso, candidatas e candidatos, procurem ajustar as Imagens que desejam transmitir aos eleitores à Identidade.

Escândalos

A pergunta é recorrente: e os escândalos farão alguma diferença? Os dossiês montados para prejudicar candidaturas surtirão algum efeito? A resposta é: não. Os eleitores sabem que todos os escândalos em princípio, meio e fim de campanha têm a finalidade de ajudar um candidato em detrimento de outro. E por saberem disso, os eleitores estão devidamente vacinados. Não se contaminam com o clima de denúncias. O efeito é apenas esse: reforça a opinião dos dois lados. Os eleitores de uns ficarão com raiva do candidato adversário; e os eleitores deste candidato ficarão indignados com o outro candidato. Zero a zero.

A decisão estará com 1/3

Pois bem, o que estamos vendo é o seguinte: 1/3 do eleitorado está apoiando José Serra; 1/3 do eleitorado está apoiando Dilma; e 1/3 do eleitorado está espiando a cena. Este 1/3 que está nas arquibancadas de observação definirá o resultado da eleição. Ele será guiado e influenciado por três fatores: o conforto econômico (40%), os patrocinadores (30%), como Lula, governadores, prefeitos e outras lideranças políticas e perfis (30%), correspondendo à avaliação que os eleitores farão da Identidade e da Imagem dos candidatos. Essa é mais ou menos a equação eleitoral. Conte-se, ainda, com o detalhe abaixo.

Minas, síntese do Brasil

Tenho dito e repetido: a eleição passa por Minas Gerais. Este Estado é a síntese do Brasil. Nos últimos cinco pleitos, Minas foi o Estado que registrou a menor diferença entre o índice nacional e os índices regionais, algo em torno de 5%. Quer dizer que Minas aponta o caminho da vitória dos candidatos. Os vitoriosos em todos os grandes pleitos contemporâneos ganharam também em Minas Gerais. Que tem 14 milhões e 300 mil eleitores. E o eleitorado mais indeciso do país. Na última hora, tira o voto do colete.

A força dos debates

Os debates têm importância central em uma campanha. Por meio deles, o eleitor afere os contendores, estabelece comparações, avalia posições etc. Um candidato mais nervoso, mais preparado, mais tenso, com menor domínio temático, explosivo, contundente, tranqüilo, educado, mais grosseiro: eis aí o painel de características e condições dos perfis captadas pelos eleitores. O preparo para os debates ajuda, mas as situações incontroláveis poderão desestabilizar uma candidatura. Ciro Gomes chamou um eleitor de burro pelo rádio; outra feita, indagado sobre o papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha, disse que ela era importante: dormia com ele. Caiu nas pesquisas. Foi grosseiro.

O papel de Lula

O que vimos, até agora, foi um ensaio de campanha. Que pegará fogo após a Copa. Lula já prometeu usar toda a munição que tem no seu arsenal. E mais: desafia Serra, querendo saber se o ex-governador tem mesmo "sangue de barata", porque fará ele, Lula, muitas provocações para tirar o tucano da seriedade. Lula é macaco velho. Respira política pelos poros. Aprendeu as maldades nos tempos do sindicalismo maquiavélico. Forjou sua experiência com muitas derrotas. Diz que seu maior projeto de vida é: eleger Dilma.

Cancelo chuvas

A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo:

"Governador José Américo: chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante: Saudações, Feitosa”.

Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo:

"Governador José Américo: cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito".

A favorita

Hoje, a ex-ministra é a franca favorita do pleito. E a razão é simples: peguem os dados da equação descrita no início da Coluna e somem os fatores positivos – a favor e contra ela. Façam a mesma coisa em relação a Serra e Marina. A conclusão é a de que a pirâmide social foi toda ocupada por programas do governo Lula. Tenho usado um conceito simbólico para expressar o favoritismo de Dilma Rousseff: o Produto Nacional Bruto da Felicidade (dinheiro no bolso com certo conforto social) aponta na direção dela. Serra, por sua vez, terá dificuldade em montar o discurso, que deverá se pautar por verbos como: melhorar o que existe, ampliar os programas, aumentar a rede social etc. Se disser que vai mudar alguma coisa – que está dando certo – poderá ser rejeitado.

Mudanças

Então, não poderá Serra usar o termo mudança? Ele tem usado o slogan: o Brasil pode mais. E fará mais com ele. Essa foi a saída encontrada por seus marqueteiros. Mas ele poderá usar mudança ao se referir a aspectos da macroeconomia, área que não é palatável para as massas. Serra tem dito que vai baixar os juros e o empresariado gosta dessa abordagem. Mexerá, ainda, na política de câmbio, para evitar um câmbio tão baixo, que prejudica as exportações, tema também do agrado de setores como o agronegócio. Mas a palavra mudança, quando focada para os braços sociais, dá pesadelo.

Campanha negativa


Os candidatos terão de controlar muito a expressão. E a razão é muito conhecida: campanha negativa não ajuda candidatura. Quem se prestar ao esforço de passar uma campanha xingando, acusando, criando atritos, poderá ser visto como perfil negativo. É claro que os contendores devem reagir à altura diante de acusações pesadas. Mas o substantivo é melhor que o adjetivo em campanha eleitoral. Porque eleva as pessoas, conferindo-lhes uma taxa de liturgia e seriedade.

