domingo, 8 de julho de 2012

RONALDO CUNHA LIMA


Centenas de pessoas acompanharam o enterro do ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima no Cemitério Monte Santo, em Campina Grande, no final da tarde deste domingo. Apesar da chuva, a multidão acompanhou o cortejo em um carro aberto do Corpo de Bombeiros junto com a banda marcial da Polícia Militar.

Com honras de chefe de Estado, Ronaldo foi velado no Palácio da Redenção, em João Pessoa, durante a tarde de sábado, onde a família recebeu condolências e gestos de solidariedade da população e de autoridades. À noite, em cortejo, o corpo do ex-governador foi levado ao Parque do Povo, em Campina Grande, onde seguiu-se a segunda parte do velório.

Ronaldo Cunha Lima morreu na manhã de sábado, aos 76 anos de idade, em decorrência de um câncer de pulmão. A doença foi diagnosticada em meados de 2011 e se agravou nos últimos dias. Ele foi governador do Estado, prefeito de Campina Grande (PB), deputado e senador. O prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, decretou luto oficial por três dias em sinal de pesar pela morte do político.

(Fonte: Jornal do Brasil)

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Ronaldo Cunha Lima foi um grande poeta.

Eis uma de suas peças:

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HABEAS PINHO

Em 1955 em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade e que também apreciava uma boa seresta. Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão.

Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal.


Eis a famosa petição:


HABEAS PINHO


O instrumento do "crime"que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.

Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.

O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão

Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.

Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.


O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima:

Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar á porta do Juiz.


(Fonte: Jornal de Poesia)

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