sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A SANTA DA SARJETA

A história de madre Teresa de Calcutá não se limita a uma biografia. Porque a biografia tem início na distante Macedônia de 26 de agosto de 1910 e fim na igualmente desconhecida Calcutá de 5 de setembro de 1997. A história de madre Teresa de Calcutá não está tão distante no tempo e no espaço.

O existir de Agnes Gonxha Bojaxhiu, filha de um homem de negócios e de uma mulher bordadeira, vai além. Começa e continua com uma oração, destinada a qualquer um: “Deus nos criou para amar e ser amados, e este é o começo da oração – saber que Ele me ama, que fui criado para coisas maiores”, dizia(-se).

E amar é o verbo que nos põe em movimento. Aos 18 anos, então, postulante em um convento da Irlanda, Agnes escolheu a humanidade como família, proclamou-se Teresa (como Teresa de Lisieux, a santa padroeira das missões), em Calcutá/Índia (1937, quando fez a profissão perpétua como irmã), e peregrina pelas sarjetas do mundo.

“Os pobres que buscamos podem morar perto ou longe de nós. Podem ser material ou espiritualmente pobres. Podem estar famintos de pão ou de amizade. Podem precisar de roupas ou do senso de riqueza que o amor de Deus representa para eles. Podem precisar do abrigo de uma casa feita de tijolos e cimento ou da confiança de possuírem um lugar em nossos corações”. Com esse norte, idealizou a congregação das Missionárias da Caridade - instituída, oficialmente, no dia 7 de outubro de 1950. Até os anos 90, as casas da congregação abraçariam pessoas da Ásia às Américas e da África à Europa, abrindo portas ainda em países comunistas da antiga União Soviética.

Os biógrafos contam também que madre Teresa, no Natal de 1985, em Nova Iorque, abriu a primeira casa para acolher os soropositivos. A aids era apenas morte. “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”, contrapunha. Acreditando sempre que até um sorriso bastaria, a religiosa recebeu, em 1979, o Prêmio Nobel da Paz.

Mas, ao seguir o Cristo por quem buscou na terra, ela também sofreu açoites. O escritor Christopher Hitchens (autor de The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), um dos críticos mais ferrenhos, duvida da santidade da madre: acusa-a de usar o dinheiro de doações para abrir conventos, desviando o propósito das obras de caridade, além de firmar laços com ditadores e corruptos. Grave ainda, para o ateísta, é cultuar o sofrimento dos miseráveis para obter ajuda financeira. Sem contar a secular queda de braços com os dogmas católicos que renegam o aborto e a contracepção.

Às críticas, madre Teresa de Calcutá costumava responder com suas histórias infinitas. “Uma noite, saímos às ruas e recolhemos quatro pessoas. Uma delas estava num estado terrível. Eu disse às irmãs que cuidassem das outras, que me encarregaria de cuidar da que estava no pior estado. Fiz tudo que meu amor poderia fazer. Cuidei dela, a pus na cama e, então, vi um lindo sorriso em seu rosto. Ela apenas pegou em minha mão e disse-me: ‘Muito obrigado’. E morreu”.

(Ana Mary C. Cavalcante, no O POVO)

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