quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

BRASÍLIA I



Estou em Brasília. Transcrevo a última crônica que escrevi sobre esta terra extraordinária.

Eí-la:

A Capital da República sempre me causou fascínio e encantamento. Toda vez que visito aquela Urbe fico deslumbrado com o ímpeto operativo do engenho humano. Saber que, há poucas décadas atrás, aquilo era só um imenso e semi-inóspito cerrado e hoje é uma das metrópoles com melhor qualidade de vida do planeta, é algo extraordinário. Quando lá residia, escrevi um poema que começa assim: Brasília me faz meditar/ sobre o esplendor da construção/ Ah! Como é belo construir/ erguer edifícios, belezas/ casas, prédios, pontes de amor. / (Um prédio bem construído/ é como uma mulher de linhas perfeitas).

Confesso que meus pêlos ficam arrepiados quando releio a célebre profecia de Juscelino Kubitschek: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

À época, a mudança da sede do Distrito Federal do Rio de Janeiro para o centro do País representou um divisor de águas, uma indelével decisão histórica, um rasgo no horizonte do País.

Ali se vislumbra mais que um empreendimento físico ou uma obra de concreto armado. Como bem assinalou o próprio JK, “Brasília é a manifestação inequívoca de fé na capacidade realizadora dos brasileiros, triunfo de espírito pioneiro, prova de confiança na grandeza deste país, ruptura completa com a rotina”.

É exatamente disso que a nossa cidade está carecendo. Mergulhada no marasmo, entregue à letargia, Crateús amarga um momento de enorme desencanto.

Outro dia um sindicalista desabafava comigo: Está difícil entendermos essa situação. Temos uma administração que supera o pior período da gestão passada. Não se mensura uma área que prime pela excelência nas ações. Mas todo mundo está calado. Ninguém vê uma voz se erguer para noticiar a indignação popular. É lamentável.

Venho reiterando por estas linhas e não me cansarei de insistir: Crateús precisa superar a visão tacanha, o espírito medíocre, o pensamento menor.

É inadmissível que este lugar, que já hospedou em seu coração ícones da inteligência progressista nacional, que já erigiu templos de resistência ao arbítrio, que já foi farol de iluminação de veredas libertárias, agora se renda à inércia, à inapetência, ao descaso, ao retrocesso.

Como nos idos da construção de Brasília, quando uma saudável sinergia de otimismo e autoconfiança contaminava a todos, precisamos fazer com que cada crateuense recobre o sentimento de indignação com as mazelas e dê vazão aos alvissareiros sentimentos do empreendedorismo, da justiça social e bem-estar coletivo.

(Júnior Bonfim, in Amores e Clamores da Cidade)

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