sexta-feira, 1 de outubro de 2010

UM PALHAÇO NO PARLAMENTO

É quase certo que no dia três de outubro os eleitores do estado de São Paulo elegerão um palhaço, literalmente, para ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília. Lá deverá defender os interesses do povo, muito embora o próprio candidato, como ele mesmo afirmou em sua propaganda eleitoral, reconheça desconhecer as atribuições de um parlamentar.

Cogitado como o candidato mais votado de São Paulo, o palhaço Tiririca, cearense, natural da cidade de Itapipoca, vem incomodando os veteranos da política, que, sob o argumento de que sua campanha "afronta à democracia e ridiculariza o parlamento", tentam barrar na Justiça seu direito de concorrer a um mandato eletivo. A Justiça, entretanto, sob o mesmo pálio da democracia, mantém o palhaço firme em sua disputa.

Ora, Tiririca não é uma afronta à democracia, tampouco ridiculariza mais o parlamento do que alguns que nele estão ou que nele pretendem estar. Tiririca é sim uma manifestação escancarada do cenário político brasileiro, caracterizado e assumido: é um palhaço. O que incomoda no candidato é a ousadia de mostrar-se caracterizado, de vestir-se como palhaço, de falar como palhaço, de fazer campanha agindo como palhaço. Tais circunstâncias não o tornam mais desrespeitoso com a população brasileira do que outros candidatos, mas certamente causam mais vergonha alheia.

Tiririca, que em suas propagandas eleitorais limitou-se a fazer piadas e trocadilhos com a eleição sem apresentar uma única proposta sequer, tem tudo para ser o candidato mais votado no estado mais populoso do Brasil. Significa claramente que uma parcela grande deste País desacredita que os representantes do povo possam de fato fazer alguma coisa para dirimir ou diminuir as mazelas sociais, e votam naquele que é mais famoso, mais bonito ou mais engraçado. Significa ainda que a educação não cumpre seu papel de educar e conscientizar, ela simplesmente prepara os indivíduos para permanecerem inertes ao sistema, que obedece a uma lógica absurda e desumana.

Ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados, Tiririca representará uma ferida aberta na honra de todos aqueles que terão que deparar-se constantemente com sua imagem refletida na face caracterizada do palhaço.


Isis Celiane.

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