sexta-feira, 20 de março de 2009

ANÁLISE DE REINALDO AZEVEDO SOBRE A PESQUISA DATAFOLHA

DATAFOLHA 1 - COMO ENTENDER A QUEDA NA POPULARIDADE DE LULA. E AS ELEIÇÕES

(Por Reinaldo Azevedo)

No post abaixo, estão os números do Datafolha sobre a popularidade de Lula. O mais importante: A taxa de aprovação caiu de 70%, em novembro do ano passado, para 65%.

Antes que continue numa análise que é política, cumpre observar que, com efeito, a dinâmica da economia brasileira faz com que o tombo do crescimento seja grande, mas, para as camadas mais pobres, o pouso tem sido e continuará lento. A crise faz cair a inflação, o que garante o poder de compra do salário mínimo, que voltou ao topo se medido em cesta básica. É evidente que isso tudo conta na avaliação positiva. E há, sabemos, o, chamemo-lo assim, talento de Lula para a política nas circunstâncias e condições em que ela é feita no Brasil (não esqueçam deste ponto porque vou retomá-lo adiante).

Tudo isso explica a pequena variação negativa no seu prestígio, elevadíssimo ainda assim. A questão nem tanto é saber por que caiu um pouco, mas por que continua tão alto. A resposta, nesse caso, é bem mais simples. Em primeiro lugar, a oposição não tem rosto, e os rostos personalizados da oposição, nas questões que contam, são quase todos variações em torno do mesmo Lula. Fica-se diante de um círculo que se vai auto-alimentando: ninguém bate em Lula porque ele é popular, e, em parte ao menos, ele é popular porque ninguém bate em nele. Jamais um presidente foi tão preservado de seus erros como o petista. O governo surge, inclusive em boa parte da imprensa, como aquele que só acerta.

Convenhamos: também esta não tem sido das mais críticas — parece haver um questionamento mais ou menos silencioso que poderia ser assim expresso: “Se a oposição não se opõe, por que a imprensa vai fazer esse trabalho?” Não é uma indagação infundada. Querem um exemplo? Há dois meses, Lula, Mantega e Dilma diziam que o país iria crescer 4%. Hoje, a expectativa oficial é de 2%, e poucos acreditam nela. Nem oposição nem imprensa cobram do governo o erro de análise. Unida, a nação se dá por satisfeita se não houver recessão. Essa passou a ser a nova medida do acerto. Numa variante do patriotismo, estamos todos contra a crise, é claro. E há um certo sentimento de que a convicção firme pode afastar o perigo. É mais fácil, em certos círculos, acreditar em pensamento positivo do que em Deus...

ISSO É RUIM?

Esse "patriotismo" nem é, em si, ruim. Mas convenham: é uma situação nova, não? Só Lula pôde experimentá-la. Como era com os outros presidentes — com FHC em particular? Quando foi que o PT, então na oposição, deixou de atribuir ao tucano a inteira responsabilidade pelas crises? Nunca! Elas estouravam lá fora, e logo se dizia que o Brasil padecia porque, por aqui, só havia ou incompetentes ou salafrários. Em cinco meses, vimos evaporar mais de 700 mil empregos. Mas não havia ninguém para encostar Lula na parede.

O PT CONSTRUIU UM LUGAR ÚNICO NA POLÍTICA BRASILEIRA, QUE LHE FOI FACULTADO PELAS LICENÇAS ESPECIAIS QUE LHE CONCEDEM OS ADVERSÁRIOS. Caso se eleja um tucano em 2010, e o país passe a enfrentar dificuldades vindas de fora, alguém aí dúvida de que os petistas botarão a boca no trombone, acusando o presidente de incompetência e/ou desvios éticos? Alguém aí duvida de que, fosse um tucano ou um democrata o presidente, as mais de 700 mil vagas fechadas teriam se transformado em passeatas da CUT, com acusações as mais severas ao mandatário?

Ninguém duvida. E não! Eu não acho esse um bom modo de fazer política. Essa é uma das minhas muitas contraposições ao partido — que, atenção!, nesse particular, continua rigorosamente o mesmo. “Sorte deles”, alguém diria. “Se são competentes no trato da coisa política, fazer o quê?” Não é bem assim. O uso, por exemplo, da máquina sindical para endossar governos aliados e atingir governos adversários é puro lixo ético.

