terça-feira, 23 de novembro de 2010

OBSERVATÓRIO


Na década de 70 do século passado, Dionísio Soares Godinho e Raimundo Nonato Bonfim disputavam a Presidência da Câmara Municipal de Crateús. O primeiro, candidato situacionista; o segundo, dissidente. As apostas indicavam que Dionísio deveria ganhar a batalha por uma diferença apertada: um voto apenas. Mas, vitória é vitória, qualquer que seja a vantagem. Por isso, impõe uma comemoração. E a festa foi preparada. Na hora da eleição, o Plenário da Câmara estava lotado. Autoridades e populares se acotovelavam para acompanhar o resultado. Àquela época, a votação ocorria assim: para cada chapa registrada, era confeccionada uma cédula eleitoral diferente. O vereador votante apenas depositava na urna a cédula de sua preferência. Nonato era o secretário da Casa. Dionísio, ao se dirigir à mesa de votação, inopinadamente tomou à mão a chapa adversária e indagou de Nonato: - Esta é a minha mesmo a minha chapa? Nonato assentiu. Na proclamação do resultado, a surpresa: Nonato sagrou-se vitorioso com um voto de diferença. O candidato Dionísio, sem o saber, deu o voto que elegeu seu concorrente. E a Dionisíaca festa foi desfeita.


CÂMARA I


As eleições para a Mesa Diretora do Parlamento Mirim de Crateús sempre se constituíram em uma caixa de surpresas. Há um açodamento da temperatura, uma agitada tensão pré-eleitoral. Amanhã haverá a escolha da Mesa que vai presidir os trabalhos legislativos pelos próximos dois anos. Ao fecharmos esta edição, estava confirmada a candidatura de Conegundes Soares. Do outro lado, falava-se no nome de Márcio Cavalcante. Projeções indicam a possibilidade de um empate: cinco a cinco. Nesse caso, o critério legal de desempate é a idade: ganha o mais velho. Conegundes conta com os benefícios da idade. Tem mais janeiros que qualquer outro membro da Casa. Márcio, por sua vez, está Presidente pela segunda vez. Há resistência dos seus pares em entregar-lhe a Presidência para um terceiro mandato. Porém, além de ser o atual maquinista da locomotiva legislativa, é o candidato do Prefeito, que joga tudo nessa disputa.

CÂMARA II

Sobre essa intervenção do Executivo na esfera interna corporis do Legislativo é que precisamos meditar. Por que o Prefeito tem que se imiscuir na eleição do Presidente da Câmara se, segundo a Constituição, os poderes são independentes? É um vírus da velha política que sempre ataca o Prefeito de plantão. Ocorreu com os outros. Ocorre com o atual. Lamentavelmente. Ora, se o Chefe do Poder Executivo trabalhar corretamente, nada deverá temer se a Câmara Municipal estiver sob o comando de um aliado ou antagonista. A relação é institucional. Aliás, um Prefeito imbuído de bons propósitos saudaria com entusiasmo a ascensão de um Presidente que não fosse chapa branca. Quando um alcaide luta adredemente para eleger um Presidente de Câmara que lhe seja servil é porque teme alguma coisa. Na raiz de todo temor está a insegurança derivada de algum erro no percurso, falha na condução ou ausência de cumprimento do princípio da transparência. Nada teme aquele que anda no caminho reto.

CIDADE

Em verdade, a cidade carece de uma grande política. Feita com P maiúsculo. Nos moldes que os gregos nos legaram: Política enquanto berço do radical “Pólis”: amor à cidade, serviço à comunidade! Ainda estamos presos à carcomida visão patrimonialista, como se a Prefeitura fosse patrimônio do grupo dirigente. A representação popular não é negócio. É sacerdócio. É serviço ao ditame coletivo; jamais satisfação do interesse do umbigo. Por isso, ao invés de tomar assento na mesa da serenidade para estudarmos os grandes e graves problemas da cidade, ainda patinamos no salão das vaidades. E esquecemos, inclusive, de nos prepararmos para datas essenciais. Exemplo? O centenário da cidade (vide Crônica ao lado).

SESC LER


Mês passado o SESC LER realizou importante evento festejando escritores locais. O nome deste escriba esteve entre os homenageados. Agradeço, de coração, a lembrança. Em relação a homenagens, sempre me recordo do brocado de que é melhor merecê-las que efetivamente recebê-las.

SOLIDARIEDADE

Sexta-feira passada, em cortejo comovente, foi levado ao cemitério São João Batista, em Crateús, o cidadão Francisco Carlos Mourão. Em agosto, havíamos lapidado uma Crônica sobre sua profícua trajetória existencial. Fui ao seu enterro simplesmente para externar aos conterrâneos que estávamos enterrando um dos homens mais dignos que a nossa cidade conheceu. Sua postura reta, altiva e vertical, sempre me impressionou. Aprendi que o homem maduro é aquele que enfrenta com a mesma serenidade tanto um terremoto de tristeza como uma explosão de alegria. Posso afirmar que, sem embargo, Carlos Mourão pisou os prados da maturidade. Nossas condolências à família, que amanhã celebra a Missa de Sétimo Dia.

PARA REFLETIR

“Que a nossa mensagem seja a nossa própria vida.” (...) “Você deve ser o exemplo da mudança que deseja ver no mundo.” (Gandhi)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

Nenhum comentário: