quinta-feira, 17 de junho de 2010

JOÃO BYRON DE FIGUEIREDO FROTA


Sempre recebo o mês de junho com a alma ardente e o coração em festa. Nos sertões de Crateús, o frio das noites é aquecido pelas fogueiras. O céu, estrelado e envolvente, fica mais belo. Os jovens, mais românticos. Do fogão de lenha surge a culinária com autênticos sabores terrestres, principalmente do milho verde. É o apogeu da colheita. Um ciclo abençoado por santos populares, como Santo Antonio, o casamenteiro; São João, o festivo e São Pedro, o protetor das viúvas e dos pescadores.

Este ano, notei que no junino mês, mais precisamente no dia de São João, a família do crateuense João Byron de Figueiredo Frota celebra o folguedo do seu natalício. Detentor de portentoso currículo, o sexagenário conterrâneo homônimo do famoso poeta inglês, além de ocupar cadeira na Corte de Justiça Alencarina como desembargador, é também o seu atual Corregedor.

Fui ao seu encontro nesse início de mês. No aristocrático gabinete da Corregedoria Geral de Justiça ofereceu-me um chá biográfico. Ali, como dois sertanejos sentados em um terreiro em noite de fogueira, ficamos aquecendo gratuitamente grãos informativos da história de sua vida.

Cultor de coincidências, assisti um verdadeiro desfile invisível de eventos sincronísticos, sob a sombra benfazeja de seu pai: o também juiz José Olavo de Rodrigues Frota. Na doutrina Shakespeariana, “há mais dos seus pais em você do que você supunha”.

De início, ele me fala da cena mais impactante de sua vida como Magistrado. No ano de 1971, iniciava a carreira judicante na Comarca de Coreaú. (A mesma onde seu genitor havia iniciado a magistratura cinqüenta anos antes). Ocupava, na pequena urbe, um velho casarão. Certa manhã dirigia-se ao fórum. Numa calçada próxima, três longevos cidadãos estavam sentados, proseando. Ao avistarem o jovem juiz, levantaram solenemente, tiraram os chapéus e o cumprimentaram com reverente respeito.

Desconhecia que o mesmo gesto, anos antes, era repetido em Crateús, quando o seu velho pai, bengala à mão, caminhava pelas ruas da cidade...


Nascido em Crateús, na Rua José Coriolano, Byron tem ascendência sobralense. Na seqüência, me fala dos seus ancestrais: o senador Paula Pessoa, seu trisavô, e do bisavô José Antonio Figueiredo, que foi professor da lendária Faculdade de Direito de Recife, a mais respeitada do País no século XIX. Por lá passaram luminares das letras e do direito como Castro Alves, Rui Barbosa, Clóvis Beviláqua... E um crateuense fulgurante: José Coriolano de Sousa Lima. Magistrado, poeta, político, jornalista, deputado provincial pelo Piauí por duas legislaturas e presidente da Assembléia Legislativa.

Sabem onde Byron Frota nasceu? Na Rua José Coriolano – que, ao que tudo indica, fora aluno do seu bisavô.


Muito da coluna de dignidade do pai de Byron teve como alicerce a Ordem Maçônica. O homem era uma verdadeira pedra polida. Cavava masmorras ao vício e levantava templos à virtude. Por isso, embora parente de dom José Tupinambá da Frota, atritou-se com o bispo-conde de Sobral. Aristocrático no estilo, culto por dedicação, empreendedor por vocação, dom José reinava absoluto na Princesa do Norte. Porém, cometeu equívocos. Um deles foi dizer que, em Sobral, nunca permitiria Carnaval e Maçonaria. Perdeu a batalha. Uma das poucas na sua vitoriosa trajetória. Do outro lado estava o parente José Olavo de Rodrigues Frota.

Na esteira do pai, Byron também é iniciado nos Augustos Mistérios do simbolismo. Por onde passou como Juiz (na pacata Coreaú, na libertária Redenção ou sob a brisa da Bica do Ipú), o filho do doutor Olavo sempre reservou tempo para preencher o livro de presença em ações filantrópicas e manter vivo o arquivo com escaninhos do trabalho social, principalmente através do Lions.

Sempre esteve com o rádio do coração sintonizado na freqüência do serviço ao próximo e na busca do conserto do mundo. No inicio da década de 1960, pisou nas brasas da luta estudantil. Eleito Secretário Geral do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua, da Faculdade de Direito da UFC, exerceu ponderável liderança no meio estudantil. No dia 09 de agosto de 1964, em palanque armado defronte a Catedral do Senhor do Bonfim, em Crateús, proferiu inflamada oração saudando o profético pastor Dom Antonio Batista Fragoso, um dos pioneiros da Teologia da Libertação e primeiro bispo da sua terra natal. Em 1965, após rigorosa seleção, foi classificado para o "Seminário Especial para Líderes Estudantis Brasileiros", tendo sido um dos poucos crateuenses a ocupar assento na famosa Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América.

Tempos depois, já maduro e na direção da entidade classista dos Magistrados (ACM), reacendeu a garra militante da juventude para estancar uma campanha difamatória contra o Poder que tem por tarefa precípua a dicção da Justiça. Foi de sua lavra o artigo “Respeito ao Poder Judiciário”, publicado no Jornal O POVO em 25 de outubro de 1987. Oportuno e eficaz, o histórico repto acha-se transcrito nos anais do Tribunal de Justiça.

Ao final da nossa conversa, fala da célula mater que cultiva. Olha para o céu e recorda que está casado há 38 anos com Rita. Suspira: - Parece que foi ontem! Rita Enoy Machado Vale Frota é sua consorte e com ela colocou no mundo Danielle Maria Vale Frota, Isabelle Maria Frota e José Olavo de Rodrigues Frota Neto.

Doutor Byron se despede de mim com um olhar de alegria. Alegria de quem compartilhou um pouco da canjica existencial, produzida com o milho da correção e o leite da decência. Lembrei-me de uma frase do outro Byron, o poeta inglês: “Só temos alegrias se as repartirmos: a felicidade nasceu gêmea!”


(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal GAZETA DO CENTRO OESTE e na REVISTA GENTE DE AÇÃO)

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