quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

Reforma partidária

Robaina, vereador do MDB de Bagé/RS, ficou no PMDB depois da extinção da Arena e do MDB. Vivo, pôs a mulher no PDS. O Senador Pedro Simon estranhou:

- Robaina, como é que você fina no PMDB e sua mulher no PDS?

- Pois é, presidente. Ainda tenho três filhos para a reforma partidária.

Avó por merecimento

José Maria Alkmin encontra-se com dona Lia Salgado, famosa soprano mineira:

- Mas como a senhora está jovem, dona Lia.

- Qual o quê, dr. Alkmin. Já sou até avó.

- A senhora pode ser avó por merecimento. Jamais por antiguidade.

Anestesia social

Denúncias em séries, escândalos em profusão, nepotismo, utilização da máquina, malversação do dinheiro público, nada disso afeta as intenções centrais das massas eleitorais. Perguntam-me a razão. Vou explicando banalização de fatos negativos forma camada de insensibilização social. Não há mais relação causa/efeito. Os eleitores são entidades anestesiadas. Mais um escândalo, é esta a convicção popular. Todos os políticos são iguais, aduz o povo. Se é assim, a massa dará o voto aos candidatos que a ajudam.

O papa como cabo eleitoral

E caso o papa Bento XVI, em périplo pelo Brasil, viesse a público proclamar : votem em Serra e não em Dilma. O que poderia acontecer? Poderia haver certo processo cognitivo com foco na dúvida, ou seja, uma generalizada dissonância coletiva. A dissonância gera confusão mental. A vinda do papa embutiria grande interrogação na cachola das massas. Mas qualquer dissonância tende a ser equacionada mais cedo ou mais tarde. As pessoas não gostam de conviver com dúvidas, interrogações, medos e ameaças. O papa não demoraria muito no país. Iria embora. E logo, logo, viria a versão de que o papa se referia a outra coisa. Tudo invencionice. A versão que seria contada apagaria a verdade papal.

Estar com Deus não ofende

Noé, conta Sebastião Nery, era uma figura folclórica do Rio Grande do Norte. Tinha o hábito de cortejar todos os governos. No levante comunista de 1935, quando o deputado pela Bahia e secretário-geral do PC, Giocondo Dias, tomou o poder ocupando o Palácio Potengi, enquanto Dinarte Mariz marchava de Caicó para Natal subindo a Serra do Doutor, a multidão enfurecida invadiu o jornal A República, que pertencia ao governo. Na sala da direção, encontram Noé. Agarram-no pela gravata:

- Com quem você está?

- Estou com Deus. Isso ofende?

Não ofendia. Salvou-se.

O voto de sobrevivência

Tenho mais que repetido: o pleito deste ano escolheu o estômago como abrigo. Trata-se do voto de reconhecimento à situação geral de conforto. Cerca de 30 milhões migraram das margens extremas da necessidade - classe E - para a classe D. E contingentes da classe D, onde estão os pobres, migraram para a classe C, a baixa classe média. Esta última inserção contabiliza cerca de 25 milhões de pessoas. Logo, cerca de 55 milhões de brasileiros foram diretamente afetados pelos programas distributivistas do governo Lula. São esses os eleitores que votam por conta do apelo do bolso.

Pai e filho, filho e mãe

Na próxima legislatura, teremos dois Garibaldi Alves no Senado: pai e filho. O filho, que já foi presidente do Senado, deverá ser o mais votado no RN. O pai, também Garibaldi Alves, é suplente da senadora Rosalba Ciarlini, do DEM, que deverá ganhar o governo do Estado. Na Paraíba, Vital do Rego Filho, o Vitalzinho, deverá ser um dos senadores eleitos. E carrega a mãe para a Câmara dos Deputados, Nilda Gondim, filha do ex-governador Pedro Gondim. Ambos sofreram um acidente domingo último em uma carreata. Passam bem.

Ficha limpa

Hoje o STF decidirá sobre a vigência da Lei da Ficha Limpa. Alguns ministros defendem a aplicação imediata e irrestrita da lei. Mas a maioria dos ministros poderá alegar que deve obedecer ao princípio da anualidade. Ou seja, não pode retroagir para prejudicar candidaturas. Será discutida, ainda, a tese de que a inelegibilidade não é uma pena, mas um critério a se verificar na análise do registro do candidato. Expectativa geral da sociedade organizada.

"O que há de mais belo no mundo é que as pessoas não foram acabadas." (Guimarães Rosa)

Somos a opinião pública

A ciência política mexe cotidianamente com os balões da opinião pública. Que é a agregação das opiniões individuais, encadeadas por movimentos e grupos capazes de gerar influência. Entre os elos mais fortes para a formação de uma opinião mais generalizada, estão os meios de comunicação. Que difundem ideias, transmitem informações, fazem análises de problemas, denunciam situações. Ao lado dos meios de comunicação, emergem grupos organizados, cadeias e associações representativas de áreas e setores. A integração desses elos converge para a tuba de ressonância, representada pela mídia. Lula, do alto dos 80% de aprovação, proclama: somos a opinião pública. Maneira de dizer que ele tem mais poder do que a mídia. E bate bumbo.

CNI no Senado

A poderosa CNI - Confederação Nacional da Indústria deverá resgatar a bancada dos ex-presidentes no Senado. Albano Franco (PSDB/SE), depois de uma temporada na Câmara, deverá voltar à Câmara Alta. E, em Pernambuco, o ex-presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB), está passando na frente do senador Marco Maciel (DEM).

Pano de fundo

A mídia, como se sabe, exerce com ampla liberdade, suas funções de informar, interpretar, criticar, fiscalizar, opinar e combater. Mas o jornalismo implica uma categorização que deve separar notícias de opiniões. Ocorre que certos veículos passaram a misturar os gêneros. Textos de reportagens são, frequente e intensamente, opiniáticas, ou seja, carregam forte dose opinativa. A par dessa editorialização, há uma cadeia enorme de colunistas políticos que assumem posição aberta. Sob esse pano de fundo, desenvolve-se o tiroteio contra a mídia. Governantes e políticos têm criticado a maneira com que certos veículos cobrem os fatos. Pendendo para um lado. Os Poderes Executivo e Legislativo mantêm fortes restrições à mídia.

"Não deixe que seus medos tomem o lugar dos seus sonhos." (Walt Disney)

Esteio da liberdade

Mas os exageros pontuais ou eventuais não justificam o tampão com que se pretende monitorar ou controlar a mídia. Esse controle social dos meios de comunicação passou a ser uma panacéia. Ora, quem se sente prejudicado, caluniado, difamado por algum jornal, revista, emissora de rádio ou TV poderá se valer da legislação comum. Falar de controle social da mídia é lembrar a mordaça que Hugo Chávez impõe aos meios de comunicação na Venezuela. A liberdade de imprensa é o oxigênio mais puro das democracias.

2º turno em SP?

Começa a circular a projeção que abre o segundo turno em São Paulo. Perguntam-me: isso é possível? Respondo: se Mercadante garantir os 32% históricos do PT no Estado. Com esse índice e mais 14% de adversários - Celso Russomanno e os nanicos Paulo Skaf e outros - esse cenário seria bem previsível. Hoje, ainda haveria primeiro turno. Os trackings dão Alckmin com 46% e Mercadante com 27%. Vamos ver a tendência na próxima rodada de pesquisas.

Osmar e Richa

Luta brava é a que se trava no Paraná. Beto Richa, de favorito, vê Osmar Dias chegar perto dele. A campanha está empatada. Com mais 3 a 4 pontos daqui e de lá, a situação ficará ruim para o tucano.

Golpismo da mídia

A movimentação das Centrais Sindicais tendo como motivo o "golpismo da mídia" não passa de um "golpe de comunicação" para chamar a atenção. Besteirol.

Sarney, não

No Maranhão, quem diria, hein, o sobrenome Sarney está sendo evitado. Quem o evita? Roseana Sarney. Que não quer a presença do pai na propaganda eleitoral. Parece contra-senso. E é. Mas a política é cheia de curvas.

Tiririca, 1 milhão de votos

Pergunta recorrente: o que significa o voto no palhaço Tiririca. Respondo: desencanto com a política tradicional; deboche; desrespeito ao Parlamento; falta de compromisso; ausência de valores e princípios; voto no lixo; simples brincadeira; desprezo pelos políticos. O palhaço, que poderá ter 1 milhão de votos, deverá puxar mais uns 4 ou 5 candidatos. Ou seja, o eleitor vai votar em quem viu e eleger quem não viu. A política precisa mudar de patamar.

