terça-feira, 28 de setembro de 2010

ESCOLA - ESPAÇO DE PRAZER


Rubem Alves ensina que “há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”.

E faz, com a maestria de prestidigitador de palavras, a sutil distinção:

“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.

É induvidoso que vivemos uma crise no nosso sistema de ensino. Décadas atrás o profeta da educação libertadora, Paulo Freire, já diagnosticava que “um dos grandes pecados da escola é desconsiderar tudo com que a criança chega a ela. A escola decreta que antes dela não há nada.” Conceituou isso como “educação bancária”. Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco.

Janusz Korczak, diretor de um abrigo para crianças e adolescentes em Varsóvia, na Polônia, costumava dizer: “Vocês, professores, me dizem que é muito difícil ensinar às crianças. Estou de acordo. E vocês dizem também que é muito difícil descer às crianças. Estou em desacordo. O que é muito difícil é subir ao nível de sensibilidade e de curiosidade das crianças, ficar na ponta dos pés, falar brandamente para não machucá-las”. Esse é o grande desafio das escolas: preparar os seus profissionais para subirem ao nível das crianças.

Porém, a par desse enorme quadro de dificuldades e desafios, há experiências e exemplos de unidades educacionais, tanto no sistema público quanto na esfera privada, que nos reanimam na crença de que é possível fazer da escola um ambiente prazeroso. Vulcão motivador. Lócus de alegria, parque de emoção, força livre das amarras da “grade curricular”.

Na semana antepassada recebi, dos confrades Lourival Veras e Flávio Machado, uma comunicação que dizia: “O Colégio Vitória convida os membros da Academia de Letras de Crateús para uma amostra cultural e exposição científica”. O convite estampava: DIA DA CIÊNCIA E DA CULTURA – Uma noite mágica na qual nossos pesquisadores irão abordar de forma clara e científica duas grandes temáticas: Consciência Ambiental, Memória de Crateús. Você é nosso convidado. Dia 24 de Outubro, às 18:00, no Colégio Vitória.

Por razões profissionais estive impossibilitado de comparecer. Soube que o evento foi exitoso. Dentre as atividades desenvolvidas, houve destaque para os escritores locais, que foram homenageados pelos alunos através da socialização de informações a respeito da vida e obra daqueles conterrâneos que se dedicam à arte de revisitar a fonte do código escrito.

Tive informação que a Escola Sônia Burgos também está elaborando um Projeto similar, envolvendo a Academia de Letras de Crateús (ALC), a Sociedade Amigos da Biblioteca Norberto Ferreira Filho (SABi) e o Sindicato de Professores.

Ações desse naipe configuram valiosa contribuição à alma sedenta, fermento biológico para a massa encefálica cultural, pão farto na mesa humana carente de alimentos ao espírito.

É essencial que os educadores tenham sempre em mente a relevância de estimular a criatividade. A leitura, ao invés de uma carga ou obrigação, há que ser um deleite, abraço dialógico entre escritor e leitor. E que dessa sinergia interativa surja algo novo: a construção do ideário próprio de quem nela mergulhou.

Mais do que nunca é imperioso reposicionarmos a prateleira dos valores, mantermos a irmandade com as coisas permanentes, voltarmos os olhos ao imorredouro.

Aos pais, principalmente, nunca é demais recordar: dêem aos filhos asas no lugar de gaiolas, educação no lugar de metal.

Como assentou Joel Alves Bezerra: “Dai ao teu filho fortuna ao invés de educação e, quando partires, tudo o que conseguistes será dissipado. Dai ao teu filho educação ao invés de fortuna e, quando partires, tudo o que conseguistes será multiplicado”.

(Publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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