História (1)

Depois de nove anos em campanha, Alexandre, o Grande, parou de conquistar povos. Essa parada ocorreu no dia em que ele se preparava para cruzar o rio Beas, na Índia. O general gritou: "Adiante!". Os homens responderam: "Nem pensar". E assim tudo se acabou. Alexandre já não conquistava a admiração de seu Exército. Por que seus homens se recusaram a continuar? Uns dizem que os soldados estavam com saudades de casa. Outros de que estavam cansados de aguentar chuvas. O biógrafo Peter Green é de opinião que eles finalmente compreenderam que o objetivo de Alexandre era conquistar o mundo. E eles não estavam dispostos a tanto.

Avanço e recuo em SC


Eduardo Moreira, presidente do PMDB de Santa Catarina, procurou o presidente nacional do partido, Michel Temer, para que este marcasse uma reunião com Dilma Rousseff. Michel marcou. Na reunião, garantiu aliança com o PT no Estado. Firmou posição. No sábado, os convencionais de SC votaram na convenção do PMDB, em Brasília. Na segunda-feira, Temer é surpreendido com a virada. Moreira virou vice na chapa de Raimundo Colombo, do DEM, candidato ao governo. Este consultor ouviu um Temer furioso, bem diferente do perfil equilibrado. Dizia ele: André Pucinelli, do Mato Grosso do Sul, sempre me dizia que iria apoiar Serra. Jarbas Vasconcelos sempre se manifestou também na direção do PSDB. Ao contrário de SC. Que traiu o compromisso. A direção pensa em intervenção em SC.

Exposição de Serra

Depois da ascensão de Dilma, na esteira de ampla visibilidade, espera-se a subida de Serra na montanha eleitoral. Mas há um busílis: a Copa. Serra vai aparecer muito – inserções do DEM, PPS e PSDB – no meio dos jogos. Ou seja, haverá certo processo de canibalização. Será esmaecido pela catarse futebolística. De qualquer forma, tenderá a crescer. Se não ocorrer, sinal vermelho. Quando a Copa acabar e se o empate continuar, na escala de 0 a 100, Dilma sobe para uma escada com uma inclinação de 65 graus.

Jogo a zero grau?

Essa Coluna é fechada na terça. Vou arriscar: 2 a 1 para o Brasil. Se der mais, ótimo. Se não, indignação. Nesse momento, os leitores se dividem entre esses dois sentimentos. Pequena vitória é meia frustração. Empate e derrota são motivos de intenso xingamento. Culpa de quem? Da pouca pomada que o médico da seleção, José Luiz Runco, botou nos jogadores para aliviar o frio de zero grau? Se o resultado for ótimo, foi densa a camada de pomada.

Precisamos trabalhar


O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca(Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio:

- Brasileiros, precisamos trabalhar!

Do meio do povo, uma voz poderosa gritou:

- Já começou a perseguição!

Bagunça geral. O comício quase acabou.

Cadê o Skaf, hein?

Cadê o socialista Paulo Skaf, hein? Ele é o único caso na história do marketing político no Brasil que contratou um marqueteiro bem antes de homologar a candidatura. Duda Mendonça será o homem da cosmética publicitária. Se alcançar 5% dos votos em SP, poderá se considerar um político iniciante com razoável performance.

Olho na Rede Globo

Há um olho apurado sobre a cobertura das eleições pelo Grupo Globo. Aliás, o Grupo fez questão de produzir uma Carta de Princípios para orientar a cobertura das eleições. Nenhum de seus colaboradores poderá fazer campanha nos textos que produzem. Ou dar ênfase a um em detrimento de outro. O jornal O Globo com seu Estatuto das Eleições produz, assim, uma vacina ética contra futuras versões sobre cobertura tendenciosa. O Grupo se compromete a cobrir com equilíbrio, independência e pluralidade. Aqui pra nós, Lula acha que a Rede Globo favorece os tucanos.

História (2)

A derrota de Napoleão costuma ser atribuída ao inverno russo. Aliás, esse sempre foi o argumento usado pelo próprio. Mas o exército napoleônico estava arrasado bem antes de o inverno chegar. Napoleão deixou Moscou com cerca de cem mil homens. Em 12 de novembro de 1812, primeiro dia em que a temperatura caiu abaixo de zero, haviam sobrado apenas quarenta e um mil. Não foi apenas o frio do inverno que matou os soldados. Foram as doenças. O clima enfraqueceu os homens de Napoleão, mas a temperatura não estava fria o suficiente para matá-los. O exército de George Washington, décadas antes, sobreviveu a clima muito pior. A descoberta mais estranha dos historiadores é que seu exército provavelmente sofreu tanto com o calor como com o frio. O verão russo de 1812 foi tão quente que dezenas de milhares de seus soldados morreram de insolação e desidratação.

Conselho a Dunga

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao pré-candidato ao governo de Minas Gerais, senador Hélio Costa. Hoje, volta sua atenção ao técnico Dunga:

1. Use todos os seus conhecimentos e experiência para que os jogadores brasileiros alcancem a única meta que interessa: a vitória.

2. Os jogadores brasileiros têm um algo a mais : criatividade, genialidade, capacidade de improvisação. É claro que sua visão dura – voltada exclusivamente para a eficácia – poderá, eventualmente, canibalizar a força criativa do conjunto. Mas deixe o grupo usar também a genialidade.

3. Diz-se que você tem ouvidos moucos para a opinião pública. Dunga, a chamada Pátria de Chuteiras pede que seja também ouvida.

____________

(Por Gaudêncio Torquato)

Nenhum comentário: