terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CULINÁRIA É CULTURA

Um poeta amigo, com quem compartilho sílabas de entretenimento, me confidenciou certa ocasião que “os nossos maiores prazeres estão ligados às tripas”.

É verdade! Dentre as delícias da vida, encontramos a gastronomia. Eu, por exemplo, sou apaixonado por culinária. Não raro queimo aborrecimentos à beira de um fogão. De preferência, fogão à lenha. O fogo produzido pela lenha é diferente: ele fala, emite uma sonoridade crepitante; é poderoso, se faz respeitar pela imponência ardente; é marcante, pois na sua meticulosidade torna a comida mais deliciosa.

Desde algumas edições atrás, o Jornal Gazeta do Centro-Oeste lançou uma coluna intitulada “Sabores Caseiros”, que reúne receitas simples, produzidas no espaço inventivo do lar e que, por isso, revestem-se de um sabor especial.

Cresci auscultando falarem que a culinária é uma arte. Concordo! É fascinante descobrir as infinitas possibilidades que o casamento de ervas, a mistura de temperos, a junção de ingredientes pode proporcionar. O olor que sobe de uma panela preparada com carinho é extremamente sedutor.

Mas, além disso, e, sobretudo, a culinária é cultura. Ao redor de uma mesa fraterna, as pessoas se transformam: no mesmo espaço familiar celebra-se a vida, extravasam-se as megalomanias, discute-se o futuro, passeia-se pelas diversas culturas e analisa-se o mundo.

O caráter místico da mesa atingiu seu ápice no próprio Evangelho, quando o Jovem de Nazaré reuniu os discípulos sentou à mesa, tomou o pão e o vinho, e solenemente proclamou: “Isto é o meu corpo e o meu sangue!”. Depois, pediu que comessem e bebessem.

A culinária é cultura. Cada alimento produzido carrega, em sua gênese e composição, uma saga exclusiva, um roteiro heróico ou itinerário de sofrimento, mas invariavelmente podemos dali extrair uma história fantástica.

A pizza, por exemplo, que julgamos italiana, na verdade é de origem árabe. O macarrão, que também pensamos ser obra dos italianos, foi criado pelos chineses. E por aí vai... Pelas talentosas mutações que realizaram, descobrimos que os europeus da Itália ganharam direitos autorais não apenas em relação às massas, mas também em relação a outras coisas de paternidade alienígena. A milenar arte da política, cujo berço é reclamado por gregos, teve no florentino Maquiavel o principal expoente. Apesar de o cristianismo ter como matriz a Palestina, há muito que a sede encontra-se em Roma. E por aí vai.

Pelos poros da culinária, podemos fazer brotar estrofes de arte, suores de luta, incensos míticos, calorias de cultura, orvalhos de História!
Pois é! Para levar uma vida agradável neste mundo, ninguém precisa fazer das tripas coração. Basta descobrir que as tripas também têm coração! E alma! E amor!

(Júnior Bonfim, in Amores e Clamores da Cidade)

Um comentário:

Usuale disse...

Achei um site bem legal para buscar culinária, aí vai o endereço: http://www.ziipi.com/result?pesquisa=culin%E1ria