
Ao deixar o governo do Ceará, eu era, literalmente, um analfabeto digital. Incapaz de realizar um procedimento por mais elementar que fosse.
Ao retornar de viagem que empreendi a Portugal, logo após transmitir o cargo, por insistência da minha mulher, comecei a lidar com o computador.
A seguir veio a criação do blog, contando com o apoio e o estímulo de familiares e amigos.
Os primeiros passos visaram a adaptação à linguagem da internet, síntese, clareza, marca pessoal, alguma irreverência e, às vezes, contundência.
A forma como se deu o processo eleitoral, de todos conhecida, e o desenrolar do governo, no qual pontificaram duas oposições, uma ostensiva e outra enrustida, um cavalo de tróia infiltrado na administração, ambas movidas pela ambição política que desconhecia limites éticos, explicam parte do êxito do meu adversário.
A vinculação partidária do candidato ao Presidente Lula, detentor de enorme popularidade, completa o cenário da vitória do meu oponente.
O adesismo desenfreado e a pusilanimidade de muitos, com honrosas exceções, obrigou-me a empenhar-me pessoalmente na defesa do meu governo. Manobras cavilosas e perseguições mesquinhas estiveram presentes desde os primeiros dias da nova administração.
A intenção era desconstituir um governo honrado e profícuo, reconhecido pela população, conforme pesquisas idôneas, à época divulgadas, num desejo manifesto de reescrever a história, como se isso fosse possível. Ilhado pelo mar governista, encontrei na internet um canal livre para me expressar.
Quando critico o governo, diferentemente do que ocorreu comigo, faço-o de modo impessoal, com elegância e respeito, mesmo quando mais incisivo, a partir de fatos incontestáveis ou de promessas eleitorais desmentidas ou irrealizadas. Procuro ser sensato, no poder ou fora dele.
Na busca de uma unanimidade, que compromete a ética, as finanças e a democracia, não faltaram áulicos do governo, recentes e antigos, que se manifestaram para desqualificar minha postura oposicionista. No intuito de me diminuir debocharam dos blogueiros e internautas.
Como se estivesse impedido de reclamar, devido o insucesso eleitoral. Perdi as eleições, não a cidadania ou a liberdade de pensar. Tenho sentimentos, mas estou muito longe de ser um ressentido. A vida foi generosa comigo. Sou grato as oportunidades que tive. Julgo, ao contrario, que minha legitimidade para acompanhar e criticar o governo decorre do resultado do pleito.
Quando a oposição é um deserto, como aqui, há um deficit de participação. Sofrem com isto a democracia e o erário. Se falta quem grite que o rei está nu, ele parece vestido, apesar das evidências em contrário. Esse grito para desmentir aparências engendradas nunca vou deixar de dar.
Estou onde o resultado eleitoral me colocou: servindo ao povo, em outra trincheira, com a inegada vocação para a vida pública que minha trajetória confirma.
(Lúcio Alcântara)
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