SILÊNCIO E 2010

Volto ao ponto. Que, dado o contexto, Serra e Aécio evitem enfrentar o governo — ou enfrentar Lula —, compreende-se. Que os oposicionistas no Congresso, o PSDB em particular, façam o mesmo, aí já me parece um caso de inapetência. O governo é senhor absoluto da agenda — e a crise, no que respeita à política propriamente, tem sido até positiva para o Planalto: o clima é de “não podemos nos dividir”.

Então 2010 já está no papo, e Lula faz seu sucessor, já que nem a nova desordem mundial parece abalar o seu prestígio? Bem, aí a coisa já é um tanto diferente. O tal “talento” de Lula, de que falo no segundo parágrafo, é um ativo político gigantesco, mas também traz contratempos. Ele é um fenômeno irrepetível. Transferirá, sim, parte do seu prestígio para o candidato (ou candidata) do governo, mas não tem um sucessor político natural. E não há como construí-lo artificialmente. Os petistas gostariam que a luta de 2010 se desse entre “o (a) escolhido (a) por Lula” e o anti-Lula, mas não creio que seja possível consolidar esse confronto, especialmente se o candidato das oposições for José Serra. Sua biografia política, vejam só, está mais ajustada à metafísica do social, tornada tão influente, do que a da própria Dilma Rousseff.

Mas que se note: o fato de o prestígio de Lula não implicar eleição fácil da candidatura que ele ungir não dispensa a oposição de fazer oposição. Se continuar de bico calado, os eleitores ficam sem distinguir cítara de flauta, como diria o Apóstolo Paulo.

DATAFOLHA 2 - SERRA LIDERA COM FOLGA DISPUTA PRESIDENCIAL

Na Folha. Comento em seguida:

O governador paulista, José Serra (PSDB), mantém ampla liderança em todos os cenários em que aparece na mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial de 2010, com taxas que variam de 41% a 47%, conforme o questionário. Mas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), voltou a crescer, de 3 a 4 pontos percentuais, dependendo da situação.
No primeiro cenário do Datafolha são apontados como candidatos, além de Serra (41% das intenções de voto) e Dilma (11%), o deputado federal Ciro Gomes (PSB), que oscilou um ponto e teria hoje 16%, e a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL), que perdeu três pontos e aparece com 11%.
(...)
No cenário em que a campanha ficaria polarizada entre Serra e Dilma, com apenas Heloísa Helena como terceira candidata, o tucano permaneceu com 47%. Dilma subiu três pontos, chegando a 13%, enquanto Heloísa Helena oscilou de 17% para 15%. Elas estão empatadas tecnicamente.

Entre aqueles que podem concorrer em 2010, Serra é o mais lembrado de forma espontânea pelos eleitores, com 6%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é citado por 25%. Dilma e o governador mineiro, Aécio Neves (PSDB), são citados por 3%. Para 1% dos entrevistados, o voto irá "para quem o Lula apoiar/indicar".

AÉCIO EMPACADO

Em dois cenários, o candidato tucano é o governador Aécio Neves (MG). Ele defende prévias para a escolha do candidato do PSDB e sugeriu viagens pelo país para discutir o assunto. No primeiro cenário com Aécio quem lidera é Ciro Gomes, que manteve os 25% apurados no último levantamento.
Heloísa Helena oscilou de 19% para 17% agora, empatando com o governador mineiro, que já tinha atingido esse percentual em novembro. Dilma se aproximou dos dois e atingiu 12% _contra 9% em novembro e 4% em março de 2008.

TODOS JUNTOS

A última hipótese apresenta todos os candidatos, inclusive Serra e Aécio, o que não seria possível a menos que um deles mudasse de partido. O governador paulista lidera com 35%. Os outros estão tecnicamente empatados: Ciro (14%), Aécio e Heloísa (12%) e Dilma (11%).

