domingo, 7 de dezembro de 2008

AO MAR







Quero te abraçar,
Mar amigo, quero
Meu abraço invisível te dar,
Com todo meu ser de inimigo.
Pois a amizade que tenho por ti
Não é do amigo
Que conhece o seu parceiro.
Te tenho amizade, porque antes
De nascer já vivias em mim,
Porque depois que vim ao mundo
Saíste de mim,
Porque enquanto estou aqui
Não estais comigo,
Porque estais, todas as horas,
Dentro e fora de mim...
Sem nunca haver me abandonado
Ou ter ficado comigo.

Mar - quero te beijar, te derrubar,
Te erguer, te enrolar,
Te bater, te acarinhar...

Te tenho amizade, não
Por aquilo que és ou que outros
Queria quem não fostes,
Mas simplesmente por aquilo
Que não sendo, serás sempre:

Grandeza bonachã,
Borbulhância prateada,
Efervescência mística,
Arrogância líquida,
Potencial impetuoso,
Coração infinito!

(O mar, este incansável viajante
Que nunca sai do lugar,
As vezes se deita pelos séculos
Como um touro adormecido
E quando se ergue estremecido
Ninguém descobre o resultado
De suas meditações solitárias.)

Mar, quero teu transbordante
Êxtase, tua tempestuosa oração,
Teu inesgotável orgasmo, teu
Brilhante espírito, teu fervoroso
Planejamento, tua assombrosa
Arquitetura, teu murmúrio melodioso!

Entre o teu corpo gigante
E a minha plantação de desejos,
Entre o teu som permanente
E a minha gargalha infantil,
Entre o teu vôo de guerreiro
E a minha paixão de menino
Se batem teclas diferentes,
Se move um monstro antigo,
Se abre uma cortina esquecida
Ou se expande uma luz socialista:
Nascemos com o mesmo destino:
Ser convergência de doçura!

(Júnior Bonfim, in Poesias Adolescentes e
Maduras)

Nenhum comentário: