domingo, 16 de janeiro de 2011

Fotografia é história - O POETA SERENO


Mário Quintana. Nasceu em Alegrete, em 1906. Faleceu em Porto Alegre, em 1994.

Como foi feita a foto – Mário Quintana tinha três sobrinhas. Cada uma delas destinava oito horas do dia para acompanhá-lo. Era uma maneira de jamais deixá-lo sozinho nos momentos em que se aproximava o fim de sua vida. Durante dois meses falei com elas por telefone praticamente todos os dias. Torcíamos pela melhora do Mário. Fiquei ansioso à espera do momento adequado para ir retratá-lo em Porto Alegre para o livro “Senhoras e Senhores”. Eu corria contra o tempo. Primeiro, sabia do precário estado de saúde de Quintana. Segundo, estava expirando o prazo de conclusão do meu livro. Numa sexta-feira, enfim, eu estava no hotel onde ele morava. O poeta estava sentado à cama, ouvindo o “Adágio”, de Albinoni. Na parede, um pôster da atriz sueca Ingrid Bergman e uma foto dele com uma admiradora, a atriz brasileira Bruna Lombardi. Antes de despedir-me, fiz as mesmas quatro perguntas que apresentei para os personagens anteriores. Uma delas sobre a sensação de ultrapassar os 80 anos. Respondeu-me: a idade, meu caro, é uma cruel invenção do calendário.

Orlando Brito.


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A POESIA DE QUINTANA


POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

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BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

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Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.


(Mário Quintana)

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