COMENTO

Dilma, em um ano, cresceu: de 3% para 11% no cenário em que Serra, Ciro Gomes e Heloísa Helena estão no páreo. Sem Ciro, chega a 13%. É um avanço. Mas que se note: ela está na televisão dia sim, dia também. E sempre ao lado de Lula. A retórica mais agressivamente eleitoral ainda não foi testada, é certo. Mas a exposição é máxima. Cresceu? Cresceu. Mas não é exatamente uma candidata fácil. Pode-se especular: e se Serra estivesse no vídeo todo dia, em rede nacional, sempre associado a fatos positivos?

No ninho tucano, Aécio empacou. Ele também não pode reclamar de falta de visibilidade — ou de mídia, como se diz por aí. Poucos têm a sua destreza para ganhar notícia. Começará, agora, as andanças em favor das prévias. Vamos ver os efeitos. Se os números insistirem nessa magreza, ficará difícil a sua exigência de prévias não se parecer com uma birra. Afinal, uma coisa é exigir prévia porque se tem voto; outra é exigir prévias para tentar conseguir votos.

DATAFOLHA 3 - APROVAÇÃO A LULA CAI PELA 1ª VEZ NO 2º MANDATO

Na Folha:

Com a crise econômica, a avaliação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu a primeira queda desde o início do segundo mandato. A taxa de aprovação caiu de 70%, em novembro do ano passado, para 65%, em pesquisa concluída ontem pelo Datafolha.
(...)
De 0 a 10, a nota média atribuída ao governo Lula também caiu de 7,6, em novembro, para 7,4, índice que ainda supera os 7,0 da pesquisa de setembro.
O presidente permanece com grande aprovação entre os eleitores que tem a escolaridade fundamental - 68% de ótimo/bom (quatro pontos a menos que na pesquisa anterior. No estrato com escolaridade superior, a taxa permaneceu rigorosamente estável em 64%.
Entre os brasileiros de menor renda, a avaliação positiva caiu de 71% para 66%. Também houve queda na faixa superior de renda _de 63% para 58%.
Em termos regionais, o Nordeste continua sendo a principal área de apoio a Lula, com 77% de aprovação _quatro pontos a menos que no levantamento anterior. A região concentra, como afirmou recentemente a ministra Dilma Rousseff, 52% dos beneficiários do Bolsa Família e 40% dos atendidos pelo Luz para Todos.
A seguir aparecem as regiões Norte/Centro-Oeste, com 64% de aprovação (nove pontos a menos); o Sudeste, com 60% (seis pontos a menos); e o Sul, com 57% (dois pontos a menos que na pesquisa de novembro).
(...)

CRISE

O Datafolha revela que, desde novembro, o percentual de brasileiros que tomaram conhecimento da crise aumentou de 72% para 81%. Destes últimos, porém, somente 19% dizem estar bem informados a respeito. A taxa dos que não tomaram conhecimento da crise recuou de 27% para 19%.

Também cresceu bastante a percepção de que o Brasil de um modo geral será muito prejudicado pela crise financeira mundial, que subiu de 20% para 31%. Ainda predomina, porém, a opinião de que o país será um pouco prejudicado pela crise, embora essa taxa tenha se reduzido de 58% para 55%.

Apesar disso, a queda na aprovação de Lula não é proporcional à gravidade da crise. Esse descolamento parcial entre a piora no cenário econômica e a avaliação do governo federal já tinha ficado evidente na pesquisa de novembro _quando a redução da atividade econômica já provocava um recuo de 7,2% na produção industrial somente naquele mês.

Isso acontece porque a avaliação do desempenho do presidente Lula diante da crise continua positiva, ainda que em um grau menor que antes. Em novembro, 49% aprovavam a atuação de Lula no combate aos efeitos da crise. Agora, essa taxa diminuiu para 43%. Já a taxa de reprovação ao seu desempenho subiu de 9% para 13%, assim como a avaliação regular, que passou de 30% para 36%.

DATAFOLHA 4 - MAROLINHA:METADE DO PAÍS AGORA DISCORDA DA FRASE DE LULA

Na Folha:

Diminuiu sensivelmente desde novembro a concordância com a frase do presidente de que a crise, se chegasse aqui, seria apenas "uma marolinha". A porcentagem dos que concordam caiu de 42% para 35%, enquanto os que discordam aumentaram de 39% para 50%. Mas segue alto o grau de concordância com outra frase _a de que "o Brasil, se tiver que passar por um aperto, será muito pequeno": ele caiu de 53% para 50%.

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