quarta-feira, 17 de agosto de 2011

OBSERVATÓRIO


Na legislatura de 1989 a 1992 Joaquim de Sousa Braz exerceu mandato de vereador por Crateús representando a região de Lagoa das Pedras dos Braz. Eleito na coligação que enfrentou o Prefeito eleito, José Almir, integrava a bancada oposicionista. Um dia Joaquim surpreende os colegas ao dizer que iria se inscrever para usar a tribuna e elogiar o Prefeito. Motivo: o alcaide havia inaugurado um calçamento em Lagoa das Pedras e o povo estava muito satisfeito. Como representante daquela população iria ecoar o sentimento popular... E se inscreveu. Ao se dirigir à tribuna, o edil Chico Prudêncio, seu correligionário, o interrompe: - Joaquim, é verdade que você vai elogiar o Prefeito? Ao receber a confirmação do interlocutor, Chico Prudêncio o adverte: - Deixe disso, Joaquim, vereador de oposição nunca elogia Prefeito. Invente outro assunto. Meio atabalhoado, Joaquim Braz usou a tribuna e, para o deleite bem humorado dos presentes, narrou uma partida de futebol entre o CELP de Lagoa das Pedras e o Palmeiras de Rosário...


A REPETIÇÃO

É lamentável, mas ainda predomina essa idéia equivocada. Há muito tempo venho alertando que um dos nossos males políticos da nossa terra reside no fato de que todos ou quase todos, indistintamente, se acomodam nessa arena inflamável e inflamada da defesa e agressão (me defendo agredindo e vice versa). Defini-a como política do amor e ódio. Chamo política do amor e ódio essa prática crônica e irracional de, nos correligionários, só enxergar virtudes; nos adversários, apenas defeitos. Um dia, coligados, juras de amor; outro dia, rompidos, larvas de ódio. Esse itinerário irascível leva a outra vereda perigosa: a da agressão pessoal, pavimentada pela injúria, calúnia e difamação. Nossa gente é naturalmente pacata, hospitaleira, agradável, aberta e generosa. Essa virtuosa habilidade relacional precisa se expandir para o campo das relações políticas. Por que as diferenças ideológicas ou políticas precisam ser vistas como um obstáculo à pavimentação de relações respeitosas e sadias?

ENCONTRO

Semana passada, em um restaurante de Fortaleza, encontrei-me casualmente com o Prefeito Carlos Felipe e seus dois principais secretários, Mauro Soares e Elder Leitão. De cara, procurei quebrar o gelo e exclamei: - Olhem, a eleição está ganha! E, após um rápido suspense, completei: - Não sei para qual lado... Todos riram. Após os cumprimentos, conversamos rapidamente sobre o centenário da cidade e uma revista que a Prefeitura quer lançar, a definição de candidaturas para o ano que vem e a linha dos blogs locais.

CENTENÁRIO

Disse para eles que lamentava a Prefeitura não ter fechado com a Academia de Letras de Crateús uma proposta comum para tratar de uma produção literária específica do centenário. Adiantei que estava fazendo, a pedido da ALC, um levantamento sobre os Prefeitos da cidade centenária. Disse que Felipe é o nosso 40º (quadragésimo) alcaide, o que permite deduzir que tivemos neste século de urbe, em média, um prefeito a cada dois anos e meio. Olhei para o Mauro e Elder e disse: - Tenham cuidado, homens fortes do governo. Descobri outro detalhe: nunca um secretário poderoso conseguiu virar Prefeito. Citei o exemplo de Toinho Contábil, o nome forte de Leandro Martins. Mauro olhou para o Elder e brincou: - Prefeito, demita logo a gente para ver se chegamos lá...

CANDIDATO

Indaguei Felipe se ele era mesmo o candidato. Ele olhou para os dois secretários como quem não queria ferir susceptibilidades... Ante sua hesitação, aparei: - acho que você é o candidato, mas se for um destes dois anuncie logo. A demora pode lhe ser prejudicial. E citei exemplos de conduções em que a definição antecipada se revelou exitosa. Externei-lhes que, hoje, vejo essa história de candidatura a prefeito sem o véu da empolgação. Ser Prefeito, no contexto atual, é ação de alto risco. Quem se propõe a encará-la, deve deixar de lado o êxtase com o status ou os arroubos da aventura. Ser homem público é missão. Séria, delicada, exigente. Acompanho ex-gestores que sofrem profundamente. Há cidadãos que, embora tenham agido sob o pálio da boa intenção, despendem enormes sacrifícios e realizam uma verdadeira peregrinação jurídica para provar sua correção. Os órgãos de fiscalização agem integradamente e com o beneplácito da internet, essa fantástica ferramenta de disponibilização de informações. Cresce, a cada dia, o rigor fiscalizatório e a pressão da opinião pública. Tudo isso é positivo e nos deixa uma certeza: quem deseja ser candidato sem pagar um alto preço, deve encarar a coisa pública como um sacrifício – que, no latim é sacro oficium, ou seja, tornar sagrado o ofício.


CONCLUSÃO

Qual a conclusão a que se chega? O atual Prefeito foi vitorioso no embalo de uma grande onda de esperança. Houve um verdadeiro movimento de massa em favor da inauguração de um novo ciclo, de uma era diferente, de uma nova vida. Poderia ter feito uma gestão modelar e agregadora. Entrou na Prefeitura sem qualquer amarra. Poderia ter convocado o povo para o exercício da grande política. Higienizado as relações da Prefeitura com os partidos políticos e os segmentos organizados. Governar sem fazer concessões à barganha. Sem demonizar o passado ou estimular rivalidades inúteis. Porém, a despeito de ter mostrado serviço e viabilizado muitas obras, Felipe cedeu às velhas práticas que houvera condenado em campanha. Isto decepcionou muita gente, sobretudo os segmentos mais exigentes e livres que o apoiaram. Einstein ensinou, há muitos anos atrás, que ninguém pode obter um resultado diferente se repete o que sempre foi feito. Eis o senão: reproduziu, na sua prática política, a mesma conduta dos outros.

ALC

Todos os povos que galgaram posição de superioridade no concerto das nações guardam um ponto em comum: o apoio à ciência e tecnologia, o investimento certeiro na educação e na cultura. A fundação da Academia de Letras de Crateús é tento relevante na vida cultural de Crateús. No último dia 30 de julho, em solenidade no Teatro Rosa Morais, a Academia recepcionou oito novos membros: Ana Cristina, Cheyla Mota, José Maria B. de Moraes, José Rodrigues Neto, Juarez Leitão, Karla Gomes, Paulo Nazareno e Silas Falcão. Foi uma festa bonita, de emoção e gala. Porém, poderia ter sido mais prestigiada, sobretudo pelas autoridades maiores da nossa cidade e pelos dirigentes dos setores de educação e cultura.

PARA REFLETIR

"Sou, na verdade, um viajante solitário, e os ideais que iluminaram meu caminho e que proporcionaram uma vez ou outra novo valor para enfrentar a vida foram a beleza, a bondade e a verdade". (Albert Einstein)



(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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