Atitude positiva

Atitude positiva e expressão afirmativa são fundamentais em política. O uso do "NÃO" é desaconselhável. O "SIM" transmite um clima de otimismo, de fé, de crença, de vida. Vejam esta historinha de um médico amigo:

Ele está sempre de bom humor. Quando alguém lhe pergunta como andam as coisas, responde : "Melhor é impossível". Indagado sobre tanto otimismo, costuma responder: "Ao acordar todos os dias, tenho duas opções - ficar mal humorado ou conservar o bom humor". Um dia, ele foi assaltado. Os assaltantes lhe deram um tiro. Acharam que ele iria reagir. Estava simplesmente em pânico. No hospital, as enfermeiras perguntavam: "Como está?" Ele: "Melhor é impossível".

Alérgico a tiros

Quando as enfermeiras começaram a perguntar, antes de prepará-lo para a operação, se era alérgico a alguma coisa, respondeu: claro que sim. As enfermeiras, de repente, pararam tudo. Aí ele respirou fundo e gritou : "Sou alérgico a balas, a tiros". Gargalhadas gerais. Sua palavra positiva o ajudou. Perguntei a ele, um dia, o que sentira por ocasião do assalto. E ele me disse: "Quando eu estava no chão, me lembrei que tinha duas opções: viver ou morrer. Escolhi a primeira". Atitude positiva!

Conselhos aos Institutos de Pesquisas

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado a todos os candidatos. Hoje, volta sua atenção aos Institutos de Pesquisas:

1. As últimas rodadas de pesquisas serão muito mais observadas pelos eleitores. Procurem aprimorar os métodos.

2. Seria útil que os dirigentes lessem e comparassem nesta reta final resultados de pesquisas de todos os Institutos para evitar disparates, descalabros e enormes diferenças de números.

3. Tenham cuidado redobrado com as chamadas pesquisas de boca de urna. Nem sempre conferem com resultados finais, deixando Institutos em maus lençóis.

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(Gaudêncio Torquato)

2 comentários:

lb disse...

"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas
– e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
Pra quê televisão? Pra quê rua? Pra quê droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra quê abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!

Anônimo disse...

Meu cara Júnior Bonfim;
Quantos homens de qualidade estão se dispondo a disputar cargos eletivos? São poucos. Em meio à despolitização, abre-se um imenso vácuo para certos personagens. Não são folclóricos. São espertos. Não têm nada a oferecer, mas usam o fato de serem muito conhecidos para puxar votos. Um deles é cearense. Chama-se Tiririca. É candidato a deputado federal por São Paulo pelo PR. O partido parece ter percebido que o palhaço pode se tornar um puxador de votos e deu-lhe a legenda e o melhor número (2222). Tiririca já virou um sucesso na internet e está na lista mundial de menções no twitter. Vejam a seguir a sua plataforma eleitoral: “Vote no Tiririca. Pior que tá não fica”. Outra: “Mais um motivo para reclamar da política no Brasil, Tiririca se elegendo”. Mais uma: “O que faz um deputado federal? Na realidade, não sei, mas vote em mim que eu te conto”. Em breve, teremos o deputado federal Tiririca, de terno e gravata a perambular pelos corredores do Congresso. Será mais um. Pelo menos é um palhaço legítimo e se apresenta como tal. Não engana ninguém.
Tudo isso que acontece dentro e fora do parlamento brasileiro é o simples reflexo das nossas ações aqui fora, se tivesse-mos nos policiado a respeito de algumas promoções que vem acontecendo isso poderia não está acontecendo; ora o que dizer de um Deputado Estadual que teve seu assessor preso com dólar na cueca e a posterior foi promovido a deputado Federal? Será se o Tiririca é realmente um palhaço? Será se nós não estamos fazendo da maior festa da democracia brasileira um momento de palhaçada, não pelo simples motivo de eleger o Tiririca, mas pelo fato de eleger aqueles que nos fazem de palhaço? Pelo menos ele é autentico enquanto outros se escondem atrás de gravata para nos fazer de coadjuvante dessa palhaçada.
Abraço;
Vieira