quarta-feira, 1 de abril de 2009

COLUNA PAINEL - DA FOLHA DE SÃO PAULO

"Quero saber quem mudou"

As escutas da Operação Castelo de Areia deixam claro que o foco inicial da PF era evasão e lavagem de dinheiro. O financiamento de políticos entrou na roda quando os grampos captaram desentendimento das cúpulas da Camargo Corrêa e da Fiesp com seus operadores em Brasília a propósito da partilha do bolo.

Discussões telefônicas mostram que os lobistas Luiz Henrique Bezerra (Fiesp) e Guilherme Cunha Costa (Camargo) repartiram as doações em desacordo com as instruções da chefia. Pressionado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, Fernando Botelho, vice-presidente da Camargo, desabafa: "Eu dei uma orientação. Mudaram. Ligue para o Luiz Henrique e para o Guilherme. Quero saber quem mudou".
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Gradações. O inquérito completo também revela que os aspectos políticos do caso só ganham algum destaque nos últimos relatórios da PF. Ainda assim, com tintas mais diluídas do que as usadas pelo juiz Fausto De Sanctis.

Por dentro. O senador petista Flávio Arns, que no dia do estouro da Operação Castelo de Areia participou do desagravo ao colega José Agripino, citado nos grampos, reuniu-se em 10 de junho do ano passado com Luiz Henrique Bezerra, que aparece na investigação da PF tratando de doações da Camargo Corrêa justamente ao líder do DEM.

É a CPMF. A explicação do PT para a ausência de candidatos do partido na doações negociadas por Skaf é que o presidente da Fiesp só teria se mexido para ajudar congressistas que atuaram na derrubada do imposto do cheque.

Elos 1. A finada CPI dos Correios encontrou notas frias da DNA Propaganda, de Marcos Valério, relacionadas à usina de Tucuruí, obra da Camargo Corrêa agora na mira da PF. À época, o TCU concluiu que a Eletronorte pagara R$ 144 mil à agência por serviços jamais prestados.

Elos 2. A DNA foi contratada para "realizar reuniões, audiências e encontros públicos, tendo à frente diretores e técnicos" da Eletronorte. A estatal é da cota do PMDB, que, segundo a PF, recebeu R$ 300 mil da Camargo Corrêa no Pará nas eleições de 2008.

Integral. Pesquisa na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) mostra que Elga Mara Teixeira Lopes, diretora do Senado que atuou em campanhas do clã Sarney, nunca deixou de receber vencimentos da Casa, prova de que não se licenciou do cargo.

Ascendente. O governo recebeu dados preliminares que estimam a produção recorde de 250 mil veículos em março (em fevereiro, foram 198 mil).

Hospedagem. Lula não ficará nas embaixadas em Paris e Londres. Durante a reunião do G20, seu endereço será o Dorchester, sofisticado hotel da capital inglesa. Barack Obama se hospedará na casa do embaixador dos EUA.

Made in... Depois da "Foreign Affairs" e do "Wall Street Journal", é a vez da "Foreign Policy" receber informe publicitário exaltando o Brasil. Mais especificamente, São Paulo, em 16 das 102 páginas da mais recente edição da revista. Há anúncios do Grupo Orsa, UTC Engenharia, Banco do Brasil, Unicamp, EDP Energias e Sabesp.

...SP. Com o título "Doce cheiro do sucesso", o encarte enaltece a a cidade, que "rapidamente renasce como um importante centro financeiro e de serviços", e o Estado, destacando o etanol. Nos textos são citados, além de Lula, o prefeito Gilberto Kassab, o vice-governador, Alberto Goldman, e Henrique Meirelles (BC). José Serra não aparece nem em texto nem em foto.

Polaroid. A Presidência abriu concorrência para contratar uma empresa que revele 400 fotos instantâneas de Lula com suas visitas oficiais, ao custo de R$ 14 mil/ano.

Tiroteio

"Há tempos a Polícia Federal não escolhia um nome tão bom para uma operação: o castelo de areia agora vai cair no colo do governo petista."
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Do senador SÉRGIO GUERRA (PE), presidente do PSDB, sobre o fato de a Polícia Federal ter retirado do relatório final da operação o registro de doações da Camargo Corrêa ao PT.

Contraponto

Tietagem explícita

Em seu recém-lançado livro de memórias, o ex-ministro da Justiça José Gregori conta que participava de conferência em Londres, simultânea à visita do então presidente FHC à cidade. Durante intervalo do evento, Gregori saiu à rua e viu uma carruagem que levava Ruth Cardoso e o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth.

-Ruth, Ruth!-, gritou, recebendo de volta um aceno.

Horas mais tarde, Gregori avistou um carro aberto com FHC, Ruth e os anfitriões e repetiu a dose:

-Fernando! Ruth!

Naquela noite, em jantar com toda a comitiva brasileira, o príncipe Philip abordou Gregori com bom humor:

-O senhor está muito atarefado na conferência, não?

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